As falhas registadas no sistema de comunicações de emergência — já admitidas pelo secretário de Estado da Administração Interna — podem ter comprometido uma resposta mais rápida e eficaz por parte dos bombeiros, logo na tarde de sábado, nas primeiras horas do incêndio de Pedrógão Grande que, até às primeiras horas desta terça-feira de manhã, tinha provocado 64 mortes e 136 feridos.

Quando as antenas fixas arderam, escreve o Jornal de Notícias (e como o Observador já tinha referido), não estavam disponíveis alternativas que pudessem ser rapidamente colocadas no terreno para garantir que as dificuldades nas comunicações não afetassem gravemente a intervenção dos bombeiros. Depois da tormenta (mas numa fase em que as chamas continuam a lavrar na região de Leiria, Castelo Branco e Coimbra), o secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes — o rosto das más notícias nas primeiras horas da tragédia — disse no programa Prós e Contas, da RTP, que o Governo pretende obter todas as explicações sobre o plano de ação das várias equipas no terreno.

SIRESP. As polémicas do sistema de comunicações que falhou (outra vez)

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Nessa mesma linha, o próprio primeiro-ministro assinou já um despacho exigindo explicações a três níveis: do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), António Costa quer informações sobre as condições meteorológicas; há que depurar a falha no SIRESP; e saber como foi possível que morressem quase 50 pessoas no IC8, carbonizadas dentro dos próprios carros ou na estrada, quando tentavam escapar às chamas que engoliram aquela via.

O despacho, disse Jorge Gomes na RTP, “exige esclarecimentos ao IPMA para saber as condições atmosféricas e climáticas naquele dia, o que é que houve de anormal, o que é que há para ser explicado”, estando o Governo interessado em saber “se houve falha de comunicações do sistema do Estado” e se devia ter sido ordenado “o encerramento ou não encerramento da Estrada Nacional onde se deu o fatídico caso”.

Garantindo que o sistema de comunicações “em momento algum esteve indisponível”, a GNR admite, no entanto, que a falha na rede criou “zonas de não cobertura”. E o presidente da Associação Nacional de Bombeiros levanta questões sobre as razões que terão resultado nas 64 mortes (números ainda provisórios). “São números com enorme gravidade que alguém tem de explicar”, considera Fernando Curto.

O mesmo representante dos Bombeiros reconheceu, esta segunda-feira, em entrevista à revista Exame Informática, que tem havido algumas dificuldades” em garantir a comunicação entre os vários intervenientes em situações de emergência. “Essa dificuldade é maior quando, efetivamente, as ligações entre bombeiros e as forças de segurança não funcionam como se esperava que funcionassem. Os bombeiros estão a operar com as suas próprias redes e com os seus próprios repetidores de comunicações”, disse Fernando Curto.

Faltam, neste momento, respostas por parte das autoridades. Respostas sobre quanto tempo durou a falha e que impacto teve esse período de vazio sobre a qualidade da resposta prestada pelos bombeiros.