O guitarrista e compositor António Chainho completa hoje 80 anos e estreia em direto, através da rede social Facebook, um novo tema de sua autoria, “Samba Fado”, disse à agência Lusa o seu produtor.
A transmissão em direto está prevista para as 19:00 de Lisboa e, a acompanhar António Chainho, estarão os músicos Tiago Oliveira (viola), Manu Teixeira (percussões) e Leo Spinoza (baixo), segundo a mesma fonte.
António Chainho, com mais de 50 anos de carreia, começou a tocar no meio fadista, terminado o serviço militar obrigatório, durante o qual deu a conhecer os seus dotes musicais, numa digressão pelo território de Moçambique.
“Vim da minha aldeia, S. Francisco da Serra [no concelho de Santiago do Cacém, Beja], para Lisboa, em finais do ano de 1965, para tocar no restaurante típico A Severa, no Bairro Alto [em Lisboa]”, recordou à agência Lusa o músico, que assinala esta data como o início da sua carreira artística.
Anteriormente, tinha tocado no café do seu pai, datando de 1960 o seu primeiro contacto com o meio fadista, numa taberna na praça do Chile, em Lisboa, quando se apresentou ao serviço militar na capital, para o qual entrou em 1961.
Apontado como “um dos virtuosos da guitarra portuguesa” pela “Enciclopédia da Música em Portugal no século XX”, António Chainho acompanhou os mais diversos fadistas, destacando-se Carlos do Carmo, ao lado do qual esteve “durante mais de 20 anos”, mas também José Afonso, Rão Kyao, Gal Costa, Maria Bethânia, Adriana Calcanhotto, Saky Kubota, Hideco Tchokyba, Paco de Lucia e John Williams. Gravou um disco com a The London Philarmonic Orchestra.
No ano passado, o guitarrista inaugurou o ciclo “Um músico, um mecenas”, do Museu Nacional da Música, em Lisboa, com um recital em que interpretou peças suas, numa guitarra portuguesa construída em 1959, por Joaquim Grácio.
Em 2015, atuou no seu concelho natal, na igreja matriz, no âmbito do Festival Terras Sem Sombra, com o guitarrista alemão Jürgen Ruck, para o programa “O Tempo e o Modo: Diálogos entre Guitarras”.
Entre a sua discografia destacam-se “A guitarra e outras mulheres”, em que colaboraram, entre outras, Teresa Salgueiro e Nina Miranda, “Entre amigos”, com Camané, Ney Matogrosso e Fernando Alvim, entre outros, “Guitarra portuguesa”, “Ao vivo no CCB”, com Marta Dias, e “LisGoa”, que contou com a participação de Natasha Lewis, Sonia Shirsat e Remo Fernandes.
“Cumplicidades”, com que assinalou 50 anos de carreira, em 2015, é constituído por 18 temas, e conta com as participações de Paulo de Carvalho, Fernando Ribeiro, Hélder Moutinho, Pedro Abrunhosa, Paulo Flores, Filipa Pais, Ana Vieira e Vanessa da Mata.
As celebrações dos seus 50 anos de carreira passaram igualmente por vários países, nomeadamente por Espanha e Montenegro, e por um concerto a solo no grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
“A guitarra portuguesa era apenas vista como um instrumento ligado ao fado, e havia que a levar a respirar outras sonoridades. É o que tem acontecido e fico muito contente. Claro que o fado é indissociável da guitarra portuguesa, não é fado sem ela, mas há outras possibilidades, e atualmente há muita gente nova a tocar bem, a experimentar, o que é importante para o crescimento do instrumento”, salientou o autor de “Voando sobre o Alentejo”.
“Uma das coisas que atualmente me deixa feliz é existirem escolas de guitarra portuguesa, pelas quais me bati há mais de 20 anos”, realçou o músico à Lusa.
Referindo-se à sua criação musical, o músico afirmou que reflete “mestiçagens, fruto dos contactos com as músicas do mundo”.
“Tenho procurado traçar novos caminhos para guitarra portuguesa, e a minha música reflete as muitas viagens que fiz, os músicos com quem contactei e com quem trabalhei, procura o respirar as músicas do mundo”, rematou.