Milhares de motociclistas iniciaram na tarde deste domingo concentrações em várias cidades do país, em protesto contra “a farsa das inspeções às motos” e “manipulação da sinistralidade” rodoviária.

Segundo António João, do Grupo de Ação Motociclista (GAM), que organiza a concentração, afluíram ao Rossio, no centro de Lisboa, cerca de três mil motociclistas. Os motociclistas programaram um desfile em Lisboa, que terminou no Ministério da Administração Interna, no Terreiro do Paço, onde entregaram um manifesto.

“As vítimas na estrada não podem ser usadas para justificar a implementação de medidas que nada têm a ver com as causas dos seus acidentes”, diz-se no documento.

“Fomos recebidos por um assessor do senhor secretário de Estado [da Proteção Civil, José Tavares Neves], que pareceu dar-nos alguma esperança de que as coisas a partir daqui vão receber outro tratamento”, disse em declarações à TVI António Manuel, um dos organizadores da manifestação.

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“Nesta conversa, foi-nos aberta alguma esperança de que venham a ser implementadas outras medidas por parte do ministério”, acrescentou o membro do GAM, que referiu ter sido proposto pelo Governo a criação de campanhas de prevenção rodoviária. “Isso já seria muito bom”, disse o motociclista.

Nas ruas nas imediações da Assembleia da República, onde o desfile passou, os motociclistas foram recebidos pelo deputado Miguel Tiago, também ele motociclista. O comunista garantiu que o grupo parlamentar do PCP não aceitará “que a sinistralidade dos motociclistas seja justificação para tomar medidas que nada têm a ver com a sinistralidade”.

“Não aceitamos que manipulem os dados”, disse o deputado, manifestando-se também contra a reversão da chamada “lei das 125 cc” (que permite a quem tem carta de condução de veículos conduza motos até 125 centímetros cúbicos), porque a lei “não tem qualquer relação com o aumento da sinistralidade”.

Manifestações em todo o país

Além de Lisboa, o protesto reúne centenas de motociclistas no Porto e em Faro, estando ainda previstas concentrações em Coimbra, no Funchal e em Ponta Delgada.

Mais de mil motociclistas iniciaram, pelas 16h00, na avenida dos Aliados, no Porto, um desfile de 10 a 12 quilómetros, numa coluna de “cerca de 150 metros”.

Este “passeio” foi acompanhado por cerca de 25 elementos da polícia, indicou, em declarações à Lusa, António Antunes, subcomissário da Divisão de Trânsito da PSP do Porto.

O desfile passou pelas ruas das Carmelitas, Sá da Bandeira, Gonçalo Cristóvão, Praça da República, rua e rotunda da Boavista, rua Júlio Dinis, Palácio de Cristal, Hospital de Santo António e Clérigos, até à avenida dos Aliados, ponto de partida da iniciativa onde, pelas 15:30, estavam concentradas “mais de mil motos e cerca de 1.500 pessoas”, segundo António Antunes.

Também em Faro centenas de motociclistas iniciaram na tarde deste domingo o protesto organizado pelo GAM.

Neste protesto, os motociclistas contestam “a manipulação dos indicadores de sinistralidade e do respetivo número de vítimas, em prol de ‘lobbies’ económicos” e a proposta de obrigatoriedade das inspeções às motos, “que não vão alterar os índices de sinistralidade”, segundo um comunicado dos promotores.

Governo volta a receber motociclistas na terça-feira

Em janeiro, o ministro da Administração Interna anunciou que as inspeções periódicas a motociclos vão avançar no primeiro semestre de 2018, justificando esta medida com o aumento do número de acidentes mortais com motociclos em 2017.

Fonte do Ministério da Administração Interna disse à Lusa que o secretário de Estado da Proteção Civil, José Tavares Neves, vai receber, na terça-feira, a Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) e a Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), após terem pedido uma audiência ao ministro.