Sabotagem ou defeito de fabrico? Posta de parte a hipótese de ter sido um detrito espacial a fazer um buraco na nave russa Soyuz, que está ancorada à Estação Espacial Internacional, as autoridades russas avançam agora com novas explicações para o sucedido, depois de terem concluído que o buraco que causou uma fuga de ar na Estação Espacial foi feito com uma broca. E parecem não restar dúvidas de que houve mão humana no estrago, tenha ele sido feito na Terra ou no espaço.

“Houve várias tentativas de perfuração”, disse, segunda-feira passada, durante uma entrevista televisiva, Dmitry Rogozin, diretor-geral da Roscosmos, a agência espacial russa. O buraco — que foi imediatamente selado pelos astronautas depois de ter sido detetado — tem cerca de 2 milímetros e segundo Rogozin foi feito por “uma mão hesitante”.

“O que é isto? Um defeito de fabrico ou uma ação premeditada? Estamos a olhar para a versão que está na Terra, mas há uma outra opção que não pomos de parte: interferência deliberada no espaço”, continuou Rogozin, explicando que “houve várias tentativas de perfuração”.

À Tass, a agência de notícias russa, Dmitry Rogozin disse não pôr de lado nenhuma opção: “Estamos a considerar todas as teorias. A de ter sido causada pelo impacto de um meteorito já foi rejeitada porque o impacto no casco da nave espacial foi feito pelo lado de dentro. No entanto, é muito cedo para dizer, de forma definitiva, o que aconteceu. Mas foi feito por uma mão hesitante. Foi feito por uma mão humana, há vestígios do deslizamento da broca ao longo da superfície. Não rejeitamos nenhuma teoria”, disse.

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O assunto está sob investigação, e já que se tornou uma questão de honra para a Rússia e para o fabricante das naves Soyuz, conforme garantiu o diretor-geral da Roscosmos, prometendo encontrar, mais cedo ou mais tarde, respostas para o sucedido.

Para o antigo cosmonauta Maxim Surayev, citado pelo The Guardian, há uma outra hipótese que não pode ser posta de lado: a de ter sido um astronauta “perturbado” a deliberadamente fazer o estrago na Soyuz, de forma a poder voltar para a Terra mais cedo.

“Somos todos humanos e qualquer um pode querer ir para casa, mas este método é muito baixo. Se foi um cosmonauta a fazer isto — e isso não pode ser posto de lado — é muito mau”, disse Maxim Surayev que passou duas temporadas a bordo da Estação Espacial.

“Peço a Deus que seja um defeito de fabrico, embora isso também seja muito triste — nunca aconteceu nada parecido com isto na história das naves espaciais Soyuz”, concluiu.

Atualmente, há seis pessoas a bordo da Estação Espacial Internacional, três da NASA, dois da Agência Espacial Russa e um alemão da Agência Espacial Europeia. Os últimos três tripulantes, Sergey Prokopyev, Alexander Gerst e Serena Auñón-Chancellor chegaram à Estação Espacial a 8 de junho. Os outros três, Drew Feustel, Oleg Artemyev e Ricky Arnold, encontram-se a bordo desde março deste ano.

As missões costumam demorar entre 5 a 6 meses.

Expedição 56, a atual tripulação a bordo da Estação Espacial Internacional. Na fila da frente, da esquerda para a direita: Drew Feustel (NASA), Alexander Gerst (ESA). Na fila de trás: Oleg Artemyev (Roscosmos), Ricky Arnold (NASA), Sergei Prokopev (Roscosmos) e Serena Auñón-Chancellor (NASA).

Outra hipótese já avançada é que os estragos na nave tenham acontecido durante os testes em Baikonur, Cazaquistão, depois de a Soyuz ter passado nos testes iniciais e terem sido escondidos por alguém. Por outro lado, também há especialistas a defender que é praticamente impossível fazer um estrago daquele género em gravidade zero.

O buraco de 2 milímetros está numa secção da Soyuz que é descartada durante a órbita e que não é usada para transportar os tripulantes da Estação Espacial no regresso à Terra.

As investigações prosseguem e a NASA tem-se mantido em silêncio sobre este assunto, remetendo todas as explicações para a Roscosmos.