Vamos chamar-lhe retro sportswear e culpar o fenómeno por muitos outros regressos — dos calções curtinhos às meias brancas, dos chinelos de piscina aos bonés patrocinados, do revivalismo que ressuscitou marcas como a Fila e a Kappa (as famosas calças com molas laterais) aos blusões e corta-ventos coloridos vindos diretamente dos anos 80. As camisolas de futebol acabariam por bater-nos à porta, mais tarde ou mais cedo. De farda para os dias de jogo, as camisolas passaram a peça-chave do streetwear. Mas mais do que o emblema e as cores do seu clube favorito, a tendência obedece a regras. Entre as peças mais apetecíveis estão os equipamentos mais antigos, com especial predileção pelas décadas de 70 e 80.
Os próprios clubes não perderam tempo e voltaram a produzir antigos modelos para responder à febre nostálgica. Não é preciso ir muito longe, basta olhar para os exemplos portugueses. Nas lojas do Benfica, do Sporting e do Porto a viagem pela história dos equipamentos começa nos anos 60 e chega à década de 90 recuperando antigos materiais, desenhos e os patrocinadores de outros tempos. É que a logomania também anda a fazer as suas vítimas e recuperar velhos logótipos de empresas e marcas é uma maneira de combinar duas tendências numa única peça.
Fora do país, as equipas também já perceberam que as antigas camisolas ganharam valor de culto. A Juventus, clube de Cristiano Ronaldo, recuperou a camisola da época de 1952-53, altura em que era detentor do título de campeão italiano. De 1984 chega outra edição especial. Nesse ano, o clube de Turim ganhou pela primeira vez a Taça UEFA, numa final disputada com o Porto em Basileia, na Suíça. Do título ficou também o equipamento, um polo amarelo que se distingue das habituais riscas pretas e brancas. No Reino Unido, os clubes também já exploram esta brecha aberta pelo mundo da moda. Na loja online do Liverpool, a antiga camisola do guarda-redes Bruce Grobbelaar (usada entre 1989 e 1991) é um sucesso de vendas. A cor inesperada, verde alface, e o patrocínio da Candy, marca italiana de eletrodomésticos, tornam-na especialmente apetecível para adeptos saudosistas e não só.
Além das lojas oficiais dos clubes, há quem se dedique a caçar tesouros destes e a juntá-los em plataformas da especialidade. É o caso da Box2Box Football, uma loja online com dezenas de camisolas de todo o mundo. A maioria data da primeira década dos anos 2000, mas também é possível encontrar edições dos anos 90 do século passado. E quando dizemos todo o mundo, é porque há mesmo camisolas de todo o mundo. Do Japão, antigos equipamentos dos Kashima Antlers. Também há relíquias do futebol brasileiro, com o Flamengo, o Grêmio, o Fluminense e o Palmeiras a dominarem a oferta.
Sediada em Amesterdão, a Copa é uma marca que explora a estética dos antigos equipamentos de futebol. Além de juntar peças autênticas dos próprios clubes, a loja desenha e produz as suas próprias coleções inspiradas nas camisolas de outros tempos. Fora dos vendedores especializados, têm sido várias as marcas e designers e piscar o olho à tendência. É certo que os melhores visuais de street style envolvem sempre peças autênticas dos próprios clubes, o que não significa que nomes como a Versace e a Kenzo não se estejam a apropriar destes clássicos futebolísticos.
No último verão, a designer Christelle Kocher trouxe estas camisolas para a sua coleção e fê-las desfilar na Semana da Moda de Paris. Desconstruídas, deram origem a novas peças, entre elas vestidos e tops. No final do ano passado, marcas de luxo como a Balenciaga, a Gucci e a Comme des Garçons reinterpretaram as mesmas camisolas a propósito do mundial de futebol. Os poucos exemplares que sobraram ainda estão à venda.
Na fotogaleria, juntámos algumas sugestões. Dos grandes clubes europeus às passerelles internacionais, nunca as camisolas de futebol foram tão consensuais.