O pôr-do-sol é magnífico na Herdade da Casa Branca, o grande palco do MEO Sudoeste. Seja de um qualquer terraço patrocinado, seja à entrada do recinto ou no parque de campismo. Passaram-se duas décadas desde a primeira edição deste festival — as histórias ficam para quem as viveu porque é tempo que já lá vai — e aquilo em que se tornou o festival da Zambujeira do Mar está a milhas do que aconteceu em agosto de 1997.
As diferenças são muitas e seguem o avançar dos tempos: o rock já não é o que traz milhares de pessoas aqui, nem tão pouco é a música. O azimute sonoro virou para a música de dança — os DJs são agora os cabeças de cartaz — e também para a pop, o hip hop e o reggae, os géneros dos jovens que enchem a herdade. O rock é coisa que já lá vai.
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Mas uma coisa mantém-se: o MEO Sudoeste continua a ser um ritual para os mais novos, para muitos as primeiras férias com os amigos ou a repetição anual de uma semana que mistura praia e campo, uma espécie de colónia de férias à beira rio com o mar à distância de uma curta viagem de autocarro. Muitos são os que passam o dia (e a noite) sem nunca sair da zona de campismo, uma área gigantesca que funciona como uma pequena cidade.
O MSW (nome de código do festival) tem vindo a melhorar as condições do campismo, porque ao longo dos anos a Música no Coração (promotora do festival) percebeu que é aí que começa a festa. As marcas entraram em força e hoje, duas décadas depois da magra primeira vez, há uma zona para lavar a roupa, outra para fazer o jantar e para lavar a loiça, áreas dedicadas à higiene pessoal e grandes retângulos de duche comunitários.
Como em todos os outros grandes festivais de música portugueses, as marcas estão por todo o lado e algumas oferecem, no MSW, experiências muito mais confortáveis para “acampar” dentro da própria área de campismo. A diferenciação da experiência faz-nos pensar até que ponto se pode chamar a isto “acampar”.
O espaço do patrocinador principal serve de exemplo. Nuno Dionísio, responsável da MEO, descreveu-nos a experiência: por 1250 pontos (na conta da operadora) 100 pessoas tiveram direito a bilhete, nove dias de campismo com duche de água quente, zona de refeições com frigorífico, micro-ondas, máquina de café, pontos de carregamento, barbecue, campo de voleibol, matraquilhos, piscina, zona de televisão e jogos e casas de banho VIP. À chegada foram transportados de carro desde a receção até à tenda, previamente montada, cada uma com dois colchões e sacos cama.
Nuno Dionísio chama-lhe “fidelização emocional”, um recurso da marca que pretende oferecer aos clientes “algo que teoricamente o dinheiro não pode pagar”. Além da MEO, outras empresas tais como a Santa Casa, XBus e Free Spirit Campers proporcionam condições especiais, entre elas o reforço da segurança — muito presente em todo o recinto, como tivemos oportunidade de constatar no ano passado.
Tecnologicamente, o patrocinador principal voltou a colocar o MEO Sudoeste entre os mais “ligados” do mundo: houve Wi-Fi grátis em todo o recinto, garantido por qualquer coisa como 1.100 hotspots espalhados pelos 15 hectares. Este ano a novidade foi a introdução de um chatbot, um robô capaz de prestar informações aos festivaleiros através da aplicação Messenger do Facebook.
A presença massiva das marcas tem um preço: o festival propriamente dito é hoje um gigantesco parque de diversões, com palcos e atividades em caos visual e sonoro, que inclui roda gigante e carrossel, plataformas elevatórias com vista panorâmica e música de dança. Todo este “circo” é frequentado pelos milhares de jovens campistas, mas também pelas famílias que chegam ao recinto ao final da tarde, pais (e avós) que “fazem companhia” aos mais pequenos.
Mais do que um festival, o MEO Sudoeste tornou-se, em 20 anos, numa experiência que atrai jovens de muitas nacionalidades: espanhóis, franceses, italianos, irlandeses, ingleses e até sul-coreanos. Todos partilham a movida desta geração e reforçam a posição do MSW no panorama dos festivais de verão europeus. Em 2018 a festa repete-se, de 8 a 11 de agosto. O campismo começa no dia 4.