Pepe Brix, fotógrafo documental português, é o autor deste artigo, primeiro da história “Este Verão Portugal é Mini”
Sines é uma das grandes portas portuguesas para o mar. Um porto que abriga ora os que vêm de longe em gigantescos navios ou ao sabor do vento, ora aqueles que por terra chegam para explorar as potencialidades do grande oceano. O cenário pitoresco das ruas que ladeiam o castelo, as praias de água límpida e de fácil acesso, e uma atmosfera cultural no mínimo inspiradora fazem da cidade um dos grandes pontos de concentração das rotas de verão. Ao caminhar pelas ruas a sensação que tenho é que tudo se mantém autêntico, pequeno no sentido mais brilhante da palavra, e que um bom dia corre de boca em boca para encher a cidade de pequenos sorrisos pela manhã. É nesse espírito delicioso que Pedro vai ao mercado para comprar tudo o que precisa para mais um churrasco.
Mudar para expandir
Não foi aqui que Pedro nasceu ou cresceu sequer, mas a cidade chamou-o a determinada altura, cativando-o e inspirando-o a que ali assentasse arraiais. O Centro de Artes de Sines, uma das referências arquitetónicas da cidade, ajuda a projetar a sede de expressão criativa que o povo tem em si e que confere à cidade uma dinâmica particular. Foi como professor de artes que Pedro começou a ganhar raízes em Sines. Durante anos lecionou na escola de artes, até que um dia a vontade de que alguma coisa mudasse na sua vida e o desejo de abrir portas a novas pessoas o levou a deixar temporariamente o ensino e a abrir um hostel no coração da cidade. Motivado por uma sede de se manter ligado ao que é realmente importante, consciente de que é uns com os outros que aprendemos e crescemos verdadeiramente, Pedro cumpriu o sonho e abre, sempre que pode, a porta dessa casa para dar abrigo às mais profundas amizades.
Às tropas de verão
Naquela sala com varanda e vista privilegiada para a Praia Vasco da Gama, há amizades que todos os verões se renovam. Enquanto se ateia o carvão e se sorri aos reencontros e às novas amizades, ninguém consegue ficar indiferente à magnífica vista do hostel e vão enchendo os olhos e o coração enquanto a praia vai mudando as suas cores até que reine a noite por fim. Lá dentro há uma mesa posta para celebrar o calor e a única coisa proibida é a cerimónia. Todos partilham uma história aqui e ali, enquanto brindam às novas ambições, aos novos projetos e a todos os momentos partilhados até então. Não tardará com certeza até que a tropa se reúna novamente, mas hoje todos se entregam ao serão como se não houvesse amanhã.
A música que chegou do mar
E enquanto na varanda do hostel a carne alourava no grelhador e se punha a mesa, o fumo que daí se levantava servia de azimute para os que o avistavam de longe. Acabados de chegar de veleiro à marina da cidade e depois de estarem dias no mar alto, quatro amigos sedentos de festa, felizes por estarem de novo em terra firme, não resistiram ao movimento que assaltava a varanda do hostel e saltaram do veleiro para o pequeno bote de apoio com os seus instrumentos às costas, para fazerem rumo ao pontão mais próximo e se juntarem ao churrasco. Verdade seja dita, qualquer festa ganha novo sabor quando a música está a nascer diante dos olhos daqueles que a constroem. O acordeão e o violão faziam cama às vozes que soavam e ninguém ficava indiferente a essa harmonia recém-instalada por força do destino, a reunião inesperada de mais quatro amigos.
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