Solitário, problemático e “maluco por armas”: assim é descrito Nikolas Cruz, acusado de 17 homicídios premeditados na Marjory Stoneman Douglas High School, na Florida. Cruz, de 19 anos, é um antigo aluno dessa mesma escola da qual foi expulso por razões disciplinares — as quais levaram a piadas entre alunos de que, se alguém protagonizasse um tiroteio em Marjory Stoneman Douglas, seria ele.

Nikolas Cruz foi detido num bairro próximo, em Coral Springs, pouco tempo após o massacre, que se tornou num dos dez maiores da história moderna dos Estados Unidos — cinco dos quais foram nos últimos três anos. Suspeita-se de que Cruz acionou o alarme de incêndio para atrair mais pessoas e assim conseguir maior número de vítimas.

[Veja no vídeo as imagens e sons do tiroteio. E a emoção em direto do especialista em contra-terrorismo da CNN]

[jwplatform 5H2rE3JL]

De acordo com a polícia, Cruz estava armado com uma espingarda semi-automática AR-15 e tinha vários cartuchos. A arma em questão foi comprada em 2017, tendo o atirador passado com sucesso por todos os processos de investigação necessários para a sua aquisição.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tiroteio em escola na Florida provoca 17 mortes

Um dia após o massacre na Flórida começam a surgir detalhes acerca do suspeito, principalmente do seu comportamento, da sua presença nas redes sociais e do seu enquadramento familiar.

Foi expulso de duas escolas privadas e “andava sempre com armas”

Na escola, Cruz era “uma espécie de marginal” e “não tinha muitos amigos”, disse à Reuters Chad Williams, aluno de 18 anos. A mãe de uma aluna, Amanda Samaroo, revelou ao The New York Times que Nikolas Cruz ” era conhecido por estar mentalmente doente” e “matava animais”.

Brandon Minoff, que participou num trabalho de grupo com Nikolas Cruz, contou à CNN que o suspeito “parecia sempre muito calmo e estranho”, não se relacionava com ninguém mas, “quando lhe era dada a oportunidade, gostava de falar”, tendo revelado a Minoff que “foi expulso de duas escolas privadas”, tinha “aspirações de se alistar no exército” e “gostava de caçar”.

Um antigo colega de turma, Eddie Bonilla, revelou que “ele andava sempre com armas” e que foi “expulso o ano passado” por causa disso.

Muitos de nós fazíamos piadas em que dizíamos que ia ser ele a fuzilar a escola. Acontece que toda a gente o previu. É de loucos”, confessou.

Pouco se sabe do aproveitamento escolar de Nikolas, a não ser que, segundo a CNN, esteve envolvido no programa Junior Reserve Officers’ Training Corps (JROTC), o qual é patrocinado pelas forças armadas e tem como objetivo valores de cidadania, serviço aos Estados Unidos e responsabilidade. Cruz foi um aluno de mérito, recebendo vários prémios por manter uma nota “A” durante o JROTC e “B” nas restantes disciplinas, bem como por demonstrar boa apresentação e conduta.

Cruz tinha perfil online “muito, muito perturbador”

O conteúdo publicado por Nikolas Cruz nas redes sociais foi descrita pelo xerife do condado de Broward como sendo “muito, muito perturbador”. Na sua conta de Instagram, entretanto eliminada, o suspeito publicava maioritariamente fotos de armas, aparecendo a empunhar uma caçadeira, uma pressão de ar e várias facas. Uma fotografia mostrava uma caixa repleta de munições e outra várias espingardas espalhadas pela cama.

No YouTube e noutros sites, de acordo com a CNN, Cruz deixou comentários como: “eu quero matar pessoas com a minha AR-15”, “eu quero morrer a lutar, a matar uma tonelada de pessoas” e “eu vou matar forças da autoridade um dia, se eles foram atrás das pessoas boas.”

Apesar do teor das publicações, Robert Runcie, superintendente das escolas de Broward, disse aos jornalistas que não receberam “quaisquer avisos”, “chamadas” ou “ameaças”.

Foi adoptado, mas ficou “por sua conta” após morte dos pais adoptivos

Não é sabido com que idade Nikolas Cruz foi adoptado por Lynda Cruz, apenas que tinha um irmão, Zachary, também ele adoptado pela mãe. O pai adoptivo de ambos morreu há mais de uma década, vítima de ataque cardíaco. Uma antiga vizinha da família, Hellen Pasciolla, contou ao The New York Times que a mãe tinha bastantes problemas com o comportamento de ambos, revelando que por vezes tinha de chamar a polícia para lidar com os filhos.

Há mais de três meses, no dia 1 de novembro de 2017, a mãe adoptiva dos irmãos morreu vítima de pneumonia. Kathie Blaine, prima de Lynda Cruz, conta que “Nikolas estava por sua própria conta” após a morte da mãe. “Tem 19 anos. É um adulto por sua conta. Neste ponto, não compreendo mais do que qualquer um”, disse à CNN, acrescentando ainda que “nunca o conheceu”.

Segundo Jim Lewis, advogado, Nikolas foi acolhido pela família de um amigo seu após a morte da mãe. Lewis, que representa a família no caso, contou à CNN que “eles ofereceram-lhe uma casa e tentaram ajudar o miúdo porque ele não tinha mesmo mais nenhum sítio onde ficar”. O advogado disse ainda que a família está a colaborar por completo com as autoridades, que têm um mandado de busca para o quarto de Cruz.

A família, explica Lewis, ainda não está preparada para prestar declarações. “Estão de coração partido”, revelou. “Eles preocupavam-se com este miúdo e queriam mesmo ajudá-lo.”