Fala connosco como se fosse uma pessoa, com a pontuação correta e um uso curioso de emojis. A Aurora é uma conselheira automática para pais que funciona através do Facebook Messenger, mediante inscrição prévia. O programa de conversação online — ou chatbot, para sermos mais técnicos — é criação de Cláudia Morgado, que, além de farmacêutica, durante anos deu consultas e formações a pais e profissionais sobre o universo das crianças — da gravidez aos seis anos.
A entrada numa empresa de software, onde assumiu uma posição de responsabilidade depois de anos a trabalhar em farmácias, alertou-a para o potencial da tecnologia e a forma como esta pode suprimir carências da vida moderna. “Da primeira vez que os pais alimentam ou dão banho a um bebé fazem-no com o próprio filho. Na maior parte dos casos não há experiência prévia. A Aurora pretende reunir o conhecimento que, em tempos, as avós e as mães passavam às netas e às filhas, quando esta fase era vivida com muito mais tranquilidade”, explica Cláudia, de 35 anos e mãe de dois filhos, ao Observador.
O primeiro protótipo, integralmente desenvolvido por Cláudia, surgiu ao fim de um mês de trabalho, já ela tinha deixado a empresa de software. Saiu em fevereiro e em abril o produto estava disponível. Seguiu-se uma parceria com uma empresa alemã, que presta apoio em toda a componente tecnológica do projeto.
Em termos de dicurso livre, o chatbot Aurora — sob o chapéu da empresa Curricula — só tem capacidade para responder às perguntas sobre a amamentação. Ainda assim, o programa que Cláudia Morgado tem estado a promover diz respeito ao sono: através de algumas perguntas iniciais, colocadas pelo chatbot, Aurora procura compreender as principais dificuldades do utilizador. As perguntas servem precisamente para “ajustar os conteúdos a enviar aos pais”.
Todas as informações disponibilizadas pela Aurora são o resultado da experiência profissional de Cláudia Morgado, que procurou ainda reunir “fontes internacionais fidedignas”. Aqui não há “truques, mezinhas, receitas ou treinos do sono”. Os conteúdos em causa destinam-se a “bebés e crianças saudáveis, nascidas de tempo (mais de 37 semanas) e sem baixo peso (nascidas com mais de 2500 gramas)”, tal como se lê no discurso inicial da Aurora. O conhecimento é “científico” e as “pequenas dicas” uma promessa diária.
O sono é uma função vital para todos: para além do descanso físico, permite ao cérebro executar várias funções que durante o dia seriam impossíveis, tais como tornar as memórias recordáveis a longo prazo ou transformar experiências vividas em aprendizagens. À nascença, o bebé vem com um padrão de sono muito diferente do dos adultos, o que dificulta a tarefa dos pais. Não assumi-lo como uma prioridade, de mesma forma que respirar ou comer o são, acaba por ter implicações graves, como as manifestadas no comportamento ou desenvolvimento das crianças, ou até na produtividade dos próprios pais”, sublinha ainda Cláudia Morgado, num comunicado enviado às redações.
O programa do sono é, até ao momento, o único pago. Custa 30 euros e pode durar até quatro semanas. Quando um utilizador inicia o programa tem direito a quatro dias gratuitos, período durante o qual a Aurora está disponível para conversas a qualquer hora e envia, diariamente e à mesma hora, informações úteis. Ao fim dos quatro dias, existe a possibilidade de adquirir o resto do programa semana a semana (10 euros a cada sete dias). A ideia não é limitar a Aurora a conteúdos pagos, até porque, garante Cláudia, toda a informação relacionada com a amamentação será sempre oferecida.
A Aurora — que foi uma das finalistas no prémio “Hack 4 Good 2018”, da Fundação Calouste Gulbenkian — já chegou ao ecrã de mais de 400 pessoas e cerca de 200 utilizaram o programa do sono. Caso precise de conselhos urgentes sobre o sono do bebé ou sobre a alimentação deste, pode conversar com a Aurora aqui.