Há um provérbio — alemão, justamente — que diz que “é melhor um fim horrível do que um horror sem fim”. Após meses de “horror sem fim”, em que o Deutsche Bank sempre garantiu que não precisaria de fazer mais um aumento de capital, o banco cedeu finalmente e anunciou, este fim de semana, um aumento de capital volumoso – oito mil milhões de euros. O aumento de capital, o quarto desde 2010, será penalizador para os acionistas mas pode marcar o início de uma nova era no Deutsche Bank. O presidente do banco diz que a situação económica nos EUA e na Europa “parece robusta” e, portanto, está “razoavelmente confiante em relação ao futuro”.
No verão passado, quase todos os analistas diziam que o Deutsche Bank não teria alternativa que não voltar a chamar os investidores a injetarem capital na instituição. A administração garantia que esse aumento de capital não seria necessário e, à medida que as ações desciam para mínimos sucessivos, continuou a negociar com as autoridades norte-americanas um acordo para arrumar com o processo judicial ligado à venda irregular de créditos hipotecários durante a bolha do subprime. Ao mesmo tempo, prosseguia a reestruturação operacional para tornar o banco mais eficiente (outra área em que os analistas pediam mais esforços ao banco).
O próprio presidente do banco, John Cryan, reconhece agora que nessa altura “vários investidores e contrapartes” mostravam relutância em fazer negócios com o Deutsche Bank, dada a incerteza em torno do futuro do banco. Em entrevista à Bloomberg TV, uma das entrevistas cuidadosamente organizadas para explicar a decisão a tempo de os mercados abrirem esta segunda-feira, Cryan diz que isso mudou nos últimos meses — o calvário dos juros baixos (do ponto de vista dos bancos) parece estar a terminar e sobretudo desde a eleição de Donald Trump nos EUA as perspetivas para a banca global estão melhores.
O facto de o italiano Unicredit ter conseguido fazer um aumento de capital com sucesso foi um sinal de que voltou a existir maior apetite dos investidores para apostar em ações da banca. O Deutsche Bank decidiu avançar.
“Temos estado a ouvir o que nos dizem os participantes no mercado, sugerindo que não temos capital suficiente. Temos uma almofada grande em relação aos mínimos regulatórios, mas os nossos custos do capital e do financiamento ainda eram muito elevados”, afirmou John Cryan em entrevista à CNBC.
O aumento de capital vai permitir que o banco já não venda o Postbank, uma unidade rentável de banca comercial/consumo. Para evitar vender esse banco, cuja alienação estava a ser preparada há vários anos, “precisávamos de capital”. Uma coisa juntou-se à outra e “achámos que era a altura certa para o fazer”, explicou o presidente-executivo do banco, reconhecendo que “há um ano seria muito mais difícil fazermos esta operação”.
As ações do Deutsche Bank na bolsa de Frankfurt abriram a cair, apesar dos esforços da administração, mas a queda está a ser considerada moderada pelos analistas. Os títulos estão a cair 5,9% para 18,02 euros — uma descida que deve ser lida à luz do facto de as ações se terem valorizado em mais de 40% nos últimos seis meses. Essa valorização das ações na bolsa foi um fator decisivo para avançar com o aumento de capital.
Queremos regressar a um modelo de crescimento moderado, um crescimento controlado”, diz John Cryan.
Este será o quarto aumento de capital no Deutsche Bank desde 2010 e irá, inevitavelmente, levar a mais saídas de pessoal — mas John Cryan diz que as dispensas irão concentrar-se na Alemanha, no âmbito da “reintegração” do Postbank.
Do ponto de vista dos acionistas, a diluição que estes irão sofrer “é enorme”, diz Michael Huenseler, investidores da Assenagon Asset Management, acionista do banco. “Mas, ao mesmo tempo, esta operação deverá colocar um ponto final àquilo que tem prejudicado o Deutsche Bank nos últimos tempos: as considerações sobre a sua posição de capital. Agora cabe ao banco demonstrar que consegue ser rentável”, afirma o especialista, citado pela Bloomberg.