O Grande Oriente Lusitano (GOL) é a mais antiga e influente obediência maçónica do país, mas — ao contrário da sua grande concorrente (a Grande Loja Legal de Portugal) — não foi ouvido pelo Presidente da República antes da legalização da eutanásia ser votada no Parlamento. Os maçons do GOL terão ficado indignados com aquilo que seria uma “discriminação” de Marcelo Rebelo de Sousa, uma vez que — por essa altura — o grão-mestre Fernando Lima já tinha audiência pedida há oito meses. Esta terça-feira — um mês e meio depois de ter recebido outras obediências — e já com a eutanásia chumbada, o grão-mestre do GOL vai ser recebido em Belém pelo Presidente da República.

O grão-mestre do GOL, Fernando Lima, dispensa alimentar a polémica de não ter sido recebido há mais tempo, dizendo que “o Presidente na República recebe quem quer, no momento que quer”. Em declarações ao Observador, Fernando Lima explica que o encontro é de “apresentação de cumprimentos”, mas que não deixará de “transmitir ao Presidente da República a visão que o GOL tem para o país e para o mundo e quais as preocupações [dos maçons].”

Após ser reeleito para um terceiro e último mandato, o grão-mestre do GOL, Fernando Lima, tinha uma audiência pedida ao Presidente da República para apresentação de cumprimentos logo em setembro de 2017. Belém terá então justificado que por falta de agenda o encontro não podia ocorrer logo no imediato e seria marcado em “momento oportuno”. Teve de esperar 10 meses. Mas não foi isso que irritou os maçons. O que deixou o membros da maçonaria adogmática (o GOL) revoltados foi o facto das outras obediências serem recebidas antes e num momento relevante.

No dia 24 de maio, o Presidente da República recebeu em Belém o então Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal (GLLP), Júlio Meirinhos, e a Grã-Mestre da Grande Loja Feminina de Portugal (GLFP), Isabel Corker para os ouvir sobre a legalização da Eutanásia. O GOL não foi chamado.

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O mundo maçónico não entendeu qual o propósito de terem ido aquelas obediências e muito menos o porquê de terem ido juntas. Isto porque a GLLP nem reconhece a GLFP. A obediência feminina até tem um tratado de amizade/protocolo com o Grande Oriente Lusitano, o grande rival da GLLP.

A nota da Presidência do dia 24 de maio também causou estranheza, como então ficou registado na opinião do Correio da Manhã, já que a Presidência terá dado conta que: “Ambos os grão-mestres defenderam ‘um debate mais aprofundado’ sobre a legalização da eutanásia, um tema que precisa de mais discussão junto da Sociedade Civil”. De acordo com fontes maçónicas, nem a GLLP nem a GLFP terão discutido internamente a questão antes de a transmitirem ao Presidente da República, que depois a verteu nessa nota oficial.

Só Costa não agendou encontro com Fernando Lima

Quanto à polémica de não ter convidado GOL, a Presidência alegou, como noticiou o jornal i, que na altura do pedido do GOL, o Presidente não tinha disponibilidade de agenda e que a obediência não voltou a pedir audiência. Depois deste caso, Fernando Lima fez questão de enviar novo pedido ao Presidente. Menos de dois meses depois, foi aceite.

Quando pediu para ser recebido por Marcelo, Fernando Lima fez o mesmo pedido ao primeiro-ministro António Costa e ao presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues. Em novembro, Ferro recebeu Fernando Lima, Marcelo recebe esta terça-feira, só Costa ainda não agendou encontro com o grão-mestre.

O GOL, recorde-se, é muitas vezes informalmente chamado de “maçonaria do PS”, por na história da obediência ter tido sempre vários socialistas. Isto apesar de ter nas suas fileiras “irmãos” de outros partidos, como o PSD ou o CDS.