Portugal subiu uma posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas, passando para 41º lugar, e mantém-se na base do grupo dos países com o índice mais elevado, revela o relatório de 2017, divulgado esta sexta-feira.
O relatório, o mais recente, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), foi apresentado em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e estabelece índices de desenvolvimento humano para 189 países ou territórios, classificando-os como “muito altos”, “altos”, “médios” e “baixos”.
Em 2017, Portugal subiu uma posição face a 2016 (ano em que estava em 42º lugar), mas está abaixo de metade da tabela dos 58 países e territórios com nível de desenvolvimento humano “muito alto”, o mais elevado. O relatório apresentado há um ano colocava Portugal no 41.º lugar, o mesmo no ranking divulgado, mas o PNUD esclareceu à Lusa que introduziu entretanto novos indicadores, com impacto na lista anterior, levando à perda de uma posição no índice de 2016, para a 42.ª.
Há dois anos, Portugal estava quase no final de uma lista de 50 países com o mais alto desenvolvimento humano e era um dos últimos da União Europeia (UE). Com um IDH de 0,847 valores, Portugal só ultrapassou em 2017, no espaço da UE, a Hungria, a Croácia, a Bulgária e a Roménia, igualando no ranking a Letónia.
De acordo com o relatório, a Noruega, com um índice de 0,953 valores, é o país mais desenvolvido do mundo, enquanto o Níger, com 0,354 valores, o menos desenvolvido. O índice máximo atribuível é de 1,0 valores.
O IDH de 2017 teve por base indicadores como população, saúde, educação, emprego, riqueza nacional, segurança e perceção de bem-estar. A qualidade de desenvolvimento humano, as diferenças de género, a emancipação da mulher e a sustentabilidade ambiental e socioeconómica foram igualmente avaliadas.
Com uma esperança média de vida à nascença de 81,4 anos, Portugal superou países mais desenvolvidos como a Alemanha (81,2 anos), no 5.º lugar do ranking, Dinamarca (80,9 anos), em 11º, e os Estados Unidos (79,5 anos), em 13º, sendo uma das 12 nações que mais cresceram em média por ano no IDH entre 1990 e 2017.
Contudo, Portugal é um dos 15 países com IDH “muito alto” que deverão perder população, segundo o cenário traçado pelo PNUD, ao passar de 10,3 milhões de pessoas em 2017 para 9,9 milhões em 2030, estando nos lugares mais baixos do grupo dos mais desenvolvidos quando se menciona a riqueza interna, embora ultrapassando, na Europa, a Grécia e a Polónia, países com um Índice de Desenvolvimento Humano mais alto.
No item da escolarização, Portugal é o quarto país do grupo dos 58 com IDH mais elevado que possuía em média, em 2017, menos anos de escolaridade (9,2 anos), superando apenas Brunei (9,1), Uruguai (8,7) e Kuwait (7,3). Isto, apesar de o país passar à frente da Suíça (2º no ‘ranking) e Singapura (9º) nos anos de escolaridade expectáveis (com 16,3 anos).
Brasil na categoria de desenvolvimento “alto”
O Brasil mantém 79.º lugar. O maior país da América do Sul tem melhorado o IDH todos os anos desde 2010, quando tinha um valor de 0,727 e encontra-se agora imediatamente a seguir à Venezuela, que em cinco anos desceu 16 posições.
Com cerca de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) investido em pesquisa e desenvolvimento, o Brasil é um dos 63 países com melhor investimento nestas áreas, sendo que a Noruega, país mais desenvolvido do mundo, investe 1,9% do PIB e Portugal investe 1,3%. A esperança média de vida à nascença são 75,7 anos.
Apesar dos progressos, o Brasil é o país menos seguro da lusofonia, sendo que detém, de longe, o maior índice de homicídios. Por ano, em 100 mil pessoas, mais de 29 são assassinadas (o segundo valor de homicídios mais alto entre países lusófonos é 11,5 em 100 mil, em Cabo Verde) e 301 estão na cadeia. Apenas 23% das mulheres brasileiras e 40% dos homens dizem sentir-se seguros.
A orfandade no Brasil é a maior dos 112 países de desenvolvimento classificado como “alto” e “muito alto”, com o quinto maior número em 189 países: cerca de 3,2 milhões de crianças órfãs. A nível político, apenas 17% da população confia no Governo. Tendo em conta a desigualdade de distribuição à população de todos os recursos estudados, o país estaria posicionado 17 lugares abaixo, com um valor de 0,578.
