O Fundo Monetário Internacional (FMI) continua a aguardar pelos resultados das negociações entre Moçambique e os credores, após o Governo ter declarado incapacidade de pagar uma prestação dos títulos da dívida, disse o representante da instituição em Maputo.

“As implicações vão ter de ser vistas ao longo do tempo. Esperamos que não sejam muitas”, declarou Ari Aisen aos jornalistas, à margem da cerimónia de saudação do corpo diplomático acreditado em Maputo ao Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

Segundo o representante do FMI, “o que é importante é que essas discussões com os credores possam levar a uma solução que traga a dívida de Moçambique para uma posição sustentável nos próximos anos”. Ari Aisen considerou que o relacionamento do FMI com Moçambique “é muito positivo” e que é desejo da instituição “contribuir para que o país mantenha a estabilidade macroeconómica e possa ter um crescimento inclusivo”.

O Ministério das Finanças de Moçambique confirmou na segunda-feira que não vai pagar a prestação de janeiro, de 59,7 milhões de dólares relativos aos títulos de dívida soberana com maturidade em 2023, entrando assim em incumprimento financeiro (‘default’).

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No documento, Moçambique lembra que já tinha alertado em outubro para a falta de liquidez durante este ano e salienta que encara os credores como “parceiros importantes de longo prazo, cujo apoio à necessária resolução do processo da dívida vai ser crítico para o sucesso futuro do país”.

O incumprimento em causa surge no contexto do escândalo de mais de dois mil milhões de dólares de dívidas garantidas pelo anterior Governo, entre 2013 e 2014, a favor de companhias estatais e à revelia das contas públicas, e diz respeito aos encargos da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum), convertidos no início de 2016 em dívida soberana, num total de 726,5 milhões de dólares com maturidade a 2023.

A revelação das dívidas escondidas levou o FMI e os doadores do Orçamento do Estado a suspender os seus financiamentos a Moçambique. A 25 de outubro, o Governo assumiu oficialmente a incapacidade financeira para pagar as próximas prestações das dívidas das empresas estatais com empréstimos ocultos, defendendo uma reestruturação dos pagamentos e uma nova ajuda financeira do FMI.

A retoma da ajuda está porém condicionada às próprias regras do Fundo, que não permite ajuda a países com uma trajetória insustentável de dívida pública, que passou de 45% em 2014 para uma estimativa de 112,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado.

Um grupo representando a maioria dos credores dos títulos da dívida soberana declarou entretanto que não está disponível para renegociar até ao fim de uma auditoria independente, já em curso pela norte-americana Kroll, às empresas beneficiadas, e igualmente condição para o FMI e parceiros internacionais retomarem o apoio a Moçambique.