Foi apresentado, esta terça-feira, no Museu da Água, em Coimbra, o projeto Rio Mondego que pretende prever a ocorrência de eventuais cheias na cidade através da análise constante dos níveis da água. A ideia de criar o projeto Rio Mondego surgiu depois das cheias que ocorreram no ano passado na cidade de Coimbra.
Através da instalação de, pelo menos, cinco sensores ultrassónicos ao longo do caudal do rio Mondego, Cristiano Alves, Rui Sousa e Tiago Custódio, três estudantes do departamento de Engenharia Eletrotécnica e Computadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Os dispositivos utilizados funcionam a energia solar e têm uma bateria capaz de aguentar até três dias sem ser carregada. O projeto foi desenvolvido no Vodafone Power Lab – programa de incentivo à inovação e ao empreendedorismo -, recorrendo a sensores ultrassónicos capazes de monitorizar, ao minuto, o caudal do rio Mondego e transmitindo diretamente essa informação para ser analisada. A plataforma está a ser desenvolvida pelos membros da equipa e utiliza algoritmos de inteligência artificial para fazer a análise dos dados recolhidos.
“Se detetarmos o aumento da entrada das águas, é possível prevenir o que vai acontecer mais tarde”, explicou Rui Sousa durante a apresentação do projeto. O processo de monitorização é simples: os dispositivos colocados nas margens do rio utilizam um sensor ultrassónico capaz de medir as diferenças no nível da água, a cada minuto, enviando esses dados logo de seguida para um servidor na cloud.
Os dados serão utilizados para, em tempo real, manter um registo dos níveis do caudal do rio “através de gráficos simples e de fácil leitura para que as pessoas possam conhecer tudo o que se está a passar”, avança Rui.
O hardware utilizado neste primeiro protótipo foi inteiramente desenvolvido pela própria equipa que também suportou a totalidade dos custos de construção. Segundo os três estudantes, cada aparelho tem um custo de produção de cerca de 200 euros, quando construido individualmente, e consegue manter-se estável e saudável durante, pelo menos, três anos.
Atualmente apenas se encontra montado um dispositivo, junto ao Museu da Água, mas o objetivo é colocar outros quatro nas zonas de Aguieira/Raiva, Alva, Ceira e Açude para conseguir controlar as entradas de fluxos de água. “Até dezembro esperamos ter o sistema a funcionar em pleno”, revela a equipa que planeia testar os cinco equipamentos durante um ano, apresentando um potencial enorme para ser levado a outros países.
O projeto não vai substituiu os meios de alertas, sendo utilizado apenas para que as entidades responsáveis possam prever quando devem, de facto, lançar o alerta de uma possível subida perigosa do nível da água no rio Mondego. “Depois da recolha dos dados, os alertas serão dados pela proteção civil e não por nós”, no entanto, este é um processo que só decorrerá numa fase mais avançada.
Mais tarde, a startup de Coimbra pretende implementar novos sensores que possibilitem saber, por exemplo, o pH da água, a temperatura e a pluviosidade – quantidade de chuva que cai em determinado local.
As cheias do ano passado provocaram estragos, em Coimbra, de cerca de 2,5 milhões de euros. As causas principais que levam às inundações do Mondego – quinto maior rio português – são os danos causados por incêndios florestais, precipitação intensa e o assoreamento (acumulo de detritos, lixo, entulho ou outros materiais no leito) do rio.
O Vodafone Power Lab começou a apoiar este projeto há um ano numa altura em que a Internet of Things (IoT, que em português se traduz para Internet das Coisas) é apontada como uma das mais disruptivas revoluções potenciadas pela Internet e um dos pilares da revolução industrial digital. O objetivo o Power Lab é o de fomentar a criação de projetos tecnológicos, apoiando na incubação, mentoria, formação e fornecendo condições de trabalho às startups que estão agora a iniciar o seu percurso.
O Observador viajou a Coimbra a convite da Vodafone.