Antes do noivado com o príncipe Harry, Meghan Markle era reconhecida como ativista e apaixonada por diversas causas sociais e ambientais, utilizando a fama como plataforma para trazer à discussão alguns destes temas. Não é, por isso, surpreendente, que muitos dos detalhes do casamento real reflitam isso mesmo. Da decoração da capela de São Jorge ao carro escolhido pelos noivos para chegarem ao copo d’água, em Frogmore House, os duques de Sussex souberam pensar na festa, mas também na sustentabilidade ambiental.

Decoração orgânica e solidária

A decoração do casamento real foi baseada em flores e folhagens e não há maneira mais ecológica de decorar um evento desta envergadura: outras opções de decoração incluirão materiais que, ao serem descartados, ou precisarão de ser sujeitos a processos de reciclagem complexos, ou permanecerão em aterros por tempo indefinido, ou serão queimados. Utilizar flores e folhagens faz com que não haja desperdício, pois mesmo que acabem num aterro, perecerão rapidamente.

A florista contratada para o serviço foi Philippa Craddock, que se distingue por não usar espuma de florista – aquele material verde não reciclável usado para segurar as flores num arranjo -, selecionar flores locais e da época e compostar o que não se aproveita. Segundo o website de Craddock, quando os eventos acontecem em Londres – como é o caso – as flores são reaproveitadas pela instituição de caridade Floral Angels para distribuir flores em hospitais, hospícios e lares por toda a cidade.

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© Getty Images

A revista People relata que, de facto, algumas das flores do casamento real foram oferecidas a residentes do St. Joseph’s Hospice. Quando encomenda flores internacionais, Craddock utiliza sempre fornecedores de comércio justo e flores de origem certificada. É ainda parceira da drop4drop, uma instituição sem fins lucrativos focada em ajudar na resolução da Crise Mundial da Água, construindo poços de água potável em comunidades afetadas pela escassez em países como Uganda, Moçambique e Filipinas.

Bouquet sem pegada

O arranjo minimalista da noiva, amarrado com uma fita de seda crua, foi aprimorado pela florista contratada e estava carregado de significado: era composto por ervilhas-doces perfumadas, lírios do vale, astilbe, jasmim, astrantia, myosotis (flor coloquialmente chamada de ‘não-me-esqueças’) em honra da memória da princesa Diana e várias flores colhidas por Harry no jardim particular do casal no Palácio de Kensington. Este detalhe tem tanto de amoroso como de ecológico: todas as flores crescem em jardins ingleses no pico da primavera, por isso, não foi preciso criá-las em estufas fora de época nem transportá-las milhares de quilómetros, como muitas vezes acontece para satisfazer os sonhos das noivas de todo o mundo, inspiradas por imagens que encontram na internet.

© Ben Stansall – WPA Pool/Getty Images

Vestido ecológico

O segundo vestido usado por Meghan Markle, escolhido para o copo d’água, é uma peça da designer inglesa Stella McCartney, uma das primeiras mulheres do setor de moda a adotar um modelo de negócio com alicerces assentes na sustentabilidade, desde a produção até às coleções finais.

Stella McCartney afirma que desenha “roupas que durem”, acreditando “na criação de peças que não vão ser queimadas, não vão para aterros e não vão prejudicar o meio ambiente”. Além disso, todas as lojas, escritórios e estúdios da marca no Reino Unido são alimentados por energia eólica, sendo que 45% das operações são executadas com energia 100% renovável. A marca classifica-se como vegetariana e está concentrada na investigação sobre materiais e processos mais ecológicos e, de momento, as matérias-primas mais utilizadas nas coleções são o algodão orgânico, a caxemira e a viscose. Por ano, Stella McCartney recicla e reutiliza cerca de 30 toneladas métricas de resíduos têxteis, sedo que todas as fábricas têm sistemas de reciclagem no local.

© Steve Parsons – WPA Pool/Getty Images

A maquilhagem natural da noiva

A maquilhagem minimalista da noiva é mais um ponto a favor do ambiente: ao mesmo tempo que optar por um look natural envia uma mensagem importante sobre o conceito de beleza a todo o mundo, é também relevante do ponto de vista da saúde e do ambiente. Por um lado, a utilização excessiva de maquilhagem pode ter consequências negativas para a pele e, por outro, trata-se de uma indústria extremamente dependente de embalagens de plástico e metal e de químicos potencialmente tóxicos, sobretudo quando os produtos se degradam.