A desigualdade na distribuição de rendimentos é de 36,7% – o mesmo é dizer que mais de 36% do total de rendimentos da população está concentrada num nicho e não chega a todos de forma igual.
Em termos de empregabilidade, as mulheres têm menos acesso a empregos do que os homens, pelo que 74,7% dos homens maiores de 15 anos estão empregados, enquanto nas mulheres maiores de 15 anos esse valor é de 53,2%. A taxa de desemprego é de 12,9%.
ONU revê em alta dados de Moçambique, nono país menos desenvolvido do mundo
Moçambique é o nono país com menor IDH do mundo (0,437 valores), ocupando a 180.ª posição.
No documento apresentado esta sexta-feira em Nova Iorque pelo PNUD, com dados relativos ao ano de 2017, todos os números anteriores foram atualizados e recalculados segundo novas metodologias, tendo atribuído ao país, para 2016, um valor de 0,435, que é significativamente maior do que o IDH de 0,418 que tinha sido divulgado no ano passado. Ainda assim, apesar de Moçambique melhorar no IDH absoluto, é atirado para 180º lugar da tabela, encontrando-se entre os 38 países classificados na categoria de “baixo desenvolvimento”.
Segundo os autores do relatório, Moçambique é um dos exemplos de países que, por não recolher e apresentar os dados pedidos pelo PNUD a tempo, tem uma avaliação que pode não corresponder à realidade, com discrepâncias nos números.
Já Angola obteve um IDH de 0,581, que coloca o país na categoria de “desenvolvimento médio”. Angola está na posição 147 de 189, com IDH a crescer todos os anos.
“Falando de países de língua portuguesa, têm um bom exemplo de Angola, que aumentou e está no desenvolvimento médio”, disse à Lusa Milorad Kovacevic, chefe de estatística do relatório, na apresentação do documento em, Nova Iorque. “O impacto dos dados e da frequência com que as estatísticas nacionais são atualizadas pelos países é grande”, considerou o especialista.
Relativamente a Cabo Verde, a ONU elogiou a aplicação que este país tem feito dos rendimentos no desenvolvimento. “Cabo Verde traduziu o rendimento de forma mais eficaz em desenvolvimento humano do que Angola”, disse Achim Steiner, administrador do PNUD e diretor do relatório global, em declarações à Lusa.
O país, que está na 125ª posição, apresenta um IDH de 0,654 e é comparado pela organização a Angola, ambos apresentando um “desenvolvimento médio. Comparativamente, os dois países apresentam um PIB per capita semelhante, mas este índice em Cabo Verde (5.983 dólares) é muito inferior à média mundial (15.295 dólares). Angola e Cabo Verde apresentam, no entanto, uma diferença substancial na esperança média de vida (61,8 e 73 anos respetivamente).
Guiné-Bissau é o país lusófono com segundo pior IDH
A Guiné-Bissau, que desceu duas posições e ocupa agora a 177ª posição, é o país da CPLP com o segundo pior IDH (0,455), tendo assim um “desenvolvimento baixo”. Apesar de este índice ter aumentado 0,95% anualmente desde 2010, este crescimento não foi suficiente para acompanhar o ritmo de desenvolvimento dos outros países.
O relatório da ONU destaca que, em média, a vida escolar de um cidadão guineense é de três anos na escola. O país destaca-se ainda como o país da CPLP com a maior taxa de trabalho infantil (36,2%).
Também em sentido descendente encontra-se Timor-Leste, tendo passado de um IDH de 0,631 em 2016 para 0,625 em 2017. Ocupando a 132ª posição, o país permanece no “desenvolvimento médio”.
Dentro da CPLP, este é o segundo país onde mais gente perde a habitação devido a desastres naturais (156 afetados em cada milhão), apenas superado por Angola (364 em cada milhão). O relatório da ONU destaca ainda que menos de metade da população tem acesso a condições de saneamento e, em zonas rurais, apenas metade tem eletricidade.
Em sentido oposto, São Tomé e Príncipe subiu uma posição (143ª) e tem um IDH “médio” de 0,589. O país insular apresentou uma melhoria no Produto Interno Bruto de 1,6% entre 2016 e 2017, dando agora 3.053 dólares por habitante, um valor cinco vezes mais baixo do que a média mundial, que é de 15.439 dólares com valor de paridade de poder de compra.
No entanto, o PNUD destaca São Tomé e Príncipe como um dos países em que os professores estão menos preparados para ensinar às crianças. São Tomé e Príncipe é um dos quatro países do mundo em que menos de 30% dos professores recebem treino e preparação (27%).