Uma empresa chinesa está a clonar cães para tratar doenças cardiovasculares. Os cientistas alegam ser por uma boa causa — o avanço na medicina –, mas, por outro lado, o assunto está a causar polémica, principalmente por parte daqueles que são defensores acérrimos dos animais.
Longlong é o nome de um clone de Apple, um cão cujo genoma foi alterado para desenvolver aterosclerose, segundo a CNN. Estes animais possuem agora informação genética codificada e vão ser utilizados pelos cientistas para estudar as possíveis curas para aquela que é umas das principais causas de acidentes vasculares cerebrais e de doenças cardíacas.
A SinoGeneclon, empresa responsável por estas clonagens, tem, para além de Apple e Longlong, mais dois cachorros com genes idênticos — Xixi e Nuonuo.
Os cães partilham com os seres humanos as doenças mais hereditárias, o que faz deles os melhores modelos de estudo”, afirmou o diretor técnico, Feng Chong.
De acordo com Feng Chong, o nascimento de Longlong marca a primeira vez que os cientistas combinaram duas biotecnologias de ponta: a combinação de uma ferramenta de edição de genes, CRISPR, com tecnologia de clonagem de células somáticas.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, em 2015, 17,7 milhões de pessoas morreram por esta causa.
As questões éticas
A PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) chamou a pesquisa da SinoGeneclon de ‘anti ética’, afirmando que “A clonagem não é só cara, mas também intrinsecamente cruel”.
Sabe-se que, na China, um dos países que mais utiliza os animais como cobaias, há uma grande lacuna na proteção dos seus direitos. Por ano, cerca de 20 milhões de animais, principalmente ratos, são utilizados como cobaias para testes laboratoriais, de acordo com o Instituto Nacional Chinês de Controlo de Alimentos de Medicamentos.
A autora do livro “Animals in China: Law and Society”, Deborah Cao, e professora na Universidade de Griffith, na Austrália, disse que o bem-estar destes animais é pouco protegido por lei e que “poucos relatórios sobre o uso e abuso de animais de laboratório na China foram feitos”.
A PETA defende que o dinheiro utilizado para clonar os animais devia ser utilizado para financiar animais que não têm um sítio onde ficar.
A vasta quantia de dinheiro utilizada para clonagem podia ajudar a salvar milhões de gatos, cães e outros animais de companhia que são sujeitos à eutanásia nos canis todos os anos, porque não há abrigos suficientes para eles”, afirmou Chi Szuching, representante da PETA na Ásia.
Por outro lado, os cientistas acreditam que o seu trabalho ajuda o desenvolvimento da medicina, acrescentando que os métodos agora utilizados não causam sofrimento nos animais — antes eram alimentados com doses extra de açúcar e gorduras para que os sintomas começassem a aparecer.
Sarah Chan, estudante de Bioética na Universidade de Edimburgo, Reino Unido, crê que este tipo de pesquisa num pequeno número de animais não traz grandes problemas éticos, mas, se feito numa larga escala, é preciso fazer um balanço entre os avanços científicos e o bem-estar animal.