Sofrer uma fratura no pénis não é uma situação muito comum. Menos comum é procurar ajuda médica para resolver o problema. Mas muito menos comum do que isso é escrever um livro a contar a experiência. Foi o que decidiu fazer Ross Asdourian, antigo diretor creativo da rede de televisão e rádio norte-americana NBC, com o livro “Broken Banana” (“Banana Partida”).

“Esta é a história engraçada/não tão engraçada do acidente, da recuperação e de toda a dor, amor e da filosofia entre eles”, escreveu o autor na plataforma de recolha de fundos Kickstarter, onde angariou dinheiro para o livro. “Umas quantas pessoas ajudaram-me a fazer xixi, incluindo a minha mãe, enquanto vagueava por Nova Iorque preso a um tubo para urinar durante um mês.”

Tudo aconteceu — como pode prever que tenha acontecido — enquanto tinha relações sexuais. Uma manobra imprevista e ouviu um som, como se algo se estivesse a romper. E estava mesmo. A fratura peniana não é, no entanto, a quebra de nenhum osso, porque o pénis não tem nenhum osso. Mais corretamente deve chamar-se rutura dos corpos cavernosos — o tecido responsável pela ereção.

Os corpos cavernosos são duas estruturas esponjosas, mais ou menos cilíndricas, que partem da base do pénis e se estendem ao longo da uretra. A forma menos grave de fratura peniana implica a rutura de um destes corpos cavernosos. Mas também pode acontecer a rutura de ambos — ainda assim não é a forma mais grave. A rutura do corpo esponjoso — que envolve a uretra e forma a glande — e, no limite, a rutura da própria uretra (que transporta a urina da bexiga para o exterior), são os casos mais graves. O acidente de Ross Asdourian, de 32 anos, foi deste tipo, com a rutura total da uretra. O mais urgente era reparar a uretra de forma a que voltasse a urinar sem problemas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A ereção acontece quando o sangue enche os corpos cavernosos, que tal como uma esponja têm a capacidade de reter muito líquido. À volta dos corpos cavernosos existe um tecido, a tunica albuginea, que confere a rigidez à ereção. Se esta túnica for sujeita a muita pressão pode romper, dando origem à fratura peniana.

Ross Asdourian percebeu imediatamente o que tinha acontecido e foi logo levado para o hospital. O que não podia esperar era a gravidade da situação — a rutura da uretra —, porque esta situação é muito, muito rara. O autor, descrito na Amazon como “escritor de comédia, narrativa e email há 15 anos” teve azar.

“Pode sempre ser pior. Lembra-te disso, pode sempre ser pior. Ainda está agarrado. Pode sempre ser pior”, lembra o autor no início do livro.

Mais ou menos grave, a situação pode ser resolvida, explicam os médicos ouvidos pela CNN. “O mais triste é que os doentes têm, normalmente, vergonha de ir ao médico ou às urgências”, disse Jack Mydlo, professor de cirurgia urológica na Universidade Temple. “Normalmente, estes tipos são novos e têm uma vida inteira pela frente. Porque é que hão-de sofrer em silêncio? Não devia ser embaraçoso. Acontece. Vamos arranjar.

Ross Asdourian foi submetido a uma cirurgia de três horas onde fez a reparação da uretra. Teve de andar algum tempo ligado a um tubo para poder urinar, mas ao fim de quatro semanas estava recuperado dessa função. Ao fim de alguns meses tinha também recuperado a função sexual, segundo o médico que tratou o autor do livro, Rajveer Purohit, diretor de urologia reconstrutiva no Hospital Mount Sinai (Nova Iorque).

Para acontecer uma fratura peniana o pénis tem de estar ereto, mas não acontece apenas durante as relações sexuais. Tentativas mais agressivas para tentar esconder a excitação, masturbação ou ereções noturnas também podem provocar acidentes. Se ouviu um estalido e quer saber se realmente aconteceu, pode verificar se o pénis ficou com um edema (inchaço causado pela acumulação de líquido) ou se ficou com uma “angulação peniana contra-lateral”. O tratamento existe e é eficaz.