Seis meses depois do furto aos Paióis Nacionais de Tancos, o Exército fechou a porta à divulgação de dados sobre o caso. Ao Público, o porta-voz do ramo disse que os processos disciplinares instaurados a quatro militares com ligação à segurança daquelas instalações contêm “matéria pessoal” sobre os visados e que, por isso, “mais nenhuma informação será desclassificada”. A consequência mais clara dessa decisão resume-se numa frase: “O Exército não tem mais nada a revelar sobre o assunto”, disse ao jornal o tenente-coronel Vicente Pereira.
A sustentar a posição do Chefe do Estado-Maior do Exército está, segundo o porta-voz, a leitura da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos, que considera que não devem ser publicamente divulgados documentos que contenham informação pessoal. A decisão de Rovisco Duarte vai além daquilo que o general afirmou na semana passada, depois de concluídos os processos disciplinares dos militares, quando declarou que, “para o Exército”, o tema assalto aos Paióis de Tancos “é um assunto encerrado”.
O assunto ficou encerrado com a aplicação de sanções disciplinares a um sargento que “não mandou fazer as rondas como estava previsto na norma de execução permanente”. Foi-lhe aplicada uma proibição de saída durante 15 dias. Um oficial foi alvo de uma “repreensão agravada” porque, justificou Vicente Pereira, “podia ter ele próprio feito a ronda e não o fez” e um terceiro militar recebeu uma “repreensão simples” por não ter registado corretamente as entradas e saídas de cargas dos paióis, de que era responsável. O próprio ministro da Defesa disse no Parlamento, na última audição, que uma praça acusada de “incitamento à prestação de falsas declarações” já tinha cumprido seis dias de proibição de saída.
Tancos. Exército concluiu processos disciplinares a quatro militares
Em algum momento entre os dias 26 e 28 de junho do ano passado desapareceram dos Paióis Nacionais de Tancos foram assaltos várias peças de material de guerra. Quase quatro meses depois, esse material foi recuperado pela Polícia Judiciária Militar (PJM) numa zona baldia da Chamusca, na sequência de uma denúncia anónima feita através de uma chamada para o piquete desta polícia dando conta da localização exata do armamento e munições. Faltavam munições, mas havia uma caixa a mais do que aquela que tinha sido registada como tendo desaparecido dos paióis.
O Exército diz agora que não revela mais informações sobre este processo, mas há uma investigação que envolve inspetores da PJM e da Polícia Judiciária ainda sem desfecho — inclusive, sem arguidos constituídos. E foi o próprio general Rovisco Duarte quem, em entrevista à RTP, dias depois de ser tornado público o furto das instalações de Tancos, considerou que os autores do furto teriam “conhecimento do conteúdo dos paióis”, abrindo a porta a uma eventual fuga de informação. “Para haver algo deste género tem de haver informação interna”, concretizou. Sobre essas considerações tecidas pelo chefe do Exército no verão do ano passado não há, até ao momento, qualquer conclusão prática.