A detenção na segunda-feira do histórico veterano da independência guineense Manuel dos Santos (“Manecas”) é “deplorável” e demonstra o receio que o poder político da Guiné-Bissau tem “até da própria sombra”, afirmou hoje o escritor e jornalista Tony Tcheka.

A detenção de Manecas Santos é deplorável e motivo de uma enorme indignação. Nenhum cidadão guineense, independentemente das suas razões e questões ideológicas, pode estar tranquilo com uma atitude dessa natureza.”

A detenção de “Manecas” Santos surgiu na sequência de uma entrevista dada em abril ao jornal português Diário de Notícias, em que o veterano comandante, de naturalidade cabo-verdiana, alertou para a possibilidade, face ao impasse político vigente há cerca de dois anos, de um novo golpe militar na Guiné-Bissau.

O veterano da luta armada pela independência da Guiné-Bissau tinha sido ouvido, há cerca de um mês, pelo Ministério Público, em Bissau, para esclarecer as declarações. Tony Tcheka, afirmou não ver qualquer outra razão para a detenção de “Manecas” Santos que não “motivações políticas”.

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Trata-se de uma perseguição feita em lume brando, hoje isto, amanhã aquilo. Qual o mal que tem um homem que, com o passado de Manecas Santos, vivendo na Guiné-Bissau, faça uma análise da situação social e política?”

“O grande crime de “Manecas” Santos é que as circunstâncias, tudo o que envolve a Guiné-Bissau de hoje, pode indiciar situações mais complicadas, entre elas a possibilidade de um golpe de Estado. Temos um passado recente complexo, sabemos como foi o conflito político-militar de 1998/99, como aconteceu, Manecas Santos estava presente no terreno, de maneira que nada melhor do que alertar”, acrescentou.

Tony Tcheka salientou, por outro lado, a ideia de que quem pretende levar a cabo um golpe de Estado não o anuncia.

“Quem vai dar um golpe de Estado, quem está alinhado em golpes de Estado, não ameaça nem diz que vai fazer um golpe de Estado. ‘Manecas’ não disse que vai dar, ou que vai participar ou que faz a apologia do Golpe de Estado. Simplesmente disse que o cenário existente pode conduzir a uma situação de golpe de Estado”, explicou.

Para o jornalista, escritor e poeta guineense, os “atuais senhores” da Guiné-Bissau “acabam por ter medo de tudo e todos, até da própria sombra”.

“Têm tudo o que é poder, o que são forças da Nação, ao seu serviço, não em defesa da Constituição da República, não em defesa das leis, mas sim em defesa dos seus próprios interesses. Quem não alinha nesse festim, quem não bate palmas, automaticamente é eleito como inimigo a abater, a eliminar”.

“Isso é deplorável, é lamentável, e mostra exatamente os caminhos por que a Guiné-Bissau está a seguir sob a batuta do Presidente da República”, José Mário Vaz, concluiu.