Os automóveis eléctricos convidam – e em alguns casos até obrigam – a uma utilização mais calma, sobretudo quando comparada com os seus congéneres a gasolina ou a gasóleo. As velocidades médias são inferiores, as acelerações menos bruscas e até as travagens são mais progressivas, tudo visando uma melhor exploração da capacidade da bateria, a fim de optimizar a autonomia.
É certo que os carros eléctricos ainda são uma novidade no nosso mercado, não havendo um histórico que permita às companhias de seguros concluir sobre o risco de acidente dos modelos movidos a electricidade, quando comparados com os restantes. Mas será que esse factor novidade se vai reflectir no valor da apólice, quando em causa estiver solicitar um seguro para um automóvel eléctrico, face às motorizações convencionais com preços similares?
Para tirar as nossas dúvidas a limpo, realizámos dois comparativos, ambos com a colaboração da empresa Compara Já, especialistas na matéria. No primeiro trabalho opusemos o Tesla Model S – a referência no domínio dos eléctricos – aos seus principais rivais no segmento das berlinas de luxo, todos eles com um capital seguro similar e em torno dos 90 mil euros. Audi A6, BMW Série 5 e Mercedes CLS enfrentaram assim o seu rival que devora quilowatts em vez de combustíveis fósseis.
No segundo comparativo baixámos a fasquia para cerca de 20 mil euros, com o Renault ZOE – o eléctrico mais vendido na Europa – a enfrentar o Renault Clio, veículo de dimensões similares, mas com motorizações a gasolina e a gasóleo, para tentar perceber qual o combustível mais penalizado junto das empresa seguradoras.
Em ambos os casos, batemos à porta de seis seguradoras, visando um leque tão diversificado quanto variado de respostas, tendo mesmo incluído representantes do segmento low cost para ver até que ponto estão à altura da sua reputação de seguradoras baratas.
Tesla contra Audi, BMW ou Mercedes: quem paga mais?
Para um perfil de condutor com 34 anos, residente no Porto, com carta de condução deste o ano 2000 e sem histórico de sinistralidade rodoviária, seleccionámos quatro veículos tão equilibrados quanto possível em matéria de preços: Tesla Model S, com um preço de venda ao público de 87.084€, Audi A6 por 91.232€, BMW Série 5, transaccionado por 90.404€, e Mercedes CLS por 90.743€.
Direct, Allianz, Fidelidade, Ageas, Liberty e Lusitânia foram as seis companhias seleccionadas e cujos prémios de seguro foram comparados. As coberturas que oferecem podem ser analisadas através da tabela, sendo o mais interessante para o utilizador verificar quem oferece melhor cobertura em caso de choque, colisão ou capotamento, bem como quem pratica a menor franquia nesta matéria.
A Direct não fornece valor para o Tesla na simulação online, mas é de longe a seguradora que pratica os preços mais aliciantes – menos de metade das suas rivais –, se bem que o cliente que adquire esta classe de automóveis não está particularmente preocupado em pagar 600 ou 1.500€ de seguro anual, sobretudo depois de investir quase 100 mil euros.
As diferentes companhias têm em consideração o histórico que têm de cada modelo, pelo que é natural que proponham valores distintos para veículos similares e com praticamente o mesmo preço. Como, aliás, é visível entre o Série 5 e o CLS, cujos valores de venda diferem em apenas cerca de 300€, mas com o BMW a pagar anualmente quase essa quantia a mais do que o seu rival germânico.
Com a excepção da Ageas, que penaliza o carro eléctrico, neste caso o Tesla, as outras seguradoras e apesar de não possuírem histórico dos modelos da marca americana, estendem-lhe a cortesia de o taxarem com base no preço pelo qual ele é comercializado. Entre as restantes, a Allianz é a empresa que oferece a melhor relação qualidade/preço, segundo a Compara Já.
Se analisarmos os valores propostos pelas seis companhias de seguros para cada uma das quatro berlinas de luxo, constatamos que o Tesla, o Audi e o Mercedes são os mais em conta em duas delas, o que coloca mais uma vez o Tesla Model S na posição confortável de não se poder queixar do tratamento de que os seus utilizadores são alvo junto das seguradoras que operam em Portugal. Ao contrário, por exemplo, do BMW.
Utilitários: seguradoras preferem gasolina, diesel ou eléctrico?
Comparar o ZOE de accionamento eléctrico com duas versões do Clio, a gasolina e a gasóleo, permitiu-nos retirar da equação o factor marca, pois todos os veículos em contenda envergam emblema Renault. Propostos por preços ligeiramente diferentes, especialmente em relação ao gasolina, que é de longe o mais barato (Clio 1.2 TCE por 18.850€), o Clio 1.5 dCi a gasóleo (22.250€) e o ZOE Life Flex (22.450€) são propostos por valores muito similares (isto antes dos incentivos, que ascendem a 4.500€, mais a possibilidade de recuperar o IVA, caso o proprietário seja uma empresa).
Neste comparativo de seguros para modelos utilitários, foram sete as seguradoras contactadas, uma vez que a Logo – que é semelhança da Direct tem nos prémios reduzidos um dos seus principais trunfos – desta vez se juntou ao lote de opções. E em boa hora, pois estas duas seguradoras low cost são quem pratica os preços mais reduzidos, com a curiosidade de a Logo ser quem trata pior o ZOE eléctrico, cobrando-lhe um prémio superior ao Clio diesel, apesar dos preços similares, com a Direct a fixar-se não na motorização mas sim no valor de custo.
Entre as seguradoras convencionais, as melhores propostas para o eléctrico surgem através da Fidelidade e da Allianz, com boas coberturas e valores competitivos, privilegiando ainda assim a utilização tipicamente mais calma do modelo alimentado por baterias, a quem propõem um prémio inferior.
À semelhança do que acontece com o Tesla, também os clientes do ZOE não se podem queixar de serem penalizados pelas companhias de seguros. Há, efectivamente, algumas que praticam preços mais elevados, sem outra explicação que não pareça ser a motorização eléctrica, mas está longe de ser uma situação generalizada. E, à semelhança do que acontece com qualquer outro tipo de veículos, também aqueles que recorrem às baterias como fonte de energia têm de auscultar o mercado até decidir quem lhe oferece as melhores condições. Isto porque há diferenças, e grandes.