Relaxar na espreguiçadeira, deitar na areia, fazer uma sesta debaixo do chapéu de sol… E nada grita mais férias de verão do que o simples gesto de andar de chinelos de dedo o dia todo. Mas, em Portugal, as dores de costas atingem sete em cada dez pessoas e têm tendência a agravar-se durante o verão sem que, muitas vezes, se perceba o motivo, explicou ao Observador Luís Teixeira, especialista em cirurgia da coluna e diretor geral do Spine Center. “A maioria das pessoas acaba por se esquecer de ter alguns cuidados fundamentais com o corpo, como o calçado, a escolha das malas de viagem ou até as próprias brincadeiras com os filhos que são prejudiciais à coluna”, reforça o médico.

A verdade é que, ao dia de hoje, já estamos sensibilizados para muitos dos perigos do verão — como a proteção solar ou os cuidados durante a condução em viagens longas — mas esquecemo-nos de que a nossa coluna não tira férias. “Começamos logo as férias com o pé errado quando calçamos os chinelos e saímos de casa”, explica Luís Teixeira. “E os seus efeitos negativos são ampliados para quem vai a pé até à praia, percorrendo trajetos médios a longos porque a maioria dos modelos não oferece o suporte adequado ao pé nem promove estabilidade ao calcanhar.”

Para quem está de férias e só pensa em estar de “papo para o ar”, o médico deixa alguns conselhos:

Utilizar malas de praia próprias para o peso dos objetos

A maioria dos sacos de praia não estão preparados para a carga que se carrega para este efeito. A troca do habitual saco por uma mochila de alças duplas já vai fazer alguma diferença porque permite que o peso seja distribuído de igual forma e garante um bom apoio nas costas. Tenha também atenção à forma como os objetos são organizados – coloque os mais pesados e de maior dimensão primeiro e na parte central da mochila – e divida a carga pelos diferentes compartimentos (as mochilas com vários bolsos são as ideias). Para quem leva cadeiras para a praia, os melhores modelos são os que permitem ser transportados com alças. Luís Teixeira reforça que a carga a transportar não deve ser superior a 5% do peso corporal.

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Sabe deitar-se na toalha?

A bela da sesta na toalha sabe sempre bem mas a areia não se molda em função da estrutura ergonómica do nosso corpo e todas as covas e relevos não são bons para o bem-estar da coluna vertebral. Não fique mais de 30 minutos na mesma posição na toalha e evite deitar-se de barriga para baixo, uma vez que esta posição força o pescoço a um ângulo total para a esquerda ou para a direita, acumulando tensão nessa mesma zona e nas costas. O ideal será apoiar sempre a cabeça com uma almofada ou deitar-se numa espreguiçadeira.

Escolha bem o seu calçado de férias

Na maioria das vezes, o calçado escolhido para este período são os chinelos de dedo que à primeira vista são confortáveis mas podem prejudicar as costas. “A coluna precisa de um apoio consistente e seguro para não sofrer lesões e o calçado é determinante nesta matéria”, explica o médico. Assim, opte sempre por ténis com solas ergonómicas para o caminho e troque só para os chinelos quando chegar à praia. Calçar sandálias também é uma boa opção se não forem de sola totalmente rasa.

Cuidados com as brincadeiras de verão

É normal, durante as férias, passarmos mais horas deitados a descansar. Esticar os braços, espreguiçar e nadar são boas opções para alongar a coluna durante o dia. E tenha cuidado com os mergulhos em piscinas de poupa profundidade ou de alturas consideráveis sem ser possível prever a zona em que o corpo cai na água. Estes são os responsáveis por inúmeras lesões na coluna, muitas delas com danos irreversíveis, explica Luís Teixeira. E, ao contrário do que muitas vezes as pessoas pensam, a água fria e a sua alternância entre frio e quente não faz mal a quem tem dores reumáticas, apresentando até benefícios. Já para os pais, o médico reforça o cuidado com as brincadeiras como os saltos e as cavalitas que, por serem movimentos repentinos e inesperados, podem criar algumas lesões. No caso das cavalitas, o excesso de peso sobre os ombros e a região cervical é de evitar.