Marcelo Rebelo de Sousa fez gala de fazer uma campanha nas Presidenciais de 2016 sem o apoio de máquinas partidárias. Agora, na comemoração de um ano das eleições, o Presidente da República convidou o seu staff, mandatários e coordenadores distritais de campanha para um encontro em Belém seguido de um jantar no próximo dia 24 de janeiro. Os diretores distritais e regionais de campanha Marcelo, agora convidados para o jantar, eram dirigentes das estruturas locais e distritais do PSD. A máquina partidária que supostamente não existia, vai jantar a convite do Presidente à Messe da Força Área, em Monsanto.
Alguns destes colaboradores, quando contactados pelo Observador, explicaram que não gostaram de ver na altura Marcelo a desvalorizar a intervenção do PSD, quando na verdade a “máquina laranja” esteve sempre mobilizada no apoio ao antigo líder do partido. O Observador teve acesso ao convite que o Presidente da República fez chegar a estes colaboradores que tinham funções importantes nas estruturas locais do PSD, embora não sejam figuras de topo.
O facto de os coordenadores/diretores de campanha serem figuras menos conhecidas, fez com que alguns passassem despercebidos da comunicação social durante a competição eleitoral, onde foram raros os artigos a explicitar a influência do partido. A maioria das peças jornalísticas falava na “campanha low-cost“, de um “homem só”, da “independência” e da ausência das máquinas partidárias.
Em plena campanha, numa sessão pública na Lourinhã, a 13 de janeiro de 2016, o “professor” tentou afirmar a genuinidade e independência da campanha, utilizando um tom de ironia para se referir aos outros candidatos, que fingia citar.
Ah, mas que campanha tão esquisita que o homem está a fazer, sem aparecer com séquitos à frente e séquitos atrás, com uma sanduíche ao almoço, essa campanha da marmita, tão solitária, tão despojada. Isso é com certeza artificial…”, ironizava Marcelo Rebelo de Sousa.
A lista de coordenadores/diretores da campanha eleitoral de Marcelo Rebelo de Sousa pode ver-se no quadro em baixo. O Observador confirmou que alguns dos dirigentes partidários mencionados foram convidados para o jantar (não foi possível confirmar todos os nomes), onde se pode constatar a ligação que tinham nessa época ao PSD.
Embora servissem de apoio à campanha, estes dirigentes do PSD não faziam intervenções nas sessões públicas, não eram puxados para a frente das arruadas pela comitiva. Esse papel ficou para os mandatários distritais, esses sim, figuras da sociedade civil, como a designer Guta Moura Guedes ou da provedora da Santa Casa da Misericórdia do Marco de Canaveses, Maria Amélia Ferreira (uma das pessoas que mais acompanhou Marcelo). A imagem da campanha sem partidos estava assim salvaguardada.
Pedro Duarte, diretor de campanha e ex-líder da JSD também foi convidado por Marcelo Rebelo de Sousa para o jantar, embora não seja certo que os assessores que transitaram da equipa eleitoral para Belém venham a estar presentes. Durante a campanha, o contacto com os líderes dos partidos que o apoiavam foi evitado (Paulo Portas e Passos Coelho) e não apareceram na campanha. O mais alto dirigente com quem Marcelo se encontrou foi com o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, numa pastelaria em Espinho (na foto). Por exemplo, quando o antigo dirigente do PSD, Ângelo Correia, apareceu de surpresa numa ação de campanha no Centro de Medicina e Reabilitação no Centro de Educação para o Cidadão Deficiente, em Mira Sintra (local onde trabalha a Laura Ferreira, mulher de Passos Coelho), Marcelo Rebelo de Sousa praticamente ignorou-o.
O jantar realiza-se na Messe da Força Aérea em Monsanto, foi onde Marcelo Rebelo de Sousa almoçou com Marcello Caetano depois das eleições para a Assembleia Nacional em outubro de 1969. O presidente do Conselho convidou Marcelo, então com 20 anos, e outros jovens em quem confiava como João Salgueiro, Freitas do Amaral, Miguel Galvão Telles, Jorge Tavares Rodrigues e Caetano Carvalho. Marcello Caetano queria ouvir o “esclarecido jovem Rebelo de Sousa” e os restantes sobre a criação de partidos políticos em Portugal. Todos disseram que sim. O agora Presidente da República terá defendido “a criação de associações cívicas, que a seu tempo evoluíssem para partidos políticos.” Resta saber, se durante o jantar, Marcelo contará esta história à equipa que o apoiou na estrada.