André Jordão criou um site de entrega de ração que faturou 500 mil euros. Vende oito toneladas por mês e até já doou 400 quilos a instituições de apoio a animais. Tudo isto, desde 2016. Com um crescimento tão rápido, vai alargar o negócio para Espanha em Dezembro e não quer só mudar o mercado de venda de comida para animais de estimação: quer ser uma referência no mundo do e-commerce (comércio online). O que precisou para chegar aqui? Uma startup falhada, saber que ia ser pai e dois cães.
O empreendedor tinha voltado de Berlim para Aveiro em 2015 quando soube que ia ser pai. Na bagagem, além de uma startup falhada, trazia também um caso de sucesso e bastante experiência no mundo do empreendedorismo. A Barkyn começou oficialmente em novembro de 2016, tinha o André 31 anos e a filha um ano, mas começou a ser pensada “uns tempos antes”, tendo iniciado as primeiras vendas no início de 2016. Teve a ideia para criar o serviço porque “tudo o que existe para animais de estimação está muito fragmentado” — mas, para perceber como tudo começou, é preciso ir a 2012.
Foi no ano em que Barack Obama foi’ eleito para o último mandato na Casa Branca que André Jordão trocou Portugal pela Alemanha. A Foodzai — a primeira startup que criou — tinha sido selecionada para ser incubada na Startupbootcamp, a filial em Berlim de uma das mais conhecidas incubadoras de empresas da Europa. A ideia era ambiciosa: aspirantes a cozinheiros fazem comida em casa e vendem-na para fora. “Falhámos por falta de timing“, confessa André ao Observador. No entanto, na Alemanha, conheceu o diretor de operações do Airbnb na Europa e criaram a sua segunda startup, a Wunder.
Da comida (para pessoas) passou às boleias. A Wunder Carpool é um serviço como o Uber em que literalmente toda a gente pode ser motorista. Os condutores com a app podem cobrar boleias dentro das cidades a outros utilizadores. Apesar de a Wunder se ter tornado bastante conhecida na Alemanha, voltou para Portugal por uma razão especial: ia ser pai pela primeira vez.
“Saí da gestão [da Wunder] porque entretanto tive uma filha e quis estar em Portugal, foi assim que nasceu a Barkyn, meio por acaso”, diz André.
Deixou a gestão da empresa e ficou apenas a deter uma percentagem da startup. Aterrado em Aveiro em 2015, ainda a tratar da sua saída da Wunder, começou a ter outra ideia. Com dois cães da raça lobo checoslovaco, percebeu a agonia que podia ser tratar de animais domésticos. “Tenho de ir aqui para comida, ali para veterinária, ali para petsitting [pessoas que ficam a tomar conta de cães]”. A experiência que tinha fê-lo pensar em criar a terceira startup da sua carreira: a Barkyn. O conceito é simples: todos estes serviços à distância de um clique no rato do computador. O conceito não é inovador, mas André, baseado no livro A Estratégia do Oceano Azul, de W. Chan Kim e Renée Mauborgne, afirma que está a criar “um oceano azul [metáfora para mercado não explorado e com potencial] num oceano encarnado [mercado explorado e sem potencial].
A diferença da Barkyn em relação à concorrência é querer ser um serviço que seja “parte da família como um animal de estimação também é”, diz André. Para isso, todas as encomendas vão assinadas à mão com o nome do cão e a empresa tem uma ficha do animal com todos os cuidados que deve ter na preparação. Outra das modalidades é os clientes poderem ter uma subscrição que garante as entregas de comida e outros produtos caninos sempre no dia certo. Para já, dos três mil clientes ativos, 50% opta por esta modalidade. Os produtos que vendem têm tido tanto sucesso que atores como Rita Pereira e Rui Unas já se assumem como fãs.
De uma garagem em Aveiro a um armazém na Maia
Foi há um ano que a Barkyn iniciou oficialmente as operações em maior escala, em novembro de 2016. Apesar de ter feito “uns testes antes”, que lhe deram algum sucesso (principalmente nas redes sociais), é com a entrada do sócio Ricardo Macedo, o atual chefe de operações da startup, que o projeto arrancou para “objetivos mais ambiciosos”, conta André.
Até março de 2017 era numa garagem “mesmo pequena “, perto da casa de André, em Aveiro, que geriam as encomendas. Com cada vez mais clientes satisfeitos e graças a partilhas no Instagram de cães a receberem a “caixa surpresa”, um dos produtos que vendem que tem mais sucesso nas redes sociais, foram angariando clientes e solidez suficiente para, em março de 2017, a Shilling Capital (um fundo de investidores portugueses) investir 100 mil euros na empresa.
Em abril a garagem mudou-se para um armazém na zona industrial da Maia para poder guardar as encomendas, que “quadriplicaram o volume” e começaram a gerar “entre 50 mil a 60 mil euros por mês”. Também começaram a aparecer as primeiras dificuldades. Uma das apostas da startup é na personalização dos pacotes, para “oferecer um experiência” ao consumidor.
“É uma coisa fácil de fazer com cinco encomendas por dia, mas quando temos 200 encomendas por dia já é muito mais difícil”, explica André Jordão.
Para isso a equipa aumentou também o volume. Atualmente são seis pessoas, entre os 24 e os 32 anos (“o mais velho sou eu”, diz André entre risos, que continua como presidente executivo) que compõem a equipa da Barkyn. E estão a planear aumentá-la brevemente. O crescimento rápido que tiveram não o preocupa muito. “A minha experiência dá-me uma segurança diferente, com menos áreas cinzentas: sou mais objetivo e perspicaz onde devo arriscar”, assume André.
Mesmo com muita concorrência “em toda a Europa”, André acredita que o serviço que oferece é disruptivo para o mercado de animais de estimação também graças aos produtos que vende. Apesar de a ração para cães poder ser da marca que o dono já compra para o seu animal de estimação, a caixa surpresa e outros produtos passam por uma escolha da startup, que compra a outras empresas.
A seguir a cães e Portugal? Gatos, Espanha e Alemanha
Depois de criar este serviço de entrega de ração e produtos para cães, a Barkyn quer passar também a miar — e brevemente a startup vai começar a oferecer os mesmo produtos também para gatos. Além disso, a expansão não é só no público alvo, é também geográfica. André Jordão não esqueceu a Alemanha: “Gosto muito do país do ponto de vista profissional”. Num futuro breve, poderá ser a próxima expansão da empresa, após o início das operações em Espanha.
Para já, a Barkyn vai-se mantendo no Porto, na UPTEC, a incubadora de empresas da universidade. Quanto a mudar-se novamente de cidade, André diz: “Não sinto dificuldades em estar no Porto em vez de estar em Lisboa, mas sim de estar em Madrid”. O empreendedor explica que, para um serviço de distribuição, é “muito mais fácil” estar no centro da península.
Com os cães a usarem o serviço e a filha já com dois anos, André continua fazer a aposta em promover o serviço nas redes sociais e em novas opções para os cães (e para os seus donos) poderem usufruir, como petsitting e veterinária. Assume que nunca vai ficar satisfeito a 100% com o próprio serviço, mas isso é “porque há sempre coisas para melhorar”.
*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.
Artigo corrigido às 02h13 de dia 3 de dezembro: onde se lia “diretor geral do Airbnb”, lê-se agora o cargo correto de “diretor de operações Airbnb na Europa”.