Os avisos do PCP sucedem-se: sem um investimento público decidido e renovado no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é impossível oferecer cuidados de saúde de qualidade. Esta terça-feira, em visita ao Hospital de Portalegre, João Oliveira, líder parlamentar do PCP, voltou a exigir mais investimento público para fazer face à falta de recursos humanos e técnicos dos hospitais.  O problema atinge, sobretudo, os que servem o interior do país, onde o maior desafio tem sido fixar médicos. No fim da visita, depois de passar por uma unidade de cuidados paliativos, João Oliveira disse aos jornalistas que o partido ainda está a “refletir” sobre a posição a ter quanto à eutanásia.

Num momento em que o Bloco de Esquerda se prepara para discutir na Assembleia da República o seu projeto de lei sobre a despenalização da morte medicamente assistida, resta saber qual será a posição dos comunistas em relação ao diploma. Com os deputados do PS e do PSD com liberdade de voto para decidir, com o CDS inclinado para votar contra, o PCP pode fazer pender a balança para um dos lados.

Nesta visita ao Hospital de Portalegre, em que a comitiva comunista passou pelos cuidados paliativos do hospital, João Oliveira foi desafiado a esclarecer a posição do PCP em relação ao projeto de lei sobre eutanásia. O líder parlamentar resistiu e garantiu que o partido ainda está a “refletir” sobre a questão.

Perante a pergunta — melhores cuidados paliativos ou despenalização da morte assistida –, João Oliveira defendeu que uma discussão é independente da outra. Sim, deve haver mais e melhor investimento público nos cuidados paliativos; a discussão sobre a eutanásia ainda não está fechada.

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PCP quer mais investimento na Saúde

“Quando tratamos do investimento e desenvolvimento do país, a área da saúde é uma daquelas em que mais evidentemente se constata a necessidade de intervenção pública. As necessidades de investir nos recursos humanos, dignificação das carreiras, condições de trabalho e adequação do número de profissionais às necessidades do SNS são absolutas”, afirmou o líder parlamentar comunista, durante a manhã do último dia de jornadas parlamentares do PCP.

As debilidades são reconhecidas por João Moura Reis, presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA), que conduziu a comitiva comunista e os jornalistas durante a visita ao hospital de Portalegre. Garantido que todas as unidades hospitalares do Alto Alentejo dispõem neste momento das condições necessárias em termos de infraestruturas e recursos técnicos, estando previstos mais investimentos estruturais nos próximos anos, o responsável acabou por lamentar o facto de ser muito difícil fixar médicos nesta região.

A situação é de tal forma dramática, reconheceu João Moura Reis, que há médicos que preferem devolver os benefícios que receberam para se fixarem no interior a trabalharem na região. Algo que ajuda a explicar o facto de “40%” dos cuidados de saúde dependerem da contratação de serviços e de haver especialidades, como a anestesia, a oftalmologia, otorrinolaringologia ou pediatria sem médicos nos quadros. “Os serviços não ficam sem resposta, são colmatados com prestação de serviços”, assegurou o responsável.

Segundo João Oliveira, no entanto, esta situação é insustentável. “A dificuldade de fixação de médicos em determinadas especialidades e enfermeiros tem consequências evidentes na estabilidade dos serviços de saúde, ao ponto de 40% dos cuidados de saúde dependerem da prestação de serviços, profissionais contratados, muitas vezes por avença, de fora do quadro dos hospitais”, notou o líder parlamentar comunista.

Para resolver este desafio, foi dizendo o líder parlamentar do PCP, é preciso dar mais incentivos aos médicos para que se possam fixar no interior. Não basta criar mais vantagens remuneratórias, é preciso criar condições para uma mais fácil progressão nas carreiras e garantir benefícios sociais e familiares para que médicos e respetivas famílias se possam fixar na região.

Durante a visita, os deputados do PCP acabaram por ser confrontados com cerca de uma dezena de macas dispostas no corredor das urgências do hospital. À saída, confrontado pelos jornalistas, Jorge Moura Reis garantiu que aqueles doentes estavam “em trânsito” para “novos exames” ou “internamento” e que a situação “era muito temporária”.