(artigo retificado com comparações com leilões anteriores)
O Estado português obteve esta quarta-feira 1.250 milhões de euros numa emissão dupla de dívida a 10 e a cinco anos. No prazo de referência, mais longo, a taxa foi de 3,386%, que se pode comparar com os 4,2% que o Estado pagou a 10 anos numa emissão sindicada em janeiro. No mês passado, o Estado leiloou dívida com um prazo a 8 anos e pagou 3,3%, de onde se infere uma descida dos juros porque o prazo foi mais longo esta manhã. No prazo mais curto os custos também baixaram, de forma acentuada.
Na anterior emissão de longo prazo, a 8 anos, feita a 12 de abril, o Estado tinha-se comprometido com o pagamento de uma rendibilidade de 3,303%. No início do ano, o Estado chegou a pagar uma taxa de 4,2% para se financiar a 10 anos.
O Estado colocou, também, 618 milhões em dívida a cinco anos, com as taxas a caírem para os 1,83%. No prazo a cinco anos, a última emissão comparável em leilão foi em abril: os juros foram de 2,17%.
Os títulos em causa são obrigações com maturidade em outubro de 2022 e em abril de 2027, a atual linha de referência do Estado português para o prazo a 10 anos.
Em ambos os leilões, a procura por parte dos investidores subiu, em relação aos montantes colocados pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP). A procura excedeu a oferta, em ambos os casos, em cerca do dobro.
Com a confirmação da vitória de Emmanuel Macron nas eleições francesas, evitando uma presidência de Le Pen que poderia causar uma forte aversão ao risco entre os investidores, a dívida portuguesa obteve uma descida dos juros em relação às emissões anteriores, depois dos valores elevados do início do ano. Tendo em conta os níveis elevados (mais de 4%) do início do ano, a recuperação tem sido assinalável. Mas mais descidas dos juros estariam dependentes de subidas de rating, que tardam em surgir e não parecem iminentes.
Em comentário distribuído pelas redações, Filipe Silva, diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa, diz que “após o resultado das eleições francesas, há uma sensação maior de segurança quanto à solidez da União Europeia. E creio que foi essa redução do risco político, que antes penalizava mais os países da periferia da Europa, que agora acaba por ajudar”.
Estamos numa fase em que, a seguir ao Brexit, seria fatal um resultado eleitoral que alimentasse a ideia de mais um país a abandonar a Zona Euro ou a UE. De certa forma, regressou alguma confiança ao mercado de dívida portuguesa, que face à falta de alternativas de rendimento, consegue atrair interessados”.