O diretor executivo da ONG Oxfam, imersa num escândalo de abusos sexuais que aconteceram no Haiti após o terramoto de 2010, deu uma entrevista ao jornal The Guardian onde pôs em causa as críticas dirigidas à organização que dirige.

“A intensidade e a ferocidade dos ataques leva-me a pensar: o que é que fizemos? Matámos bebés no berço? Honestamente, a escala e a intensidade dos ataques parecem desproporcionados para o nível de culpabilidade. Custa-me compreender isto. Uma pessoa pensa: ‘Meu Deus, talvez esteja a acontecer algo aqui’.”, disse Mark Goldring, numa entrevista publicada este sábado por aquele jornal britânico.

Estas declarações surgem depois de ter sido noticiado que a Oxfam sabia que membros da sua missão de apoio à população do Haiti, na sequência do terramoto de 2010, abusaram sexualmente e promoveram a prostituição naquela ilha. Os funcionários da Oxfam, com o chefe de missão Roland van Hauwermeiren à cabeça, teriam a prática de exigir favores sexuais em troca de ajuda humanitária.

“Foi tudo feito com boa-fé”

Estes incidentes foram conhecidos internamente na Oxfam em 2011, mas só foram tornados públicos a 9 de fevereiro deste ano, pelo jornal britânico The Times. A Oxfam está a ser criticada por ter demitido toda a sua equipa destacada para o Haiti sem ter tornado o caso público, o que lhe tem valido acusações de querer encobrir o escândalo.

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“Foi tudo feito com boa-fé e para tentar encontrar um equilíbrio entre a transparência e a proteção do trabalho da Oxfam”, disse Mark Goldring, que é diretor-executivo da Oxfam desde 2013, ao The Guardian. “Não acho que a Oxfam queira promover um escândalo e danificar o cumprimento do programa no Haiti. Olhando para trás, devíamos ter dito mais. Eu tenho dito isso de forma clara desde que isto foi tornado público. Mas o ramo da Oxfam é o salvamento de vidas. Se uma organização existe para ajudar a fazer este mundo um sítio melhor, compreendo que tivesse havido quem achasse que isso era o melhor a fazer.”

Mark Goldring fez questão de sublinhar que, à data dos incidentes e da consequente expulsão dos membros da missão no Haiti, ainda não trabalhava na Oxfam. “Quando entrei na Oxfam em 2013, fui informado de que tinha havido incidentes no Haiti em 2011. Sabia que como consequência, a Oxfam implementou uma nova abordagem para denúncias anónimas, uma nova abordagem para linhas de apoio, até criou uma equipa. Por isso, eu só soube [dos incidentes no Haiti] porque houve melhorias que aconteceram depois.”

A revelação tem custado à Oxfam o cancelamento de vários donativos privados; o abandono por parte de embaixadores, como o Prémio Nobel Desmond Tutu; e provocou um debate em torno da contribuição dos cofres estatais britânicos para aquela ONG.

Entre os maiores críticos do uso de dinheiro público para ajuda humanitária internacional é Jacob Rees-Mogg, que se perfila como hipotético futuro líder do Partido Conservador e uma das principais caras do setor mais à direita dentro do partido de Theresa May.