Meghan Markle foi maquilhada pelo amigo Daniel Martin que, especula-se, tendo em conta entrevistas dadas por ambos sobre beleza natural e produtos, terá tido em conta as preocupações da noiva com o ambiente, optando por utilizar, entre outras, uma das suas marcas favoritas, a Honest Beauty, fundada por Jessica Alba e focada em oferecer produtos saudáveis, ecológicos e
nunca testados em animais.

© Nick Edwards-WPA Pool/Gety Images

Transporte sem emissões de carbono

Os duques de Sussex, saíram do Castelo de Windsor para rumar ao copo d’água na Frogmore House, num Jaguar E-Type, descrito pelo italiano Enzo Ferrari, como “o veículo mais bonito do mundo”. O Observador já tinha investigado que carro era aquele onde seguiram Harry e Meghan e, para além do design, a grande vantagem ecológica do veículo é que é elétrico, utilizando uma bateria de iões de lítio. Dois pormenores extra: o assento do condutor fica à esquerda do automóvel, e não à direita como é normal no Reino Unido, e a matrícula incluía a data do casamento.

© Steve Parsons – WPA Pool/Getty Images

Menu baseado em vegetais locais e da época

Além de ter sucumbido à moda da comida servida em tigelas, na ementa do almoço, divulgada pela Casa Real, encontramos (pouca) carne de origem local – e muitos vegetais da época. Houve espargos ingleses, tomate e ervilhas nas entradas, risotto de menta numa tigela e sabores a laranja e ruibarbo nas sobremesas. A carne servida foi galinha criada ao ar livre com alimentos
orgânicos, presunto da região britânica de Cumbria, croquetes de cordeiro e barriga de porco, ambos de criadores de Windsor.

Devido às elevadas quantidades de grãos necessárias à alimentação dos animais que comemos, diminuir a quantidade de carne consumida reduz significativamente a pegada ecológica da alimentação. Consumir localmente elimina grande parte das emissões de carbono utilizadas no transporte dos alimentos e, consumir na época, diminui o impacto ecológico da produção intensiva em estufas.

© AFP/Getty Images

Presentes solidários e sem desperdício

Os presentes de casamento podem ser um problema – muitos casais ou acabam por fazer listas de objetos que nunca mais utilizam ou recebem coisas de que, na realidade, não gostam ou não precisam. O casal real rejeitou os presentes de casamento, pedindo que qualquer pessoa que queira presenteá-los faça uma doação a uma de sete instituições sem fins lucrativos selecionadas por Meghan e Harry. Esta é uma solução ecológica – não há embrulhos, embalagens e objetos indesejados – e com impacto social relevante, sobretudo se considerarmos a quantidade de pessoas de todo o mundo que terá vontade de presentear este casal super mediático.

O Palácio de Kensington comunicou a lista de instituições que “refletem os valores” do casal. É possível doar dinheiro para apoio a crianças com HIV, apoio à população sem-abrigo, apoio aos filhos das Forças Armadas, para a igualdade de género e capacitação de mulheres em Mumbai, para a utilização do desporto em comunidade para a melhoria da qualidade de vida dos jovens, para a sensibilização sobre a vida selvagem ou para a conservação dos oceanos, das praias e da biodiversidade.

The Children’s HIV Association (CHIVA), umas das instituições indicadas por Harry e Meghan © Divulgação

Um vestido para quatro eventos

Talvez o melhor exemplo ambientalista tenha sido o de Catherine, Duquesa de Cambridge, que optou por vestir uma das suas peças favoritas de Alexander McQueen, com a qual já foi fotografada em quatro eventos. Este foi o vestido que Catherine usou em 2015 para o batismo da filha princesa Charlotte, para o desfile de 90 anos da Rainha Elizabeth em 2016 e na Bélgica, durante uma cerimónia do 100.º aniversário da Batalha de Passchendaele, em 2017.

A indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo – por exemplo, sabia que são precisos 2720 litros de água para fazer uma t-shirt e que 40% da roupa que adquirimos nunca é usada mais que uma vez? – e é muito relevante ver alguém com um perfil tão público mostrar que é possível usar uma peça múltiplas vezes e não fazer má figura. A maioria das mulheres sente-se pressionada a vestir algo novo quando vai a um casamento, ou, no mínimo, algo que não tenha levado a nenhum casamento com convidados em comum. A duquesa mostrou que basta trocar de sapatos e chapéu para renovar um conjunto que adoramos.

© Andrew Matthews – WPA Pool/Getty Images