Rogério Alves foi talvez o primeiro nome falado como possível candidato à presidência do Sporting quando o cenário de eleições antecipadas começou a ganhar forma entre a espiral galopante de episódios que iam assolando a realidade do clube de Alvalade. Aliás, em fevereiro, na última “legitimação” que teve enquanto líder verde e branco, Bruno de Carvalho tinha apontado a mira ao advogado, que chegou a apelidar de Dom Sebastião que nunca afirmou o principal desejo de avançar e preferia a política do bota-abaixo em almoços e jantares. No entanto, e quando se pensava ser um nome a ter na corrida, essa onda que se estava a criar acabou por esmorecer. E esta segunda-feira houve a confirmação oficial do porquê: o antigo Bastonário será o candidato à Mesa da Assembleia Geral dos leões na lista de Frederico Varandas.
As seis frases de Rogério Alves que não precisam de explicação
No mesmo dia em que o antigo diretor clínico do Sporting inaugurou a sua sede oficial da campanha, nas Avenidas Novas, em Lisboa, Rogério Alves explicou o porquê de integrar a lista, dizendo que “é tempo de encerrar esse tópico” em relação à possível candidatura. “Em cada momento vivo o Sporting e tento tomar a opção que me parece mais adequada. E devo dizer que, mesmo que não tivesse sido convidado para candidato a presidente da Mesa da Assembleia Geral, apoiaria na mesma”, destacou, no meio de uma série de intervenções que tiveram sempre como ponto forte a tentativa de enterrar machados de guerra no clube.
“Gostaria muito que o Frederico fosse o presidente da nova era, uma era em que o diálogo entre todos fosse a força motriz do novo Sporting, neste novo pedaço da sua existência. Precisamos de falar uns com os outros, de colaborar uns com os outros, de estarmos sintonizados no amor ao Sporting e abandonar aqueles atritos. Temos de abandonar aquele discurso com maior rispidez e sermos unidos no interior para nos tornarmos imbatíveis no exterior. Os sócios tiveram recentemente uma demonstração cívica de comportamento exemplar, uma lição de que a democracia não é uma flor retórica para enfeitar manuais e que é possível rasgar com novas perspetivas. Terei muito gosto em ser também alguém que contribui para a unidade, para essa nova era, para que essa era, sem qualquer demagogia, seja uma era de sucesso, de vitória, de glória e esplendor”, enfatizou.
Sem nunca mencionar o nome do anterior presidente, Bruno de Carvalho, Rogério Alves tentou traçar uma espécie de posição antagónica em termos comportamentais com o tempo recente, clivando essa diferença na partilha da verdade, na democracia e na união em torno de realidades que sejam claras para todos. “Aceitei o convite porque acredito nele [Frederico Varandas]. Conheço a sua ligação ao Sporting e é um símbolo do clube, com uma competência reconhecida, dedicação, combatividade. Acredito que a sua competência, aliada à lucidez e a uma boa equipa, são receitas para o sucesso. Não secciono as pessoas por idades, somos todos úteis, mas há que refrescar os métodos, as ideias. Por exemplo, consignando que os órgãos do Sporting não sejam forçosamente os mesmos órgãos da SAD. Temos de fazer esta aposta na verdade, que é o antídoto contra os falsos profetas”, referiu, prosseguindo: “O Sporting é um grande corpo que tem 3,5 milhões de adeptos e 170 mil sócios, e que tem de manter todos sempre ao corrente da verdadeira situação do clube. Não me interessa apontar o que correu mal antes, mas há uma coisa que é fundamental que não se repita: que em vez de falarmos nas soluções, consumamos 99,9% do tempo a dizer mal dos outros, a ameaçar com processos e expulsões. Isso não é só uma perda de tempo, é acima de tudo uma perda valor”.
Também Frederico Varandas alinhou pelo mesmo diapasão. Quase que tentando pautar o ritmo da corrida eleitoral do Sporting como um dos apoiantes mais mediáticos presentes numa sala cheia, Fernando Mamede (que se juntou a Hilário, Carvalho, João Sampaio, Paulo Abreu, Rogério Beatriz, João Pessoa e Costa, João Barnabé, Júlio Rendeiro, José Manuel Barroso ou Margarida Caldeira Nunes, entre nomes com maior antiguidade ou outros que estiveram ou estão mais ligados à Juventude Leonina), o médico e candidato à presidência voltou a colocar a tónica na recuperação dos valores e na união entre associados para o sucesso, ao mesmo tempo que tentou desdramatizar a eventual situação de falência técnica da SAD leonina.
