A mistura de álcool e bebidas energéticas poderá ter levado à morte de uma jovem australiana esta segunda-feira. As causas da morte ainda não são conhecidas, e a autópsia deverá ser realizada esta semana, mas a jovem tinha estado a beber sozinha em casa, fazendo misturas de bebidas que pesquisou na internet. Os especialistas relembram que o álcool é uma droga e o facto de ser legal não torna o seu consumo seguro.
“Este caso trágico lembra-nos que o consumo de álcool pode ser letal”, escreveu Elizabeth Elliott, professora de Pediatria e Saúde da Criança na Universidade de Sydney, num comentário a esta situação. “A morte e outros danos podem acontecer devido à intoxicação, mesmo quando o álcool não é combinado com outras drogas.”
Na sexta-feira passada, Paris Kamper, de 15 anos, foi encontrada inconsciente em casa, nos subúrbios de Kenthurst, uma zona semi-rural a noroeste de Sydney. A equipa de emergência foi chamada às 21h30 (hora local) e levou a jovem para o Hospital Pediátrico de Westmead onde acabou por morrer esta segunda-feira. Na altura em que foi encontrada, Paris Kamper tinha um nível de álcool no sangue considerado letal, o equivalente a oito vezes o limite máximo admitido aos condutores australianos, segundo o jornal The Australian. Em casa foram encontradas bebidas energéticas, que têm, normalmente, na sua composição cafeína, guaraná, taurina e ginseng — todos eles com efeito estimulante.
“Tanto a cafeína como o álcool são drogas recreativas, porque são consumidas no século XXI, na Austrália, com outro objetivo que não o efeito terapêutico. A sua legalidade, em particular no caso do álcool, não deve ser mal interpretada como um reflexo da segurança. Também não deveria ser surpresa que é possível que provoquem overdose”, disse David Caldicott, consultor de Emergências e professor de Medicina na Universidade Nacional Australiana, num comentário ao caso.
A polícia de Nova Gales do Sul está a investigar a morte da jovem e o superintendente Rob Critchlow promete ações legais caso venha a confirmar-se que Paris Kamper morreu por causa das misturas que encontrou online. “Caso se confirme que foram os vídeos e plataformas online que contribuíram para a decisão de ingerir a quantidade de álcool que ingeriu, e que a levou à morte, vamos certamente olhar para todas as opções legais disponíveis”, garantiu o superintendente citado pelo The Guardian.
“Já chega. O consumo de álcool tem de parar”, disse o superintendente. “A nossa mensagem tem de ser: não arrisquem a vossa saúde com experiências baseadas em informação de alto risco baseada encontrada online.”
“Este tipo de mortes são preveníveis? Certamente. Dar melhor informação sobre os riscos potenciais do álcool (apesar de ser uma droga legal), incluindo os efeitos agravados da combinação com bebidas energéticas, pode ajudar”, disse David Caldicott. “E o que podemos dizer aos nossos jovens? Provavelmente a mensagem aplica-se ao consumo de qualquer droga recreativa: ‘Não misturem as vossas drogas e vão com calma'”.
A intoxicação com cafeína é rara e as mortes ainda menos frequentes, mas as intoxicações com álcool, por oposição, são demasiado frequentes. A combinação de álcool e cafeína parece ter um efeito ainda maior, especialmente em quem não está habituado a beber. “Há muitos estudos que demonstram que a cafeína pode mascarar os efeitos da fadiga, que são um efeito natural do consumo de álcool isoladamente”, disse David Caldicott. “Como consequência, aqueles que consomem cafeína conseguem beber mais álcool, por mais tempo, com níveis de desinibição crescentes e arriscam-se a envenenamento por álcool.”
Mais, estudos experimentais têm demonstrado que o consumo de cafeína aumenta a vontade de ingestão de bebidas alcoólicas. “Ingerir muita cafeína pode tornar ainda mais difícil para as pessoas perceber quando têm de dizer não ao álcool”, alertou Melissa Norberg, diretora-adjunta do Centro de Saúde Emocional e chefe do Laboratório de Ciências Comportamentais da Universidade Macquarie. “A cafeína não faz nada para reduzir os efeitos do álcool, mas aumenta o estado de alerta e compensa a fadiga.”
Paris Kamper era uma jovem saudável, descrita como “adorável” e “de espírito livre”. Vivia numa quinta com os pais e era uma talentosa cavaleira. Os pais da jovem esperam que este caso possa alertar outros jovens para os perigos deste tipo de comportamento.