Oito pessoas morreram e 46 ficaram feridas na sequência de um incêndio numa associação recreativa em Vila Nova da Rainha, no concelho de Tondela, onde decorria um torneio de sueca. Dos 46 feridos, 38 foram transportados para hospitais, mas nove desses já tiveram alta. Das 29 pessoas que permanecem internadas em hospitais na região de Coimbra, Porto e Lisboa, quatro ou cinco ainda estão em estado grave, revelou o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospital Tondela-Viseu, Cílio Correia, que fez um ponto da situação durante a manhã deste domingo.
“Têm queimaduras muito significativas, além de terem outras patologias. Havia doentes com amputações, obesidade mórbida e doenças metabólicas que vieram agravar e desequilibrar a situação clínica neste momento”, explicou o médico. O número elevado de feridos na sequência do incêndio obrigou à transferência de 16 pessoas para outras unidades hospitalares durante a noite. Segundo Cílio Correia, não se esperava que fosse necessário evacuar um número tão elevado de feridos porque, em alguns casos, “houve dificuldade em definir” se as vítimas “tinham a via aérea atingida”. “À medida que a situação foi evoluindo, foi se percebendo que precisariam de ventilação”, referiu.
De acordo com o responsável, cinco dos 16 feridos foram transportados para o Hospital de Coimbra e seis para os hospitais de Santo António, São João e Prelada, no Porto. Há outros quatro nos hospitais lisboetas de Santa Maria e São Francisco Xavier e o único menor ferido durante o incêndio (as restantes vítimas têm mais de 50 anos) encontra-se no Hospital Dona Estefânia, também em Lisboa. A jovem de 15 anos foi levada para a capital ao início da noite com queimaduras graves.
No Hospital de São Teotónio, em Viseu, continuam internadas 13 pessoas. Há mais quatro em Tondela. Destes, “dois estão na unidade de decisão clínica, há dois ventilados nos Cuidados Intensivos, sete em Otorrino e dois em cirurgias”. “Neste momento, a situação está controlada. Os doentes estão estabilizados”, referiu o responsável, adiantando que a maioria dos ferimentos são queimaduras na face, tronco e braços, uma vez que as pessoas tentaram proteger o rosto enquanto procuravam sair do edifício de dois andares.
Cílio Correia, que falou à RTP 3 durante a manhã, aproveitou a oportunidade para elogiar o trabalho e empenho de todos os envolvidos na operação de resgate, adiantando que um dos profissionais “foi atingindo por esta tragédia”. “Teve um irmão que morreu”, explicou. “Portanto, queria deixar esta nota de agradecimento, de grande profissionalismo e [dizer] que houve uma resposta que julgo que foi adequada dadas as circunstancias e tendo em conta o conjunto de doentes que foi atingido.”
Incêndio começou devido a uma salamandra
No local da tragédia havia na noite de ontem, após o incêndio, técnicos de segurança a fazer as primeiras peritagens, segundo informação da RTP 3. A GNR fixou um perímetro de segurança e interditou o acesso às instalações da associação onde deflagrou o incêndio. Um técnico disse à estação televisiva que ouviu testemunhas que garantiram que a porta de acesso à rua por onde as pessoas tentaram escapar ao fogo e ao fumo não teria uma barra anti-pânico destinada a facilitar a abertura em caso de emergência. A informação não foi ainda confirmada oficialmente.
Aos jornalistas que se encontram no local, Miguel David garantiu que já “não há mais vitimas para evacuar do local” e que os feridos serão agora alvo de uma avaliação mais profunda por parte das equipas hospitalares. As vítimas foram transportadas para os hospitais por três helicópteros do INEM e havia uma equipa de psicólogos a prestar apoio aos familiares das vítimas, que foi entretanto instalada perto do local do incidente.
O alerta foi dado pelas 21h45, numa altura em que se encontravam 70 pessoas no interior do espaço, onde decorria um torneio de sueca, realizado anualmente nos meses de janeiro e fevereiro. De acordo com o presidente da junta de Vila Nova da Rainha, o evento, realizado há 16 anos consecutivos, atraia muita gente de fora da freguesia e até do concelho. Das oito vítimas mortais, apenas quatro eram naturais da terra.
Numa outra sala, havia dezenas de pessoas a assistir na televisão ao jogo de futebol entre o Sporting de Braga e o Benfica. “Era um local de muito convívio onde se fazia muitos eventos, e este era um deles”, acrescentou o presidente em declarações à RTP 3, classificando como “muito inglório” tudo o que aconteceu, “para as pessoas e para esta comissão”.
As causas do incidente ainda não foram apuradas, mas as primeiras indicações são de que o fogo terá começado depois de uma explosão no sistema de aquecimento do espaço. De acordo com o presidente da Câmara Municipal de Tondela, José António Jesus, várias testemunhas relataram que terá sido a salamandra instalada no segundo e último piso da associação a causar do fogo. “Terá provocado uma forte ignição” e pegado fogo “ao teto falso”, adiantou aos jornalistas no local. “Tudo leva a crer que é essa causa inicial e que terá” criado “uma grande “densidade de monóxido de carbono”, que terá provocado “danos nas vias respiratórias e queimaduras” nas várias dezenas de pessoas — maioritariamente idosos — que se encontravam no interior do edifício.
Questionado pela RTP 3, o presidente da junta disse considerar que não existiam problemas de segurança. As pessoas entraram “em pânico”. “Uns caíram e encravaram a porta”, afirmou o autarca. Ao canal de televisão, o presidente da junta de freguesia de Vila Nova da Rainha adiantou ainda que a associação recreativa tem seguro, não sabendo contudo esclarecer se este abrange o acidente deste sábado.”Uma pessoa nunca pensa no que pode acontecer e quando acontece é que nos faz repensar muitas coisas mesmo”, desabafou.
As autoridades estão a” fazer as diligências” necessárias e também “todo o perímetro do edifício e de toda a zona envolvente”, referiu ainda Miguel David ao início da madrugada. Segundo a CMTV, já se encontram no local elementos da Polícia Judiciária (PJ).
Primeiro-ministro e Presidente da República acompanharam a situação
O primeiro-ministro falou com o presidente da Câmara Municipal de Tondela, e foram acionados “todos os meios”. De acordo com fonte oficial do Governo de António Costa, os serviços dos ministérios da Administração Interna, Saúde e Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, estão a acompanhar de perto os acontecimentos.
Também o Presidente da República acompanhou a situação. Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se a Vila Nova da Rainha no final da manhã deste domingo. Uma nota publicada no site da Presidência refere que Marcelo, “estando a acompanhar as informações sobre a nova tragédia que atingiu o concelho de Tondela, em Vila Nova da Rainha, expressa os seus sentidos sentimentos aos familiares das vítimas mortais e aos feridos que se encontravam na Associação Cultural, Recreativa e Humanitária daquela localidade”. O Presidente acrescenta que “é importante sublinhar o trabalho das equipas que se encontram no local, prestando auxílio aos feridos” e confirma que se deslocará “ao local no domingo ao fim da manhã, depois de terminada a fase crítica da operação de socorro”.
A Câmara Municipal de Viseu manifestou no Facebook “profundo pesar” e “solidariedade” ao município de Tondela na sequência do “trágico acidente ocorrido em Vila Nova da Rainha”. A edilidade de Viseu disponibilizou às vítimas os “meios de socorro e auxílio” de que dispõe.
O Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social ativou a Linha Nacional de Emergência Social através do número gratuito 144.