The Presidential, um comboio no Douro que serve refeições de grandes chefs, foi considerado o melhor evento público de 2017. A escolha do Best Event Awards deste ano — que, pela primeira vez, se realizou no Porto — deixou para trás eventos de Espanha, Itália, Rússia, Alemanha, Bélgica e Letónia. “Não tinha a mínima esperança de ganhar, achei que a escala do evento era tão grande que era difícil”, admite Gonçalo Castel-Branco, criador do evento premiado, ao Observador.
Atenção à distância entre as portas e a plataforma: o comboio das estrelas vai voltar ao Douro
Em concurso estavam 300 candidaturas apresentadas por mais de 160 agências de 27 países. A escolha do júri para a categoria de melhor evento público do ano recaiu sobre o comboio presidencial que Gonçalo Castel-Branco devolveu aos carris em 2016. A ideia, refere o criador do projeto em comunicado, foi criada num contexto familiar, uma vez que “nasceu da cabeça de uma criança de 10 anos”.
Na segunda posição ficou o evento em que se assinalavam os 45 anos dos Emirados Árabes Unidos. “Foi incrivel porque estávamos a competir com coisas… o evento dos Emirados envolvia tanques, helicópteros, camelos” e Gonçalo Castel-Branco nunca acreditou conseguir, com o seu projeto, bater a concorrência, naqueles que são considerados os óscares dos eventos.
O mentor do projeto não é, no entanto, um vencedor estreante neste concurso. Já há cinco anos, na cerimónia em Milão, um concerto que realizou num palco flutuante, também no Douro, valeu-lhe uma distinção — a primeira para um projeto português. “Lembro-me de que, nos meses seguintes, sentimos muita diferença”, com mais reconhecimento, mais procura pelo trabalho da sua agência de então, recorda ao Observador.
E para o seu comboio presidencial, o que significa este prémio? “Não nos podemos queixar porque esgotamos quase todos os dias”, refere. O maior impacto passará, talvez, arrisca Gonçalo, por “sentir em mais pessoas o reconhecimento de que há um comboio incrível e uma das linhas ferroviárias mais bonitas do mundo” no norte do país.
The Presidential. Cuidado, este comboio transporta material altamente fotografável
À viagem, o evento de Gonçalo Castel-Branco junta a boa comida. No primeiro ano, por “defesa”, o criador do The Presidential chamou apenas chefs Michelin. Era preciso garantir ao público que quem embarcasse na iniciativa encontraria pratos de referência. Este ano, o reconhecimento que obteve na estreia permitiu-lhe seguir por um caminho mais livre. O nível da cozinha mantém-se elevado, mas já não passa exclusivamente por chefs estrelados.
Em 2018, a linha vai ser essa: os quatro chefs escolhidos pertencem ao clube restrito da Michelin, mas os convites que ainda estão por fechar deverão garantir que há palco para nomes de qualidade que ainda não foram reconhecidos com essa marca. Gonçalo Castel-Branco não quer, ainda, divulgar quem serão os protagonistas. “Hoje, as pessoas já sabem que quando vão ao Presidential vão ter um chef incrível”, diz.
As datas já estão fechadas e o roteiro definido: haverá cinco fins de semana com viagens do comboio presidencial pela linha do Douro entre abril e maio e outros seis fins de semana, entre setembro e outubro de 2018.
Um comboio presidencial no Douro, duas estrelas Michelin na cozinha. All aboard?
O projeto, recorde-se, começou com uma visita ao Museu Nacional Ferroviário. Foi lá que Gonçalo Castel-Branco — que até tinha em mente um projeto na área musical — se deparou com o comboio presidencial criado em no final do século XIX para D. Luís e que depois seria “utilizado por todos os reis e Presidentes da República a partir desse momento até 1970”. Foi paixão à primeira vista. Quando, em casa, falou dessa descoberta à filha de dez anos, recebeu de volta um desafio: “Porque não fazes alguma coisa com comida?”. Nasceu o The Presidential. “Este projeto nunca foi sobre mim, é uma carta de amor a Portugal”, diz.