Quando era pequeno, os meus pais davam-me asas para tudo. Cresci dentro de um teatro: o meu tio é ator, a minha mãe pintava, o meu pai é um génio e o resto da família era bastante artista. Eram perucas, marionetas, máscaras. Devia ter 5 anos quando fiz uma improvisação para os meus avós e primos na sala de casa. Sendo um jovem romântico, acredito que o apoio e o amor da minha família foram incondicionais para esta vontade de querer e fazer coisas.

Isto também ajudou a construir a minha relação com os brinquedos. Lego, Playmobil, Super Mario, Star Wars, Toy Story eram e até hoje são os meus delírios. Muitas destas coisas foram-me apresentadas pelos meus pais. Ou seja, a Força é forte na minha família: o meu pai tem, eu tenho e a minha irmã tem…

Na escola, eram poucos os amigos que mergulhavam comigo neste mundo do ficcional e das brincadeiras. Consigo até contá-los pelos dedos de uma das mãos. Um bem-haja para estes irmãos guerreiros que ainda hoje são meus amigos!

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Mas havia outros do dark side que não curtiam muito a minha cena e eu não percebia muito bem porquê. Lembro-me que, uma vez, uma pessoa próxima disse que eu precisava de crescer e largar os bonecos, que só eu pensava nisso, que era um “babaca de merda”. Há frases proferidas pelos outros ao longo da vida que nunca esquecemos, não é mesmo?

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Confesso que, na altura, ainda adolescente, fiquei um bocado abalado com a frontalidade desta pessoa tão amarga. E eu, numa crise de pensamentos, a tentar procurar uma solução, não percebia qual era o mal de gostar tanto das minhas coisas. No desespero, dava vontade de levantar as mãos para o céu e dizer: “Ajuda-me Obi-Wan Kenobi. És a minha única esperança.”

Certo dia questionei o meu pai a caminho da escola:

— “Pai, qual o motivo das pessoas serem tão chatas e me perseguirem tanto na escola? Eu não fiz mal a ninguém”.

Deveria ter uns 12 ou 13 anos. Então, ele disparou:

— “Ainda não viste nada. Espera até virar adulto!”

Virei adulto.

[O trailer de “Os Últimos Jedi”:]

Em Portugal, encontrei amigos que, por pura sorte ou acaso do destino, estavam lá na hora certa e simpatizavam com as mesmas coisas que eu. Bonecada, jogos, séries, filmes, sagas, trilogias… Star Wars! Amigos que partilham, consciente ou inconscientemente, este mundo bom. O Francisco Abrunhosa, que tem um carinho grande pelas personagens secundárias da saga, como o Greedo, e que chamou à rede wifi de casa “OuterRim”. Ou o Miguel Carvalho, um amigo que acho ser das poucas pessoas a dizer com todo o gosto que “Star Wars I: A Ameaça Fantasma” é o melhor filme da saga. Bem, eu discordo, mas não estamos aqui para falar disso. Perdoo-o porque ele é uma espécie de Wookiepedia ambulante na minha vida.

– “Ó Miguel, o Snookie é o Mace Windu, não é”?
– Claro que não, meu! Esse já morreu e esta tua teoria não faz sentido algum.”

Ou o Nuno Markl, que tem uma cave incrível cheia de bonecada. Na primeira vez que lá fui, quase tive um ataque fulminante do miocárdio. Aquilo parecia um arsenal da Lucasfilms. O meu sonho de criança estava ali e um outro adulto amava aquilo tanto quanto eu. Perceberam?

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O tempo passou e aquilo que amamos na infância passa a ser parte do nosso quotidiano na vida adulta. Ao escrever estas histórias, por puro acaso, estou a vestir meias com desenhos da Aliança Rebelde e nem me tinha apercebido. Este acaso fez-me repensar e fazer um exercício: parar de escrever e procurar pelos cantos da casa todas as referências visuais que tenho da saga Star Wars.

Então, foi mais ou menos assim:

  • Senti sede e fui à cozinha, onde me deparei com um íman em forma de Stormtrooper e um BB-8 no frigorífico.
  • Fui ao quarto e tinha uma cabeça em tamanho real do Darth Vader em cima da minha cómoda.
  • Na sala, a coleção em DVD da primeira trilogia.
  • Na casa de banho, um gel de duche da Rey e do Kylo Ren.

Perceberam? É deste tipo de coisas que falo: os valores emocionais que Star Wars — ou qualquer outro movimento pop — nos concede são valiosos. Viva o merchandising!

Estive a pensar no motivo oficial para gostarmos tanto de Star Wars: acho que é por ter vestígios de infância boa. E é reconfortante saber que está a chegar um novo filme a celebrar mais uma história do universo criado por George Lucas. É bom saber que a Disney comprou isto tudo. É bom saber que A Força está estruturada e que nos próximos anos vamos ter mais filmes. E, mais importante: ser quem és, envelhecer a gostar do que quer que seja e poder partilhar isso com os amigos.

“Quando vejo alguém dizer que gostar de Star Wars é um sinal da infantilização do mundo moderno, tenho vontade de lhes dizer, do alto dos meus 46 anos: ‘Quem diz é quem é!’”

Foi o Nuno Markl quem o disse. E dito tudo isto, vou ouvir minha a playlist favorita do Star Wars — a do Lando:

Isto enquanto bebo um copo de leite azul na minha caneca que brilha do mestre Yoda.

Saudações deste vosso pequeno Padawan-dson.

Wandson Lisboa brinca com bonecos no horário de expediente e é designer gráfico nas horas livres. Junta as duas coisas numa conta de Instagram.