A ETA emitiu um comunicado em que pede perdão a vítimas pelos atos de terrorismo, que provocaram a morte de mais de 850 pessoas em cinco décadas repletas de assassinatos e sequestros, de acordo com o jornal El País. Ao longo do comunicado, publicado nos jornais Gara e Berria, a organização terrorista admite que causou um “sofrimento desmedido” ao longo de décadas, com “mortos, feridos, torturados, sequestrados, pessoas que foram obrigadas a fugir para o estrangeiro” e que o “conflito histórico e político” tem de terminar.
Um perdão, contudo, que se revela seletivo, uma vez que o pedido é dirigido apenas às vítimas que, segundo os terroristas, não estavam “diretamente relacionadas com o conflito”. Aos agentes de segurança, como política e militares, bem como aos políticos assassinados durante a sua campanha terrorista, a ETA limita-se a reconhecer “os danos causados e o sofrimento que passaram”.
“Queremos mostrar respeito aos mortos, aos feridos e às vítimas que as ações da ETA causaram”, escreve a organização, acrescentando que “a ETA também provocou vítimas que não tinham uma participação direta no conflito” dentro e fora do País Basco, que foram consequência, escreve, de “decisões erradas”.
Os nossos atos prejudicaram cidadãos e cidadãs sem qualquer responsabilidade. Também provocámos graves danos sobre os quais não há volta a dar. A estas pessoas e às suas famílias pedimos desculpa. Estas palavras não vão resolver o que aconteceu, nem mitigar a dor”, pode ler-se no comunicado.
O grupo — que, de acordo com a agência espanhola Efe, vai anunciar a sua dissolução a 5 de maio, no País Basco francês — escreve ainda que entende e respeita quem considera que a sua atuação foi “inaceitável e injusta” e aponta que “oxalá nada disto tivesse acontecido, oxalá a liberdade e a paz tivessem criado raízes no País Basco há muito tempo”. Apesar de nada poder alterar aquilo que se passou, escreve a ETA, hoje não se podem ocultar os episódios do passado.
A ETA expressa o “reconhecimento e respeito” por todos aqueles que sofreram e quer uma “reconciliação” com o povo basco — um dos objetivos a ser concretizado. “É um exercício necessário conhecer a verdade de forma construtiva, sarar feridas e construir garantias de que esse sofrimento não volta a acontecer. Dando uma solução democrática ao conflito político pode construir-se a paz e alcançar liberdade”, conclui o comunicado.