O responsável pela delegação dos Açores da Associação dos Lesados do Banif disse este sábado que estes devem ser ressarcidos dos seus valores tal como aconteceu no caso do BES, não podendo haver “dois pesos e duas medidas”.

“Não estou a referir-me a igualdade de percentagens, mas se vão ressarcir os lesados do BES também têm que o fazer em relação aos lesados do Banif, em termos que vamos negociar”, declarou à agência Lusa Carlos Presunça.

Os lesados do Banif preencheram, em Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, reclamações para enviar à Comissão de Mercados de Valores Mobiliários (CMVM).

O responsável disse que o cenário ideal para os lesados do Banif era “receber o que pusemos lá”, referindo, no seu caso específico, que “já basta perder os juros”.

“Quero receber todo o meu dinheiro, que não foi roubado. E o dinheiro que todas as pessoas investiram nas poupanças, que fizeram ao longo da vida, é mais do que justo ser devolvido”, referiu.

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Carlos Presunça explicou que os lesados vão “tornar a fazer uma reclamação” para comprovar que não foram “investidores qualificados”.

“Fomos aforradores comuns, conservadores. Cerca de 90% destas pessoas nem sabem o que é comprar ações ou seja o que for em produtos em bolsa”, referiu o responsável, que acrescentou estar a CMVM convicta de que os lesados “não foram enganados no que compraram”.

No caso específico dos Açores, Carlos Presunça estima que estejam em causa mil lesados.

Em dezembro, os lesados manifestaram a expectativa de que o Governo encontre uma solução em 2017, depois da solução encontrada no ano passado no caso do Banco Espírito Santo (BES).

“A minha expectativa era que a solução fosse encontrada até ao fim do ano, mas é impossível, não é? Vamos a ver em 2017. Acho que sim, que há todas as condições para se resolver. Tem de se resolver”, afirmou Carlos Presença à agência Lusa, acrescentando que sempre achou que “enquanto o caso BES não fosse resolvido, ninguém iria resolver o caso Banif”.

Em 20 de dezembro de 2015, o Governo e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif — Banco Internacional do Funchal — com a venda de parte da atividade bancária ao Santander Totta, por 150 milhões de euros, e a transferência de outros ativos, incluindo ‘tóxicos’, para a nova sociedade veículo.

Em fevereiro, o presidente da Comissão Executiva do Santander Totta disse, nos Açores, após uma audiência com o presidente do Governo Regional, Vasco Cordeiro, que estava a ser estudada a situação dos clientes do ex-Banif subscritores de obrigações subordinadas, que totalizam 3.500 em todo o país com valores de 263 milhões de euros.

Desde o início de 2017 que o grupo de trabalho dos lesados do papel comercial se reúne regularmente para operacionalizar a solução encontrada no final do ano passado para compensar os mais de 4.000 clientes que investiram, aos balcões do BES, 434 milhões de euros em papel comercial das empresas Espírito Santo Financial e Rio Forte, do Grupo Espírito Santo (GES), poucos meses antes do colapso deste.

Os clientes que aceitem o mecanismo proposto irão recuperar 75% do valor investido, num máximo de 250 mil euros, isto se tiverem aplicações até 500 mil euros.

Já acima desse valor, irão recuperar 50% do valor investido.