O atual secretário-geral dos Serviços de Informações da República Portuguesa (SIRP) – de malas feitas e pronto para sair há vários meses – terá de manter-se em funções pelo menos até setembro. O próximo chefe das “secretas” terá obrigatoriamente de ser ouvido pelos deputados antes de tomar posse. Mas, com a interrupção dos trabalhos parlamentares à porta, e sem que o primeiro-ministro tenha ainda apresentado um nome à Assembleia da República, torna-se cada vez mais difícil fechar o conturbado processo de sucessão de Júlio Pereira antes de setembro. Nas “secretas”, há “preocupação” pela demora.

O passo em falso dado com Pereira Gomes bloqueou a saída do atual secretário-geral do SIRP. Júlio Pereira estava pronto para deixar as funções que assumiu há 12 anos, tudo indicava que o embaixador português na Suécia seria o seu sucessor, até que surgiu Ana Gomes. E, logo a seguir, o jornalista Luciano Alvarez. E ainda o jornalista José Vegar. Foram estas as três vozes que, de forma mais audível, contestaram a escolha do primeiro-ministro para o lugar de chefe das secretas. “Não tem perfil”, defendiam, recordando episódios que ilustravam a forma como Pereira Gomes geriu a presença da comitiva portuguesa em Timor aquando do referendo pela independência, em 1999, em pleno clima de convulsão social.

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Júlio Pereira, que já tinha planos profissionais em marcha para o período pós-serviços de informações, estava pronto para sair. Aliás, o secretário-geral do SIRP já tinha manifestado essa intenção no início do ano mas, com a visita do Papa a Fátima, a 13 de maio, e dada a sensibilidade do momento do ponto de vista da segurança, aceitou esperar mais alguns dias. Depois, veio o “chumbo” a Pereira Gomes e o passo atrás do embaixador, em nome da estabilidade nos serviços. Isso foi no início de setembro. Júlio Pereira teve de continuar, mas na esperança de que, numa questão de semanas, o assunto ficaria resolvido.

Agora, arrisca ter de empurrar essa nova fase – que deverá passar por um regresso do procurador à magistratura – para depois de setembro. Júlio Pereira continua em funções, mas dentro dos serviços começa a ser manifesta a “preocupação” com o arrastar deste processo – que suscita incertezas sobre eventuais mudanças na atual estrutura e que, depois da “novela Pereira Gomes”, não contribui para a imagem externa das “secretas”, apurou o Observador junto de fonte das informações.

Apreensão nas “secretas” com escolha de Pereira Gomes

No Parlamento, vários deputados de diferentes partidos ouvidos pelo Observador consideram ser “escassa” a probabilidade de o novo nome ser apontado pelo primeiro-ministro e ouvido na primeira comissão antes das férias de verão. Até ao final da sessão legislativa, estão previstas duas reuniões da comissão de Assuntos Constitucionais (onde é ouvido o responsável máximos dos serviços de informações): uma para a próxima quarta-feira, para encerramento do processo legislativo, e outra, ainda sem data, para tratar de assuntos que tenham ficado pendentes. Encaixar nesse calendário uma audição com a importância que o assunto tem é vista com reservas entre os parlamentares.

A hipótese que um dos deputados arrisca para não arrastar o processo para a segunda metade de setembro passa por agendar uma reunião da comissão dedicada à audição logo para as primeiras semanas do mês — os trabalhos das comissões recomeçam a dia 5. Júlio Pereira, que estará a caminho do Supremo Tribunal de Justiça, ficaria assim livre para prosseguir a sua carreira.

Para isso, é preciso um nome. E, apesar de algumas hipóteses já terem sido avançadas pelo Diário de Notícias – e de, nas últimas semanas, se terem multiplicado as consultas para tomar o pulso aos nomes mais fortes e evitar uma repetição do episódio Pereira Gomes –, a verdade é que de S. Bento ainda não saíram sinais claros de uma tomada de decisão.