Durante a tarde, já a começar a preparar algumas coisas para esse grande momento do Verão que é o início do Tour de França, deparámo-nos com uma ementa de marquês do primeiro vencedor da prova, em 1903, Maurice-François Garin, numa prova de ciclismo de 24 horas (é verdade, existia mesmo, mas só ele e outro é que acabaram). Anote aí: 19 litros de chocolate quente, oito ovos, sete litros de chá, 45 costeletas, uma mistura de champanhe e café, cinco quilos de tapioca, dois quilos de arroz, ostras e muito vinho tinto. Abençoada barriga esta, que conseguiu no meio desta verdadeira luta gastronómica fazer um total de 701 quilómetros de bicicleta.

Naquela altura, o que interessava mesmo era aconchegar o estômago para competir; hoje, falamos de alta competição, onde todos os pormenores fazem a diferença. Em desportos como o ciclismo, a Fórmula 1 (basta recordar as 2.785 calorias diárias da dieta de Fernando Alonso na Honda), o ténis ou o futebol, onde são cada vez mais os treinadores que não prescindem de nutricionistas e controlam ao milímetro o que ingerem os atletas. Percebe-se o porquê: pode mesmo fazer a diferença. Como fez em Leon Goretzka, o melhor jogador na segunda meia-final da Taça das Confederações onde a Alemanha goleou o México por claros 4-1.

O médio de 22 anos do Schalke 04 já nos caiu do goto há cinco anos, quando foi campeão da Europa Sub-17 como capitão da Alemanha. Os seus primeiros treinadores, no Bochum, diziam mesmo que nunca tinham visto um talento assim com aquela idade em território germânico. No entanto, mesmo depois de se ter estreado na Bundesliga, de ter continuado a dar nas vistas, parecia que faltava sempre alguma coisa. Até porque nos momentos mais importantes, parecia ser feito de cristal: antes do Mundial de 2014, esteve nos 30 pré-convocados mas acabou por sair da lista por uma lesão muscular; no primeiro encontro dos Jogos Olímpicos de 2016, curiosamente frente ao México, contraiu um problema no ombro e não mais voltou a jogar. Agora, um ano depois, está a brilhar como nunca.

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Devido a uma inflamação intestinal, Goretzka demorava um pouco mais do que é normal a recuperar de problemas físicos que ia contraindo. A questão foi diagnosticada e o médio deixou de comer produtos lácteos, carne de porco e nozes. E obteve resultados. “Mudei a minha dieta de forma radical há um ano”, admitiu o jogador em conferência de imprensa antes do encontro frente aos Camarões, ainda na fase de grupos da Taça das Confederações.

De certeza que não sou aquele tipo de jogador que marca sempre dois golos por jogo e as pessoas devem habituar-se a não esperar isso de mim”, disse no sábado Leon Goretzka, que esta quinta-feira, frente ao México, bisou… em oito minutos

Curiosamente, na mesma conferência, o jogador do Schalke 04 que todos descrevem como uma das maiores promessas do futebol europeu mostrou-se humilde ao dizer que tudo o que se tem falado na imprensa lhe passa ao lado (“sei que estou num bom momento mas só quero manter este nível com os pés bem assentes no chão”) mas teve uma outra tirada curiosa: “Para se estar ao nível de titular da seleção alemã, é preciso mais do que um jogo. De certeza que não sou aquele tipo de jogador que marca sempre dois golos por jogo e as pessoas devem habituar-se a não esperar isso de mim“.

Aos oito minutos do encontro frente ao México, a Alemanha já ganhava por 2-0 com dois golos de Goretzka, na sequência de remates cruzados na passada. E agora Leon, o que devemos afinal esperar?