O arcebispo norte-americano Anthony Sablan Apuron foi esta sexta-feira condenado por abuso sexual de menores por um tribunal do Vaticano. De acordo com um comunicado da Santa Sé, o Tribunal Apostólico da Congregação para a Doutrina da Fé considerou Apuron culpado e aplicou-lhe duas penas canónicas: a destituição do seu posto de arcebispo e a proibição de residir na arquidiocese norte-americana de Agana, nas ilhas de Guam, no Oceano Pacífico, que liderava até hoje.
A sentença conhecida esta sexta-feira é de primeira instância, pelo que o arcebispo ainda poderá recorrer para as instâncias superiores dos tribunais da Cúria Romana.
Se não houver recurso, a sentença torna-se final e definitiva. Se houver recurso, as penas impostas ficam suspensas até à resolução final“, explica o comunicado da Santa Sé.
O juiz que presidiu a este julgamento foi o cardeal norte-americano Raymond Burke, antigo presidente do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica e considerado um dos grandes opositores do papa Francisco — foi um dos quatro cardeais que assinaram as famosas dubia e tem sido o rosto dos que acusam o Papa de lançar a confusão sobre questões de moral familiar ao admitir a possibilidade de os divorciados recasados acederem aos sacramentos.
Em causa estão acusações que remontam à década de 1970, altura em que o arcebispo teria abusado sexualmente de vários rapazes na diocese. Em 2010, em resposta aos rumores que começaram a surgir relativamente a estas acusações, a arquidiocese de Agana decidiu apelar a todos os que tivessem informações concretas sobre abusos sexuais por parte de membros do clero da região levassem os casos às autoridades civis.
De acordo com um artigo publicado em 2010 no jornal Marianas Variety, publicação regional das ilhas da Micronésia, a arquidiocese de Agana emitiu um comunicado em que encorajava estas denúncias.
Encorajamos fortemente que qualquer pessoa que tenha informações relativas às alegações de abusos sexuais que se chegue à frente e reporte essas alegações às autoridades civis apropriadas. Além disso, a nossa porta também está aberta para ouvir essas alegações”, lia-se no comunicado.
A primeira pessoa a trazer a público acusações concretas foi John Toves, que em 2014 acusou o arcebispo de ter abusado sexualmente do seu primo, décadas antes. O clérigo negou a acusação e ameaçou que iria processar John Toves por difamação. Não houve investigação porque a vítima não apresentou queixa.
Mais tarde, em 2016, surgiram as primeiras acusações por parte de vítimas. Roy Quintanilla e Roland Sondia, dois antigos acólitos da diocese, testemunharam num tribunal do Havai e afirmaram que o arcebispo tinha abusado sexualmente deles na década de 1970.
Vaticano revela que Papa Francisco se encontra com vítimas de abusos sexuais várias vezes por mês
Em 2016, depois de Anthony Sablan Apuron ter banido um grupo religioso que defendia as vítimas de abusos sexuais, o papa Francisco decidiu intervir diretamente no caso e suspendeu-o preventivamente, colocando o bispo coadjutor Michael Jude Byrnes como líder da diocese.
Em fevereiro do ano passado — já depois das polémicas com a Ordem de Malta que aumentaram a tensão entre o Papa e o cardeal Raymond Burke –, o Vaticano nomeou o cardeal norte-americano para presidir ao julgamento e enviou-o para as ilhas de Guam para investigar pessoalmente o caso.