Novos documentos enviados pelo procurador Rosário Teixeira, titular da Operação Marquês, permitiram aos magistrados do caso EDP perceber que, afinal, os pagamentos feitos pelo Grupo Espírito Santo (GES) a Manuel Pinho poderão ter chegado a um total de cerca de 2 milhões de euros.
A notícia é da revista Visão que revela que o ex-ministro da Economia do Governo Sócrates recebeu mais de 700 mil euros entre 2002 e 2006 da Espírito Santo (ES) Enterprises, o famoso ‘saco azul’ do GES, através de uma quarta sociedade chamada Meset II.
Instado a reagir pelo Observador, Ricardo Sá Fernandes, advogado de Pinho, afirmou que “desconheço o que quer que seja sobre essa matéria, mas o que houver que ser esclarecido, não deixará de o ser logo que tenhamos acesso aos elementos necessários”. Recorde-se que Manuel Pinho apenas foi constituído arguido no caso EDP pelos crimes de corrupção e de participação económica em negócio mas ainda não foi interrogado e confrontado com os factos que constam dos autos.
Até agora, sabia-se, tal como o Observador noticiou em exclusivo, que Manuel Pinho tinha recebido da ES Enterprises cerca de 1 milhão de euros (exatamente 1.032.511, 86 euros) entre 18 de outubro de 2006 e 20 de junho 2012 através da já igualmente famosa sociedade offshore chamada Tartaruga Foundation, com sede no Panamá. Sempre através de uma transferência mensal do mesmo valor: 14.963,94 euros.
Ou seja, enquanto foi ministro da Economia do Governo Sócrates, mandato que exerceu entre março de 2005 e julho de 2009, Pinho recebeu um total de cerca de 508 mil euros.
Caso EDP. Pinho recebeu meio milhão do GES quando era ministro. Ricardo Salgado vai ser arguido
Tais transferências, de acordo com o procurador Carlos Casimiro e Hugo Neto terão sido realizadas “por ordem de Ricardo Salgado” ao “aqui arguido, ex-ministro da Economia, Manuel Pinho”. Para os magistrados, a explicação para esses pagamentos é clara: “Beneficiar esses grupos empresariais [Banco Espírito Santo/Grupo Espírito Santo] e a EDP (do qual o BES era acionista) durante o tempo em que exerceu tais funções públicas” no Governo de José Sócrates.
Estes factos fizeram com que Ricardo Salgado, ex-presidente executivo do BES, tivesse sido constituído arguido no caso EDP no dia 20 de abril, tal como Observador já tinha antecipado.
Além deste 1 milhão de euros recebido entre 2006 e 2012, que terá servido para financiar a compra de um apartamento em Nova Iorque em junho de 2010 por cerca de 1,2 milhões de dólares e que se encontra registado em nome da sociedade offshore Blackwade Holding Limited, Pinho também recebeu cerca de 315 mil euros entre 2012 e 2014 da ES Enterprises mas sem ser através de sociedades offshore. De acordo com as informações contidas em documentos da ES Enterprises que o Observador começou a revelar desde janeiro, as transferências foram realizadas para contas abertas em nome pessoal de Manuel Pinho no Banque Privée Espírito Santo (BPES), o banco suíço do GES. Nesse período, Pinho foi vice-presidente do BES África.
Os dados agora noticiados indicam que os pagamentos do ‘saco azul’ do GES para a Meset II iniciaram-se, no mínimo, a partir de julho de 2002, quando Manuel Pinho era administrador executivo do BES e de várias sociedades do GES. Quando tomou posse como ministro do Governo Sócrates e até criar a sociedade offshore Tartaruga Foundation, a Mesete II continuou a receber transferências regulares do GES.
Segundo a Visão, Manuel Pinho terá recebido cerca de 793 mil euros enquanto foi ministro da Economia através das suas sociedades offshore Mesete II e Tartaruga Foundation. Isto é, cerca de 293 mil euros através de Meset II e cerca de 500 mil através da Tartaruga.
Das quatro sociedades offshore detetadas em nome de Manuel Pinho, só uma, chamada Mandalay Asset Management Corporation, ainda não tem registos de circuitos financeiros nos autos do caso EDP.
Caso EDP. Manuel Pinho teve uma terceira offshore: a Mandalay
Acrescentadas declarações de Ricardo Sá Fernandes, advogado de Manuel Pinho, às 22h15.