O primeiro-ministro admite que é preciso “tempo” para que o Governo analise o relatório da comissão independente sobre a tragédia de Pedrógão e tome medidas. António Costa quer “passar das palavras aos atos”, mas, sem uma “solução mágica” que consiga funcionar como prevenção contra o surgimento de novas tragédias, vai avisando: “O país tem de estar consciente que a situação que estamos a viver vai seguramente prolongar-se para os próximos anos”. Demitir a ministra continua fora de questão – é uma “ideia um bocado infantil”, diz Costa, depois de o Presidente da República ter sublinhado que “tardam” as consequências sobre o incêndio de junho.
Eram quase duas da manhã quando António Costa apareceu frente às câmaras. O primeiro-ministro falava aos jornalistas depois da uma reunião na sede nacional da Proteção Civil para acompanhar a evolução dos incêndios ao lado da ministra da Administração Interna. Foi ali, em Carnaxide, que ouvia a porta-voz da autoridades nacional confirmar a existência de cinco mortos nos incêndios deste domingo. Número que havia de subir para seis, já depois das 3h30 da manhã desta segunda-feira.
https://observador.pt/2017/10/16/tres-mortos-e-carros-escoltados-para-sair-das-estradas-este-e-o-pior-dia-de-incendios-do-ano/
Costa reconheceu que o país viveu um mais um “dia devastador” e prometeu agir. Mas não disse que demitia a ministra da Administração Interna.
É um bocado infantil a ideia de que a consequência política [a retirar de uma tragédia] é a demissão de ministros”, disse o primeiro-ministro, voltando assim a segurar Constança Urbano de Sousa.
“A principal consequência política num governo é fazer o que falta fazer”, considera Costa. Segundo as suas palavras, o que falta é uma reforma da floresta, mas essa não acontecerá a breve trecho.
Não vale a pena iludir os portugueses de que, de um dia para o outro, se vai resolver um problema que se acumulou ao longo de décadas. Infelizmente, vamos ter de trabalhar muito para, ao longo da próxima década, fazermos o que é necessário na floresta portuguesa”, assinalou o primeiro-ministro.
Porque o Governo não tem a tal “solução mágica” à sua disposição para agir com celeridade e evitar que mais pessoas morram vítimas de incêndios em Portugal. “Se os senhores julgam que há alguma solução mágica para que se produza efeitos na reforma da floresta, estão muito enganados”, afirmou Costa.
A ministra não sai mas, garante o primeiro-ministro, o Governo vai mesmo “tirar ilações” do relatório elaborado por um grupo de 12 especialistas nomeado pela Assembleia da República e pelo conselho de reitores portugueses. “Desse relatório, é retirada um conjunto de recomendações muito importantes para a reforma do sistema, e nós vamos ter de o fazer em paralelo com a reforma da nossa estrutura florestal”, afirmou o primeiro-ministro, que confirmou a existência de cinco vítimas mortais.
No pior dia do ano em termos de incêndios florestais – já o era às 17 horas quando a porta-voz da Proteção Civil fez a primeira avaliação ao país e, depois disso, o cenário só ficou mais negro –, Costa entende que o país tem de “analisar as coisas como elas são, com a consciência de que, no dia de hoje, muitos dos meios aéreos não puderam operar porque as condições atmosféricas não o permitiram”.
António Costa também disse aos jornalistas que não lhe reportaram falhas do SIRESP, quando esse foi um dos aspetos que a Proteção Civil detalhou ao longo da noite, esclarecendo que em algumas zonas do país esses problemas dificultaram as operações.
O primeiro-ministro foi ainda questionado pelo Observador sobre as declarações do secretário de Estado da Administração Interna. Horas antes, Jorge Gomes tinha dito que os portugueses não podem “ficar às espera dos bombeiros e dos aviões”. “Temos de nos autoproteger”, disse o secretário de Estado que tem a tutela da Proteção Civil. A leitura que Costa faz destas declarações vai no sentido de considera que “todos devemos procurar, na medida do possível, evitar ter qualquer comportamento que [nos] coloque em perigo” e, “segundo, que devemos adotar as medidas de auto-proteção e procurar ajudar os outros, se isso estiver ao nosso alcance”.
O chefe do Governo ainda anunciou que iam ser atribuídos dois dias de descanso para os bombeiros para cada dia de trabalho em teatro de operações. E que foi decretada calamidade pública nas regiões a norte do Tejo.