Os ecos da intervenção de Cavaco Silva, que marcou o regresso (momentâneo) do ex-Presidente da República à cena política, chegaram rapidamente ao PS. Falando aos jornalistas esta quarta-feira no Parlamento, a deputada socialista Susana Amador acusou Cavaco Silva de falta de sentido de Estado e lamentou que quando estava em Belém não tivesse “piado mais” na defesa dos portugueses. No Facebook, também o deputado e dirigente socialista Porfírio Silva criticou as “reaccionarices” de Cavaco, que, disse, são “o habitual num político que passou décadas na política sempre a fazer de conta que não era político”.
“Eu gostaria que durante o tempo em que esteve na Presidência da República tivesse piado mais, ou seja, tivesse agido mais na defesa dos portugueses”, afirmou a deputada e dirigente socialista Susana Amador, citada pela agência Lusa. Numa declaração feita aos jornalistas no Parlamento, Susana Amador sublinhou que “o PS não podia deixar de lamentar estas intervenções, pela falta de sentido de Estado que as mesmas revelam, pela gravidade das mesmas e por não corresponderem de todo à realidade”.
Para o PS, a aula dada por Cavaco Silva na Universidade de Verão da JSD demonstra “desconforto com a política de devolver rendimentos e a repor às pessoas mais qualidade de vida, bem-estar, e coesão social” do atual executivo. “O professor Cavaco Silva, ao longo das políticas do Governo PSD e CDS, que foram as políticas de retirada de direitos, de compressão das garantias dos portugueses, fez uma gestão de silêncios”, argumentou, considerando que, contra esses “silêncios ensurdecedores” valeu a intervenção do Tribunal Constitucional na defesa da Lei Fundamental e dos direitos dos portugueses.
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Por outro lado, Susana Amador defendeu que na mesma intervenção do ex-Presidente “falar de censura, quando ela tem uma grande carga histórica tão negativa para tantos portugueses, e no contexto atual, que é um contexto de democracia, de liberdades e de defesa da Constituição”, é “uma posição que surpreende pela falta de sentido, pela gravidade”.
“Podemos colocar a questão: Não terá sido uma forma de censura o empobrecimento a que foram votados os portugueses, mais de 30% de crianças em pobreza infantil? Não foi uma forma de censura retirar direitos, liberdades e garantias? Não foi uma forma de censura acabar com o ensino de adultos?”, questionou.
“A verdade é que o empobrecimento, como dizem muitos estudiosos é uma forma de censura”, frisou.
Susana Amador começou por considerar que Cavaco Silva “regressou à vida político-partidária com a mesma posição crítica de sempre em relação aos políticos, como se não tivesse sido um dos políticos com mais tempo de funções no período da democracia, e aos jornalistas”.
“Julgo que não é a forma melhor e mais adequada de falar aos jovens porque precisamos de uma comunicação social livre e isenta e de jornalistas atentos para aprofundarmos a qualidade da nossa democracia”, declarou.
Susana Amadora referiu-se também às referências de Cavaco Silva à falta de reconhecimento ou gratidão da atividade política: “Nós não estamos na vida política para a nossa realização individual ou vaidade pessoal, estamos na vida política para a realização das pessoas”.
O “umbiguismo”
No Facebook, também o dirigente socialista Porfírio Silva fez questão de falar sobre aquela que foi a primeira intervenção política de fundo de Cavaco desde que deixou Belém, há um ano e meio. “Cavaco Silva reapareceu”, começou por dizer o deputado, que sublinhou que as “reaccionarices” que, a seu ver, o ex-Presidente disse, “não são novas, são o habitual num político que passou décadas na política sempre a fazer de conta que não era político”. Segundo Porfírio Silva, Cavaco mostrou que julga ser “o centro do sistema solar” e que pensa de acordo com “o seu umbiguismo”.
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Porfírio Silva, que é deputado e membro do secretariado nacional do PS, destaca o facto de, na atual democracia, “as pessoas podem dizer aquelas coisas sem serem perseguidas”. “Mas vale a pena sublinhar que continua a falar como se continuasse a julgar-se o centro do sistema solar e arredores”. “Um cientista que pensasse com o seu umbiguismo mandaria rever a lei da gravidade quando as suas experiências não dessem certo e tivesse que encontrar uma “explicação”, diz ainda.
Cavaco Silva esteve esta quarta-feira na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, a dar uma “aula” sobre os jovens e a política – “Quando a realidade tira o tapete à ideologia”. No caminho, deixou duras críticas ao atual governo e aos parceiros de coligação, bem como críticas veladas a Marcelo Rebelo de Sousa.