Amanhã, a empresa portuguesa Critical Software comemora 20 anos de existência. Mas hoje teve, num comunicado de imprensa, a melhor prenda que poderia oferecer a si própria: o anúncio da criação de uma empresa em conjunto com o Grupo BMW. É oficial: chama-se Critical TechWorks e não, não vai desenvolver “o carro do futuro”. Vai, isso sim, estabelecer as bases para que a mobilidade do futuro – conectada e partilhada – possa ser uma realidade em breve, com software “português” on-board e off-board. Mas, na prática, o que é que isto quer dizer?

A nota enviada à imprensa oferece algumas pistas. A Critical TechWorks “focar-se-á em áreas de especialização como a inteligência artificial, big data [grande volume de dados que, mediante o software que o analise, pode definir o tipo de cliente ou perfil de utilização, o que é crucial para o desenvolvimento de novos produtos], fábricas inteligentes, conectividade dos veículos e serviços de car-sharing”. Dito de maneira mais simples, a empresa portuguesa vai tratar de, em conjunto com a BMW, permitir que o construtor bávaro se imponha como “a referência” no automóvel do amanhã, em que a noção de propriedade tenderá a eclipsar-se e a automação da condução, total ou parcial, vai gerar novos desafios.

A BMW quer ser um player inspirador. Quer posicionar-se como o fabricante que mostra o caminho a seguir e isso passa pela transformação digital de uma marca que se sempre se impôs pela engenharia mecânica”, nota o CEO da Critical Software, Gonçalo Quadros.

Mas antes de rumar ao futuro, esta história pede uma marcha-atrás. A relação entre a empresa portuguesa e o grupo alemão existe há dois anos, com a Critical Software a fazer já, em parte, aquilo que se compromete continuar a fazer, mas agora num contexto de joint-venture e não numa mera relação de cliente/fornecedor. Laços mais estreitos, portanto, e comprometimento (de ambas as partes) numa causa comum. Gonçalo Quadros não poderia estar mais orgulhoso desta conquista:

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A BMW poderia ter escolhido um milhão de parceiros, mas escolheu-nos.”

Foi em Setembro de 2017, confidencia-nos o CEO da Critical Software, que Gonçalo atendeu uma chamada vinda da Alemanha. Foi o primeiro contacto, tomado por iniciativa da BMW, de uma série de muitos outros que culminaram no anúncio hoje feito por ambas as companhias: a constituição de uma joint-venture, que terá ainda de ser aprovada pelas autoridades competentes.

Espera-se que a luz verde seja dada em Julho, o que, a confirmar-se, permitirá à Critical TechWorks iniciar a actividade já em Setembro. A sede estará no Porto e os centros de engenharia dividir-se-ão entre a Invicta e a capital, “estabelecendo assim, em Portugal, um novo centro de excelência tecnológica”.

É certo e assumido que o protótipo iNext consubstancia a visão da BMW para o futuro da mobilidade. Também não será inocente o facto de o comunicado emitido pelo construtor de Munique sublinhar que “o Grupo BMW está a avançar para a sua transformação numa empresa de tecnologia de mobilidade como parte da sua estratégia Number One>Next”. Um redireccionamento, aliás, em que todos os grupos automóveis estão neste momento a trabalhar. A diferença é que, neste caso, o “motor” escolhido para acelerar essa transição tem genes portugueses.

Digamos que a tecnologia alemã encontrou na tecnologia portuguesa a sua alma gémea”, sintetiza Gonçalo Quadros.

Não foram revelados dados quanto à repartição do capital nesta joint-venture, mas Gonçalo Quadros assegura ao Observador que se trata de “uma participação substantiva”.

Resultados, perceptíveis para o cliente BMW, ainda tardarão. “Depois de começarmos a trabalhar em Setembro, vão ainda ser necessários alguns meses para que possamos fazer a incorporação tecnológica”, esclarece Gonçalo Quadros. O futuro não está propriamente ao virar da esquina mas, quando lá chegar, vai parecer-se aos descobrimentos portugueses… embarcados numa frota alemã.