A composição das turmas no ensino básico influencia mais os resultados escolares do que o número de alunos em cada sala de aula, pelo que é mais eficaz repensar a combinação de alunos a incluir nas turmas do que reduzir o seu tamanho. A conclusão é de uma investigação publicada recentemente por investigadores portugueses, que defendem que as escolas devem ter em conta fatores pessoais relativos aos estudantes no momento de construir as turmas e não apenas o número de alunos.
De acordo com o estudo Class Composition and Student Achievement. Evidence from Portugal, dos investigadores João Firmino, Luís Catela Nunes, Ana Balcão Reis e Carmo Seabra, da Nova School of Business and Economics, da Universidade Nova de Lisboa, só uma redução bastante grande do número de alunos por turma tem efeitos significativos na aprendizagem dos alunos. Uma pequena redução, de dois ou quatro alunos por turma — a política seguida em Portugal –, só aumenta os custos, sem trazer benefícios significativos em termos pedagógicos.
“Dado que é provável que a redução do tamanho das turmas requeira um esforço financeiro que não é marginal da parte do sistema educativo, a reconfiguração da composição das turmas parece ser superior enquanto política alternativa“, lê-se nas conclusões do estudo.
Recorrendo à base de dados do ensino básico público português, os autores analisaram dezenas de alunos que no ano letivo de 2011/12 frequentaram o 6.º e o 9.º ano, cruzando dados pessoais — como a idade, sexo, habilitações dos pais, níveis de rendimento da família, acesso à Internet, acesso a apoios sociais — com as notas obtidas nas provas finais dos respetivos anos, e concluíram que há combinações de alunos que favorecem mais os resultados académicos.
“Olhámos para várias dimensões e na maior parte delas a conclusão é que as turmas devem ser construídas de forma heterogénea, com alunos misturados — mais bem preparados e menos bem preparados, com mais ou menos rendimentos familiares”, explica Ana Balcão Reis, uma das autoras do estudo, ao Observador. “O que estamos aqui a dizer é que se conseguem melhores resultados se houver uma atenção grande àquilo que é a constituição das turmas“, defende a investigadora.
A heterogeneidade não deve ser, contudo, completamente aleatória. Segundo concluem os investigadores, há combinações que beneficiam os alunos e outras que podem ser mais prejudiciais ao progresso pedagógico. Por exemplo, através da distribuição dos repetentes. Segundo o estudo, os alunos beneficiam mais se repetentes estiverem juntos com outros repetentes e se não repetentes partilharem a sala de aula com alunos da mesma idade. No que toca à idade, o estudo sustenta que deve existir alguma homogeneidade.
Nas outras dimensões — como o contexto socioeconómico ou as notas — as turmas beneficiam se forem mais heterogéneas. Para um determinado aluno que tenha notas baixas, a existência de uma percentagem muito elevada de alunos com maus rendimentos é prejudicial. Já a convivência com alunos com maiores rendimentos é benéfica.
“A composição heterogénea das turmas parece mais justa de um ponto de vista social, especialmente em dimensões específicas como as proporções de bons e maus alunos e de famílias com baixos rendimentos (…). No entanto, também encontramos provas de que encaminhar os alunos de acordo com o facto de terem tido alguma retenção no passado ou não” é positivo para o desempenho da turma, resumem as conclusões do estudo.
Para os autores, uma mudança de política educativa no sentido de pensar na configuração das turmas “permite aumentar o desempenho escolar sem custos adicionais, ao contrário da redução do número de alunos por turma, que aumenta os custos”.
“Não são precisos mais recursos para isso“, acrescenta Ana Balcão Reis, sublinhando que é necessário apenas “dar mais autonomia aos professores”, sem esquecer a monitorização. “Deixar que as turmas sejam constituídas pelos professores e depois olhar para os resultados para avaliar se funcionou”, explica a investigadora.