Centenas de habitantes da vila de Almeida, no distrito da Guarda, manifestaram-se quarta-feira contra o fecho da agência da Caixa Geral de Depósitos naquela povoação. Horas mais tarde, a 358 quilómetros de distância, Paulo Macedo foi à Assembleia da República, na rua de São Bento, em Lisboa, prometer aos deputados que as populações vão continuar a ser “acompanhadas” pelos serviços do banco público — dando algumas ideias inovadoras, como uma Caixa Móvel, que está em preparação e à espera de autorizações. Mas o presidente da Caixa sublinhou que não basta recapitalizar (o banco público) se, depois, não se torna a operação rentável. A Caixa não é rentável — 2017 deverá ser o sétimo ano de prejuízos — e, sublinhou Paulo Macedo, também não é viável neste momento.

O PCP, que trouxe para o debate o caso da vila de Almeida, também ironizou que se tenha criado uma Comissão de Inquérito Parlamentar para discutir as necessidades de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos quando, por sinal, teria sido suficiente uma sessão “de algumas horas” num final de tarde de quarta-feira. Convocado pelo PSD, Paulo Macedo foi ao Parlamento — à Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa — falar sobre as contas da Caixa: as passadas e, sobretudo, as futuras.

Hábil, Paulo Macedo resistiu às duas tentativas, uma da esquerda e outra da direita, para tornar o debate “politizado” ou, melhor, “partidarizado”. Primeiro, Inês Domingos, do PSD, quis ouvir da boca de Macedo em que anos é que foram concedidos os principais créditos cujas perdas foram, agora, reconhecidas. Depois, Miguel Tiago, do PCP, perguntou a Macedo se o Governo anterior (a que Macedo pertencia, como ministro da Saúde) deixou a Caixa como um “banco zombie“: descapitalizada apesar da injeção que foi feita em 2012. Ao primeiro desafio, Macedo lembrou que os erros da Caixa foram, também, os erros de outros bancos. E ao segundo: “a posteriori podemos sempre dizer que podíamos ter feito diferente…”

Um “boneco” do que poderá ser a Caixa Móvel, diz Paulo Macedo

Os deputados queriam falar de capital. Paulo Macedo quis falar de rentabilidade. Porque se o banco não for rentável, a tendência será para o capital se ir deteriorando, o balanço se ir reduzindo, e o banco se tornando insustentável.

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Uma das principais ideias que Macedo quis deixar é que “a capitalização da Caixa seria sempre necessária“, após vários anos de prejuízos e necessidades de capital regulamentar cada vez maiores. “Entre 2012 e 2016/2017, as exigências de capital aumentaram 3 pontos percentuais, são 1.600 milhões de euros em capital. Mesmo sem imparidades, a Caixa teria de aumentar o capital nessa medida”, afirmou Paulo Macedo, explicando que as necessidades não se devem apenas a crédito malparado e imparidades.

E o que é que, também, ajuda a explicar os prejuízos? A Caixa tem o rácio cost to income pior da banca portuguesa, numa referência ao rácio que mede a eficiência resultados-custos. Trocado por miúdos, a Caixa é o banco menos eficiente do país, com custos de estrutura incomportáveis para a sua capacidade de gerar resultados.

Eu não confundo é ser [um banco] público com ter de dar prejuízo“, salientou Paulo Macedo, defendendo que “as condições do plano são duras, mas a alternativa era a resolução do banco“. O plano de rescisões amigáveis arranca ainda em abril, adiantou o presidente da Caixa. E lembrou que, apesar de haver planos para fechar agências em que, em alguns casos, três quartos das operações feitas são atualizações de caderneta, “a Caixa vai continuar a ser o banco com maior número de agências em Portugal”.

“CGD tem de dar mais crédito. Sem cometer os erros do passado”

A Caixa ficou com capital a mais? “O banco fica com um rácio de capital de 12%, o que corresponde aos mínimos dos pares europeus da Caixa — a Caixa não apresenta capital a mais, na opinião da administração. Tem diversos fatores de risco”, diz o presidente da Comissão Executiva da Caixa.

Paulo Macedo diz que a Caixa ficou com o capital suficiente para ter uma hipótese de ter um futuro melhor. E o objetivo é crescer, conceder mais crédito às PME e menos às grandes empresas e ao Estado. “A CGD quer dar e tem de dar mais crédito, mas sem cometer os erros do passado“, afirmou Paulo Macedo, sublinhando as “mudanças profundas” no mecanismo de concessão de crédito da Caixa, de um modelo mais “comercial” para um modelo mais de “análise de risco”.

“O plano responde às grandes questões, passa por maior solidez, maior eficiência, maior foco operacional”, concluiu Paulo Macedo, dizendo que a sua administração assumiu o plano depois de algumas reuniões com António Domingues, seu antecessor. Reuniões “superficiais”, garante, “porque ambos quisemos que assim fossem, sem troca de documentos”.