Os jornalistas espanhóis que escrevem sobre o Podemos queixam-se de “bullying” por parte de pessoas próximas do líder, Pablo Iglesias, e falam tanto de mensagens de texto, como de conversas cara a cara, que consideram ser “intimidatórias”.
Um dia depois de a Associação de Imprensa de Madrid ter emitido um comunicado onde acusava o Podemos de “assédio” contra jornalistas, o El País conta a história de alguns profissionais que dizem ter sido sujeitos a pressões por parte daquele partido de esquerda populista.
Segundo o El País, há mensagens de texto onde políticos do Podemos chamam de “parvo” a jornalistas, umas onde lhes escrevem ameaças como “se escreves isso vou destruir-te” e também outras onde dizem coisas “não se pode tirar algo de um sítio onde não há nada” — uma expressão idiomática usada para falar de alguém pouco inteligente. Algumas mensagens chegam a ter emoticons com o desenho de uma pistola, escreve o El País.
“Compreendo que todas as profissões têm as suas dificuldades, mas escrever sobre o Podemos exige que tu sejas um herói todos os dias”, disse um jornalista ao El País. “Evidentemente, está em causa a liberdade de imprensa e isso comporta um desgaste a terrível a nível pessoal, por que estás a lidar com bullying, ameaças e um assédio terríveis diariamente”, disse. O mesmo jornalista diz que os responsáveis políticos do Podemos querem “deslegitimar o jornalismo ao ponto de qualquer crítica sobre eles [o Podemos] seja ilegítima”.
Outro jornalista diz que os ataques mais incisivos não partem dos líderes partidários, mas que estes dão uma espécie de luz verde ao “colocarem um jornalista numa posição desconfortável com piadas” em situações públicas. Depois disto, explica, seguem-se ataques por parte de um “exército de trolls“.
O Podemos diz que “é rotundamente falso que se exerça qualquer tipo de intimidação ou ameaça a partir do Podemos” e que não pode controlar as ações de indivíduos que não estão ligados ao partido.
Na segunda-feira, a porta-voz do Podemos no parlamento espanho, Irene Montero, reagiu ao comunicado da Associação de Imprensa de Madrid dizendo que o que é realmente preocupante é os jornalistas se autocensuram com “medo de serem despedidos”. “Estou surpreendida por isto ser tornado público sem ter uma reunião, porque talvez pudéssemos esclarecer o assunto antes”, acrescentou Irene Montero, citada pelo ABC.