A E-Primatur começou a publicação das obras de José Vilhena, considerado por muitos o maior humorista português do século XX, em finais de 2015. Desde então, já chegaram às livrarias edições fac-similadas de História Universal da Pulhice Humana, de Avelina, do “mais profundo, investigado e detalhado Manual de Etiqueta jamais feito em Portugal” e mais recentemente de O Filho da Mãe, “a trilogia que traçou definitivamente os contos do homem português (e da senhora sua mãe)”.
As três partes que compõem O Filho da Mãe, agora reunidas num livro só pela E-Primatur, narram “a vida e feitos tudo menos notáveis” do Filho da Mãe, um jovem provinciano, educado numa escola de padres, que consegue subir na vida graças aos seus esquemas e manhas. De contínuo numa grande empresa portuguesa, consegue chegar a administrador, e nada disso graças ao seu talento e habilitações. Para a editora, trata-se de “uma obra que assentou que nem uma luva a muito português e fez chorar de rir outros tantos, e no entanto constitui-se como um fidelíssimo retrato desta pátria que avança por aí aos trambolhões“.
Tal como em outros livros dos anos 1970, em O Filho da Mãe Vilhena antecipou “em alguns anos” a revolução “que mudaria o país”. “O autor centra-se mais no texto e procura, cada vez mais, fixar no papel os males da nação e das suas gentes”, afirma a E-Primatur, que garante que “é com textos como estes que podemos descobrir o talento de Vilhena para a escrita”. “De facto, a reputação como humorista obscureceu sempre um pouco a simples veia de escritor que tão bem cultivou. O seu domínio da língua portuguesa é precisamente a base do seu humor e, hoje mais do que nunca, tem de ser redescoberto.”
José Vilhena nasceu a 7 de julho de 1927 em Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda. Em pequeno, “teve sarampo e todas as outras doenças peculiares nas crianças a quem a providência divina não ligou grande importância”, garante na sua Autobiografia. Depois de cumprir o serviço militar obrigatório, frequentou o curso de Arquitetura na Escola de Belas Artes do Porto, nunca chegando a terminá-lo.
Foi nessa altura que começou a carreira humorística, a fazer caricaturas para os livros de curso. Seguiram-se trabalhos para o Diário de Lisboa, fundado em 1921, e depois a pequena revista O Mundo Ri, que criou juntamente com António Paulouro, do Jornal do Fundão. Talvez tenha sido aí que lhe surgir o bichinho da escrita porque, passado pouco tempo, começaram a sair os livros de bolso, que publicou compulsivamente — e clandestinamente — entre os anos 60 e 70.
O primeiro que publicou foi, segundo a sua própria “Autobriografia”, Este mundo e outro, quando tinha 27 anos. As críticas não foram favoráveis, tendo sido “apedrejado” por alguns jornais. A História Universal da Pulhice Humana, de início da década de 1960, também publicado pela E-Primatur, seguiu-se Avelina, Criada para todo o Çerviço, o diário de uma criada provinciana, e o conjunto de três livros dedicados ao Filho da Mãe.
José Vilhena morreu em 2015, depois de mais de cinco décadas de humor corrosivo que não poupou nada nem ninguém.