Estava a ser um jogo perfeitamente normal da Segunda Liga entre Real e Sporting. Normal e bem jogado, acrescente-se, mesmo sem golos na primeira parte. No regresso do intervalo, Jorge Sousa, o internacional que dirigiu o encontro, vinha até numa conversa animada com Rui Correia, antigo guarda-redes de Seleção que faz agora parte da equipa técnica leonina. Aos 64′, Miguel Luís cometeu uma falta à entrada da área. E quando estava a formar barreira, as câmaras da Sport TV apanharam o áudio da reprimenda (chamemos-lhe assim) do juiz portuense ao jovem guarda-redes Vladimir Stojkovic.

Não vale a pena estarmos a dissecar o que foi dito, com o vídeo fica tudo esclarecido. Contemos o resto da história. E que segue no mesmo encontro: o conjunto de Massamá adiantou-se nesse livre que originou a confusão, a formação secundária verde e branca voltou a dar a conseguir a remontada nos últimos minutos e, nos festejos do segundo golo de Pedro Delgado (Pedro Marques marcara o primeiro), Abdu Conté viu vermelho direto, por indicação do árbitro assistente que acompanhava o ataque dos leões, sem se saber bem porquê.

Quando começaram a passar as repetições, percebeu-se que o jovem internacional Sub-19 que se sagrou este Verão vice-campeão europeu terá dito qualquer coisa para a bancada onde estavam os adeptos da equipa da casa e, no final da partida, quando Luís Martins (treinador) e Virgílio (delegado) se dirigiram a Jorge Sousa para cumprimentá-lo, terão questionado o porquê do vermelho. A situação, aparentemente, foi compreendida por todos, atentando-se na reação respeitadora que todos tiveram aquando do final dessa conversa.

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No entanto, os responsáveis que estavam em Massamá não se aperceberam do que se passou, ao contrário de outros dirigentes do clube que estavam a ver o jogo pela TV. Assim, e já depois do vídeo ter começado a circular nas redes sociais, o Sporting emitiu um comunicado oficial dando conta do repúdio pela situação.

A Sporting Clube de Portugal – Futebol, SAD repudia as palavras usadas pelo árbitro Jorge Sousa (…) Este tipo de linguagem não deve ser usada no futebol, ainda para mais por quem tem a responsabilidade de fazer cumprir e respeitar as leis do jogo, não contribuindo de forma alguma para a credibilização e dignificação do desporto mundial e do futebol português em particular. Estas palavras assumem gravidade ainda maior por terem sido proferidas por um árbitro de referência do futebol português, com uma vasta experiência, e que tem a categoria de internacional por ser titular de insígnias da FIFA, razões que lhe exigem contenção e atenção redobradas.

Jorge Sousa apercebeu-se entretanto de tudo o que se falava quando chegou a casa (altura em que o comunicado oficial dos leões já tinha sido emitido), tendo tomado a iniciativa de contactar Luís Martins, técnico principal do Sporting B. Na conversa mantida, segundo confirmou o Observador, o árbitro internacional terá abordado o lance em causa (e não só), tentando justificar o porquê de tal atitude mas sem pedir desculpas.

Para já, o caso está encerrado. Mas a história pode não ficar por aqui, até porque alguma coisa grave terá acontecido para uma reação destas de um juiz experiente (o mais cotado em termos nacionais, a par de Artur Soares Dias) que, em palestras a jovens árbitros, defende o que chama de “protocolo mental durante o jogo”.

“O jogo não é para se fazer, é para se ir fazendo, sem pressas em tomar decisões; desfrutar do prazer de arbitrar, divertemo-nos acima de tudo; confiantes, concentrados, tranquilos, seguros, determinados, lúcidos; abordar as pessoas (jogadores e dirigentes) sempre de forma serena, segura e confiante; tentar passar despercebido, mas se alguém se armar em Ferrari, eu armo-me em camião”, destacou, no vídeo disponível no Youtube, entre vários pontos e explicações sobre o que se deve fazer antes, durante e depois de cada partida.