Trancoso, Cantanhede, Moimenta da Beira, Cuba, Cascais, Lamego… “Andámos vários meses on the road. E, em alguns destes locais, ajudámos muitas pessoas a criar o seu primeiro e-mail”, recorda Alexandre Nilo Fonseca, um ano depois de arrancar com o Movimento pela Utilização Digital Ativa (MUDA) que levou iniciativas de promoção da vida digital a dezenas de regiões no país e a diversas organizações. Um gesto que, para o diretor-executivo do projeto, reflete o impacto da Internet na vida dos portugueses e o muito que ainda falta fazer para que tenham uma vida mais digital.
“É ainda um enorme desafio”, reconhece Alexandre Nilo Fonseca, num momento em que 19% dos portugueses ainda não utiliza a Internet: ou porque não sabe ou porque não dispõe dos equipamentos necessários para o fazer. Mais: 40% dos portugueses faz ainda uma utilização muito básica dos serviços digitais (como emails ou simples consultas de informação) e só 28% apresenta competências sofisticadas na execução dessas tarefas. E é essa a missão que o projeto quer manter: continuar a ampliar o universo de utilizadores e torná-los mais sofisticados. “Mais do que não saber usar, é não saber que existe” e esse, reconhece o responsável do MUDA, “é o grande desafio da comunicação”.
De acordo com o barómetro GfK/MUDA, cujas primeiras conclusões foram reveladas esta terça-feira, os números revelam uma evolução positiva. E isso “é um passo fundamental para tornar Portugal num país mais avançado e inclusivo”, refere Alexandre Nilo Fonseca. Mas, apesar destes bons indicadores, há ainda preocupações.
“O facto de existirem tantos portugueses que não estão ainda a beneficiar dos serviços digitais do Estado e das empresas é algo que nos continua a preocupar e justifica plenamente que em 2018 o MUDA aposte ainda mais em iniciativas de proximidade que permitam aumentar as competências digitais dos portugueses”, comentou o diretor-executivo do MUDA.
Para Alexandre Nilo Fonseca, a mensagem é clara. Num momento em que se fala de indústria e de economia 4.0, “falta legislação 4.0”. E dá exemplos da importância de tornar Portugal mais digital, como a criação de um sistema de autenticação comum para serviços, tanto públicos como do setor privado, ou potenciar o uso da chave móvel digital. “Tornar Portugal digital by default devia ser um desígnio político“, defende.
De volta à estrada em 2018
Criado em maio do ano passado com o patrocínio da Presidência da República e envolvendo entidades públicas e dezenas de parceiros privados — caso da elétrica EDP, dos bancos Millennium bcp, Santander Totta ou Crédito Agrícola, das operadoras Meo, Vodafone ou Nos – o projeto MUDA assumiu como missão promover uma maior cidadania e desenvolvimento digital do país.
Para isso liderou uma série de iniciativas, como o road show que percorreu dezenas de localidades no país durante cinco meses: um espaço móvel que recebeu cerca de 15 mil visitantes e onde as pessoas eram convidadas a conhecer e testar diferentes situações e serviços digitais. Foi nesse contexto que muitos tomaram contacto pela primeira vez com um correio eletrónico. De acordo com o responsável do MUDA, esta operação “na estrada”, entre as visitas ao espaço e a divulgação pelas redes e meios de comunicação social, chegou a cerca de um milhão de cidadãos. A iniciativa vai repetir-se este ano, durante 30 fins-de-semana, em espaços comerciais em vários pontos do país.
O MUDA desenvolveu ainda o plano “Digital By Default”, que reuniu uma série de recomendações para alterar a legislação e assim eliminar algumas barreiras na relação entre empresas e consumidores e também entre empresas e o próprio Estado. Uma proposta de “desmaterialização” dos processos que o movimento quer manter em cima da mesa e que dará o mote a novos encontros e conferências durante 2018.
No final do último ano foi ainda lançada uma rede nacional de voluntários, num apelo aos jovens para que promovam a utilização de serviços digitais junto, sobretudo, dos elementos do círculo familiar, os mais idosos e infoexcluídos. O apelo ao voluntariado vai agora envolver as escolas, anunciou o diretor-executivo do MUDA. Está ainda previsto um novo programa na RTP, “Muda num minuto”, sobre as várias ações que podem potenciar uma vida mais digital.