“Hoje é um dia marcante porque juntamos à abertura oficial da nossa sede de campanha, num trabalho de uma grande equipa, o anúncio do nosso candidato à presidência da Mesa da Assembleia Geral. Rogério Alves é uma pessoa respeitada no universo do Sporting, competente, séria e que vai defender os interesses do Sporting . Vai ser o presidente dos sócios, que partilha a mesma visão do que eu em dois pontos fundamentais: que o Sporting seja dos sócios e que seja detentor da SAD. Vai defender a soberania do Sporting e todos os sportinguistas vão dormir descansados porque teremos, espero eu, um presidente que vai defender a independência do clube”, começou por destacar. “Em relação à questão financeira, estamos preparados para o que surgir no dia 9 de setembro. Existe esta tentativa do terror, aquela ideia do ‘Sem aquilo é um desastre’. Não é verdade, estamos preparados para o que aí vem e temos as soluções para os problemas do Sporting (…) Muito se falou da Comissão de Honra mas o meu objetivo é ter lá 160 mil sócios, todos os que defendam um Sporting com valores, competitivo e a vencer mais com ética”, acrescentou a propósito das contas da sociedade verde e branca.
Em relação ao futebol, três certezas: José Peseiro será o seu treinador (algo que nem uma pergunta de um apoiante a certa altura, sobre se pensaria da mesma forma caso os leões perdessem os primeiros quatro encontros, alterou); Bruno Fernandes tem todas as condições para continuar no clube; e, caso seja eleito, defenderá de forma intransigente o clube no “caso Podence”.
“José Peseiro vai ser o meu treinador, obviamente. Foi o escolhido pela Comissão de Gestão , vai estar quatro jornadas até às eleições e todos os sportinguistas querem as vitórias do Sporting. Bruno Fernandes? Mais uma vez, temos uma Comissão de Gestão a trabalhar e defender da melhor forma os interesses do Sporting; da minha parte, como candidato, só quero que o Sporting tenha os melhores jogadores e o Bruno Fernandes é um grande jogador, com muito futuro, talento e que se voltar dará muito mais do que já deu. Podence? É maior de idade e fez o que achou que era o melhor para si mas, como candidato e futuro presidente, espero eu, vou defender os interesses do Sporting. A proximidade é uma coisa, a amizade é outra. Um presidente tem de ser próximo dos seus jogadores, mas não tem de ser amigo. Proximidade é exigir-lhes o máximo”, respondeu.
Varandas foi o primeiro candidato a oficializar a intenção de ir a sufrágio eleitoral, depois de ter admitido a 24 de maio, dia em que apresentou a sua demissão de diretor clínico dos leões, que estaria disponível para “liderar uma nova solução” no comando do clube, medida tomada, como contou ao Observador, no dia da final da Taça de Portugal. “Tomei esta decisão no relvado do Jamor, quando estavam todos os jogadores sentados no relvado enquanto o Desp. Aves ia levantar a taça na Tribuna e estava a caminhar naquela zona (…) Esta decisão está relacionada com aquilo que considero ser a degradação que fui assistindo nas últimas semanas e meses dos valores que o Sporting Clube de Portugal representa, que estão muito além dos resultados desportivos e que têm a ver com a dignidade e com a transparência. Houve um ruir de todo um legado de Bruno de Carvalho que me orgulho de ter feito, porque os sócios voltaram a ter voz ativa na vida do clube”, destacou.
Frederico Varandas quer liderar solução para o Sporting: “Tomei esta decisão no relvado do Jamor”
Três dias depois da Assembleia Geral que sufragou a destituição de Bruno de Carvalho e dos restantes elementos do Conselho Diretivo que estavam em funções, o médico anunciou oficialmente a candidatura com o lema “Unir o Sporting”, apresentando apenas um elemento que irá trabalhar consigo em Alvalade caso seja eleito (“Contarei com a colaboração dedicada e experiente do Francisco Salgado Zenha, vice-presidente da área de investimento de um grande banco mundial em Madrid”, salientou) entre vários nomes de peso na Comissão de Honra, casos de Jorge Jesus, Daniel Carriço, Slimani, Daniel Oliveira, Daniel Sampaio, Eduardo Barroso, Francisco Rodrigues dos Santos, Pedro Boucherie Mendes, César Mourão ou Hugo Viana. O Observador sabe que, em relação ao último, o médio que foi campeão em 2002 pode integrar a estrutura do futebol leonino.