A organização separatista basca ETA revelou às autoridades francesas a localização de oito depósitos de armas, em cumprimento do compromisso unilateral e sem condições de desarmamento que é assinalado este sábado em Bayonne, cidade francesa na fronteira com Espanha.
A informação está a ser avançada pelo jornal El Mundo que cita Ram Manikkalingam, presidente da comissão de verificação internacional. Este ato “privado” de entrega de armas representará a rendição da ETA, o movimento que lutou pela independência do País Basco, com recurso a atentados terroristas.
Fontes consultadas pelo El Mundo indicam que terão sido identificados, através de referências de geolocalização (coordenadas de GPS), oito locais com depósitos de armas, localizados junto aos Pirenéus Atlânticos no departamento 64 da França. Inicialmente, tinha sido indicado que haveria 12 locais secretos. O mesmo jornal avança entretanto que nos locais indicados estarão 120 armas, três toneladas de explosivos e milhares de detonadores e munições.
No entanto, e segundo contas feitas pelas forças de segurança, esta entrega de armas não envolverá a totalidade das 350 pistolas roubadas num assalto ao arsenal de Vauvert em 2006.
O ministro francês da Administração Interna, Matthias Fekl, considerou, em declarações à imprensa em Paris sem perguntas, que a entrega “unilateral” da localização de oito depósitos de armas por parte da ETA é “um grande passo”. “Esta etapa de neutralização de um arsenal de armas e explosivos é um grande passo” e um “dia, sem dúvida, importante”, afirmou Matthias Fekl, citado pela agência AFP.
O responsável governamental francês revelou que elementos das forças de segurança francesas, seguindo a orientação da Justiça, trabalham desde as 09:00 (08:00 de Lisboa) de hoje nessas oito localizações na região dos Pirenéus Atlânticos.
No entanto, esta iniciativa unilateral e organizada por movimentos não oficiais está a ser olhada com desconfiança pelos governos espanhol e francês que recusam contribuir para o que consideram ser o branqueamento do passado da ETA, que acusam de ter morto mais de 800 pessoas. Políticos e forças de segurança estiveram entre os principais alvos dos atentados da organização que em 2004 chegou a ser apontada pelo então Governo de José Maria Aznar, como responsável pelos atentados de Madrid que provocaram mais de 190 mortos. Este ataque acabou por ser reivindicado pela Al Quaeda.
A entrega da localização dos arsenais foi promovida pela Comissão Internacional de Verificação (CIV), uma organização independente que não é reconhecida por Madrid e Paris. O executivo de Madrid declarou na sexta-feira que “não espera nada” da cerimónia para assinalar o desarmamento da ETA, assegurando que a organização separatista basca “não terá nenhum benefício político”.
A organização tinha recusado o desarmamento e dissolução, pedidas por Madrid e Paris, exigindo o início de negociações para libertar os seus membros presos (cerca de 360, dos quais 75 em França). No entanto, a 17 de março deste ano, a ETA anunciou que ia proceder hoje ao seu desarmamento “total e sem condições”.
A organização foi criada em 1959, durante a época da ditadura franquista, mas só renunciou à luta armada em 2011, depois de mais de 40 anos de atos de violência em nome da independência do País Basco e de Navarra e de a cooperação entre a Espanha e a França terem imposto a sua derrota militar.
As cerimónias começam às 10:30 (09:30 em Lisboa) com a projeção no cinema Atlanta da curta-metragem “A paz agora, uma exigência popular”, do realizador Thomas Lacoste, que aborda o processo de desarmamento da ETA através do grupo Louhossoa, os autodenominados “artesãos da paz”.
Depois da estreia do filme, terá lugar na mesma sala um colóquio com Thomas Lacoste, o professor de Direito Jean-Pierre Massias e o juiz e membro do comité de Direitos Humanos das Nações Unidas Louis Joinet.
Às 12:00 (11:00 em Lisboa) haverá uma mesa redonda numa tenda instalada junto à esplanada Roland Barthes com a participação do ex-conselheiro basco e atual porta-voz da organização a favor dos presos da ETA Sare, Joseba Azkarraga, a antropóloga membro do Foro Social permanente Aitzpea Leizaola e o ex-juiz e assessor das Nações Unidas Philippe Texier.
Finalmente, às 15:00 locais (14:00 em Lisboa) está prevista a realização de uma “grande concentração” de cidadãos.