A serotonina é uma das mais faladas moléculas de comunicação entre células nervosas, mas não necessariamente das melhores conhecidas. “Há mais de 100 mil artigos publicados sobre serotonina, mas ainda não emergiu nenhuma teoria coerente”, disse Zachary Mainen, investigador da Fundação Champalimaud. Na tentativa de inverter esta situação, a equipa de Zach Mainen publicou esta quinta-feira um artigo na Nature Communications em que relaciona a serotonina com a aprendizagem. Um efeito até agora desconhecido, segundo o comunicado de imprensa da instituição.

“Têm aparecido muitas sugestões sobre o papel que a serotonina pode ter na tomada de decisão e escolha, que incluem ideias sobre a influência no comportamento motor, castigo, oposição à dopamina, saciedade, desânimo, paciência e até aspetos de recompensa. Aqui, relatamos um efeito adicional: estimulação dos neurónios DRN 5-HT [neurónios no núcleo da rafe que produzem serotonina] podem aumentar a taxa a que os animais aprendem a partir das escolhas em ambientes dinâmicos”, escreveram os autores do artigo.

A serotonina influencia tanto estados de felicidade como a sensibilidade à dor

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As conclusões podem ter implicações importantes, especialmente para quem toma antidepressivos ISRS (inibidores seletivos de recaptação da serotonina), que se pensa aumentarem os níveis de serotonina no cérebro. Os doentes com distúrbios mentais parecem ver melhores resultados quando combinam a medicação com terapias cognitivo-comportamentais, que visam alterações de hábitos. A serotonina pode ter aqui um papel na aprendizagem mais rápida destes novos hábitos. Falta é saber “onde, no cérebro, acontece esta aprendizagem que a serotonina influencia”, disse ao Observador o investigador.

A serotonina está envolvida de uma forma única em dois tipos de drogas psicoativas: antidepressivos e psicadélicos. Portanto, está no centro da modulação do humor e perceção”, disse Zach Mainen. “O que poderia ser mais fascinante para estudar?”

O investigador têm-se dedicado a estudar este neurotransmissor estimulando os neurónios que produzem serotonina com luz (optogenética) e analisando o que o aumento da produção no animal. Agora, verificou que os ratos que tinham de escolher entre duas entradas que distribuíam (ou não) água, aprendiam mais depressa a fazer as suas escolhas com base na entrada que tinha dado água mais vezes (o sistema ia alternando onde a água era entregue).

Anteriormente, e com a mesma técnica de optogenética, a equipa de Zach Mainen tinha verificado que quando a produção de serotonina era estimulada nos neurónios havia uma redução da sensibilidade à dor e que a serotonina parecia estar ligada à paciência.

Quando o cérebro produz mais serotonina, os ratos aceitam esperar mais tempo pela recompensa

Mas tudo isto é feito em ratos, com estimulação direta nos neurónios, e não com humanos que tomam medicamentos que podem não passar a barreira hematoencefálica (que funciona como um filtro bastante seletivo para o que pode entrar no cérebro). Os investigadores acreditam que os dois tipos de estimulação podem aumentar os níveis de serotonina, mas que isso pode acontecer por mecanismos diferentes.