Um projeto que “falhou forte e feio”, umas “brincadeiras no computador” e quatro anos depois, a Infraspeak, a startup do Porto que em 2016 cresceu 282% em número de clientes e 243% em faturação, atingindo um volume de vendas superior a 140 mil euros. Por detrás do projeto que quer ser um assistente” de gestores de grandes infraestruturas, como hotéis ou hospitais, dois nomes: Felipe Ávila da Costa e Luís Martins. Onde é que isto começou? Na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Para quê? Para ajudar gestores a poupar tempo, dinheiro e stress na organização e distribuição do trabalho.

“Queremos que a Infraspeak seja a ferramenta que permite tirar as dores de cabeça dos gestores de manutenção”, explicou ao Observador Felipe Ávila da Costa.

A história da Infraspeak começa quando Felipe, 31 anos, se cruza com Luís, 29 anos, no Parque de Ciência e Tecnologia do Parque da Universidade do Porto (UPTEC). “O herói da história é o Luís, não sou eu”, nota Felipe, líder da startup, ao Observador. Brasileiro, de Porto Alegre, descendente de portugueses, chegou ao país quando tinha 15 anos, altura em que avô o “desafiou” a estudar em Portugal. Optou por Engenharia Informática, na FEUP, e foi ficando. Antes da Infraspeak teve um projeto que “falhou forte e feio”, assume. O falhanço levou-o à UPTEC, onde durante cinco anos deu apoio a startups.

Foi na incubadora do Norte que encontrou Luís, que já em criança gostava de fazer algumas “brincadeiras no computador”. Acabou por ir parar à Engenharia Civil, mas a paixão pela informática acompanhou-o. No projeto final de curso, “as coisas encaixaram-se umas nas outras” e criou um software para dar apoio na área da engenharia civil, nomeadamente na área da manutenção.

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O meu pai era gestor de manutenção e um dos meus professores favoritos era professor de manutenção. No final do curso, fui desafiá-lo a propor-me um tema, porque o que gostava era de informática. Acabei por fazer uma prova de conceito, na qual era possível usar identificadores sem fios para identificar partes construtivas de um edifício e proceder à sua manutenção”, conta Luís Martins ao Observador.

Quando foi para a UPTEC, Luís foi desafiado a aplicar o software na gestão dos 16 edifícios que fazem parte do complexo da faculdade. Foi lá que se uniu a Filipe e que percebeu que havia espaço no mercado para oferecer a tecnologia que tinha vindo a desenvolver nos últimos três anos a mais clientes. Em abril de 2015, deram-lhe um nome e com capitais próprios lançaram a empresa que, em 2016, mais do que triplicou as receitas.

Passar do Excel e do papel para a Web

O que é, afinal, a Infraspeak? Imagine um hotel médio, de 300 quartos, onde todos os dias as equipas de limpeza e de manutenção têm cerca de 450 tarefas para executar: arrumar quartos, trocar uma lâmpada num corredor ou arranjar um ar condicionado. E tudo sob o olhar do gestor de manutenção. O que a empresa do Porto faz é traduzir toda a calendarização e organização desse trabalho numa plataforma digital.

“É uma ferramenta web que tem um interface de gestão onde se fazem todo o planeamento e controlo do dia a dia das operações. Tem uma aplicação móvel para os técnicos e equipas de serviço doméstico no terreno”, explica. Assim, os gestores conseguem perceber “o que é que os técnicos estão a fazer, que avarias há, se os planos estão a ser cumpridos ou não e porquê. É uma gestão centralizada, mais em tempo real do que acontecia antigamente, quando dependia mais do papel, chamadas e emails”, acrescenta Luís Martins.

A Infraspeak conta atualmente com 45 clientes em Portugal, em Angola e no Brasil, num total de mais de 62 mil avarias sob gestão em quase 72 mil equipamentos de 2.600 edifícios de empresas como as cadeias de hotéis Vila Galé, Intercontinental, Four Views e Holiday Inn Express, as redes de lojas da Agência Abreu e da Unilabs, ou empresas de assistência técnica como a Fernando Martins, a Frostline e a Nonio Hiross.

E como é que se faz crescer três vezes mais num ano? “Na prática é perceber o problema do cliente. O problema que nós ajudamos a resolver”, considera Felipe. Em grandes infraestruturas, como um centro comercial, há centenas de milhares de tarefas que são executadas num ano “O que acontece hoje é que grande parte do mercado ainda utiliza Excel e papel para gerir esses processos, tornando-o muito ineficiente e muitas vezes com falhas”, explica Felipe Ávila da Costa.

Com a tecnologia desenvolvida pela Infraspeak, quando um técnico tem de intervir num equipamento tem acesso à informação que precisa: lista de tarefas, ficha técnica dos equipamentos, histórico de intervenções, manuais, plantas através de smartphone ou de um tablet.

A aplicação, na prática, é como um assistente do técnico. Ao mesmo tempo, como faz isso através de uma aplicação, temos acesso a uma série de informações que vamos guardando, como tempos, desempenhos, custos e com isso conseguimos gerar automaticamente relatórios operacionais e indicadores para a gestão”, explica o líder da Infraspeak.

Inglaterra, Espanha e Estados Unidos em 2017

Até há seis meses, a startup estava em modo bootstrap, ou seja, a financiar-se recorrendo a capitais próprios. “Nós acreditamos que a melhor forma de financiar startups é fechar clientes. Há cerca de seis meses, quando tínhamos o produto já maduro, fazia sentido para nós crescer mais rapidamente”, nota Felipe.

Em 2016, participaram no programa de aceleração de startups da Beta-i, o Lisbon Challenge, e e de julho a novembro, num dos programas de aceleração mais reconhecidos do mundo em São Francisco, nos Estados Unidos, da aceleradora norte-americana 500 Startups.No total, a Infraspeak recebeu cerca de 250 mil dólares (230 mil euros) em investimento da Caixa Capital e da 500 Startups.

“Foi nesse sentido que fomos buscar parcerias com investidores para nos permitir voltar a pôr gasolina no motor, ou seja, contratar mais pessoas, mais pessoas boas. As pessoas trouxeram um melhor produto. O produto trouxe mais clientes e por aí fora”, nota Felipe.

O objetivo da Infraspeak é o de “ser a plataforma de referência a nível mundial” na área da gestão de manutenção. Só estamos em três dos 204 países, temos muito caminho pela frente”, nota. Para 2017, Felipe Ávila da Costa adianta que estão em “conversações” com outros mercados europeus, nomeadamente em Inglaterra e Espanha, e que o objetivo passa também por abrir o mercado americano. Além disso, Felipe quer continuar a “reforçar a equipa e a crescer”.

A empresa quer “continuar a apostar na diferenciação tecnológica” do produto. Uma das áreas que vai crescer muito nos próximos tempos, prevê Felipe Ávila da Costa, é a utilização de sensores, o chamado IoT (Internet of Things), para “otimização de processos, como o registo de temperaturas, de todo o tipo de indicadores que permitam tratar dos problemas de forma mais eficiente”.

O passo seguinte é também a expansão do produto para a área da inteligência artificial e Big Data. “A partir do momento em que temos muitos sensores a dar muita informação, podemos pegar nela e tentar tirar inferências, conclusões, a partir dos dados que são gerados e, no limite, a nossa visão é conseguir prever quando é que os equipamentos vão avariar”, remata Felipe Ávila da Costa.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.

Editado por Ana Pimentel