A Fundação Calouste Gulbenkian decidiu “pôr termo à negociação que decorria com a CEFC China Energy para a venda da Partex”, informou esta sexta-feira a fundação.
“Na sequência das notícias recentes vindas a público sobre a situação do grupo chinês e face à incapacidade desta empresa em as esclarecer cabalmente junto da Fundação, concluiu-se que não existem condições para continuar as conversações”, pode ler-se no comunicado.
A intenção de venda mantém-se, contudo. “Mantendo inalterada a sua opção estratégica relativamente à nova matriz energética, a Fundação dará continuidade ao processo de venda da Partex, tendo em conta os melhores interesses da Fundação e da empresa”, diz a fundação.
Quem são os chineses que querem comprar o petróleo da Gulbenkian
A decisão da Gulbenkian terá sido comunicada nos últimos dias aos responsáveis da CEFC e surge depois de serem conhecidas investigações promovidas pelas autoridades chineses ao grupo, e em particular, ao seu presidente Ye Jianming, que terá sido afastado do cargo e da própria estrutura acionista da empresa. De acordo com informação recolhida pelo Observador, não terá sido apenas a questão reputacional a determinar o romper das negociações.
Foram efetuados vários pedidos de esclarecimento ao grupo CEFC que envolviam também questões financeiras e relacionadas com a operação de venda, que não foram clarificadas de forma considerada suficiente. O negócio não estava a avançar e a Gulbenkian decidiu não continuar com o processo, uma decisão facilitada pelo facto de não existir nenhum acordo entre as parte, mas apenas negociações exclusivas.
Líder de grupo chinês que quer comprar Partex e Montepio Seguros foi afastado
Ainda antes de serem conhecidas as investigações chinesas aos alegados crimes económicos imputados ao fundador da CEFC, já existiam dúvidas sobre o grupo que estava a negociar a Partex. Um grupo privado, mas com ligações ao Partido Comunista chinês, que cresceu muito rapidamente e sobre o qual pouco se sabia. Na justiça americana corria um inquérito sobre suspeitas de corrupção em África que envolviam a empresa chinesa e um responsável por uma organização não governamental financiada pela CEFC.
A presidente da Fundação, Isabel Mota, tinha sido aconselhada a fazer uma due-dilligence rigorosa antes de fechar a venda que teria também de receber a luz verde do Governo. Terá sido aliás por via deste processo de escrutínio que a Gulbenkian decidiu afastar-se da CEFC. Mas a venda da Partex continua de pé e será retomado o processo de procura de investidores.
Montepio diz que mantém contactos com a CEFC para venda dos seguros
A CEFC aparece em Portugal por via de uma parceria com a associação mutualista Montepio. mais tarde veio e evoluir para um acordo de compra da seguradora do grupo liderado por Tomás Correia, cujo desfecho é agora incerto. A operação estava a ser analisada pela autoridade de supervisão dos seguros. Fonte oficial da associação mutualista, citada pelos jornais Eco e Negócios, já veio entretanto afirmar prosseguem os contados do investidor chinês para a compra dos seguros, com o Montepio (associação) e o regulador.
Uma notícia recente do jornal Público, com base numa ata do conselho de administração da mutualista, revelava que Tomás Correia disse aos colegas do conselho que o grupo chinês tinha sido encaminhado para o Montepio depois de uma reunião com o gabinete do primeiro-ministro. Logo nesse dia, o gabinete de António Costa desmentiu ter feito qualquer encaminhamento para a associação mutualista, tendo apenas confirmado que a CEFC foi recebida, tendo manifestado interesse em investir em Portugal.
A compra do petróleo e gás da Gulbenkian não é o único negócio da CEFC a cair depois de conhecido o afastamento do seu fundador. O grupo suspendeu o projeto de comprar a maioria do capital de um grupo financeiro checo, país onde a CEFC tem vários investimentos. Há notícias de cancelamento de uma emissão de obrigações e congelamento de contas de uma subsidiária. Também não há um calendário para a anunciada compra de 14% da petrolífera russa Rosneft, uma operação de nove mil milhões de dólares que colocou a CEFC nos radares mundiais de negócios no ano passado.